42091210229051065199.png O Axis Mundi: Introdução à Ciência Sagrada - Módulo II

Introdução à Ciência Sagrada - Módulo II

MÓDULO II

1
RECORDAÇÃO
 

Nos capítulos anteriores, o leitor teve oportunidade de ver como se articula este curso, onde as inter-relações das diferentes disciplinas da Tradição Hermética (Simbolismo, Alquimia, Filosofia, Astrologia, Numerologia, Cabala, Teurgia, etc.) têm um papel fundamental em nossos estudos. Na verdade, igualmente ao que acontece com a evolução de qualquer planta e seu desenvolvimento, o germe se encontra de maneira potencial nestas primeiras páginas, às quais o leitor tem de voltar constante e ciclicamente, ou seja com as características próprias de um rito. Não será demais advertir que a reiteração deste rito, o tempo que se lhe dedica e a concentração que se emprega nele, são diretamente proporcionais com o fruto que se obtém com isso. Às vezes parecemos dispostos a efetuar empresas heróicas, e no entanto não somos capazes, por fantasmas mentais, de realizar coisas singelas que precisam de uma atitude conseqüente e perseverante. Se o estudante é capaz de viver como objeto de seus experimentos, amparado na Doutrina e nas diferentes disciplinas que toma a Tradição para se manifestar, poderá obter satisfatórios resultados e benéficos dividendos, tanto físicos, como psicológicos e espirituais. Ainda deve ser dito que estas ciências e artes só podem ser usadas no mais alto nível, o que na Cabala seria Kether em Atsiluth ou ainda mais longe, se assim se pode dizer, ou seja, ao do supra-cósmico, (o que inclui, decerto, ao do "supra-microcósmico"). A meta das investigações é muito elevada e não se devem confundir os objetivos metafísicos com os fenômenos psicológicos que se poderão observar no caminho. Os propósitos da Ciência Sagrada são verdadeiramente profundos. A vida é coisa séria, apesar das imagens que o consumismo mental e a dessacralização do mundo poderiam fazer supor.
O Agartha constitui uma rede invisível de vontades, unidas por laços tão reais e indestrutíveis como os que unem à própria estrutura do Cosmo, considerada um modelo arquetípico de manifestação. Esta corrente de união transmite a mensagem da Philosophia Perennis, ou seja da Ciência Sagrada, que por atemporal foi conhecida por todos os povos da Antigüidade, cujos fragmentos ainda mantêm e conservam vivo ao próprio homem moderno (inclusive ao ocidental e ao habitante das grandes cidades) ainda que este o negue ou o desconheça, já que as raízes culturais das artes e das ciências derivam de Princípios metafísicos e de Idéias Eternas.


 
2
NOTA:
 

Seguramente são muitas as perguntas que você se fez na dinâmica de nosso curso. O I Ching ou "Livro das Mutações", livro de sabedoria e verdadeiro oráculo chinês, diz que o mais difícil é formular as perguntas das quais se quer obter resposta. Isto se deve em parte à multidão de interrogações que as pessoas se fazem em relação com os temas tradicionais e com tudo aquilo que se quereria saber de uma vez e para sempre. Desta forma, é exato que na pergunta está implícita a resposta. Igualmente é comprovável que se utilizamos o recurso da paciência, as respostas vão se produzindo por si mesmas, sem necessidade de forçar as situações. Já sabemos que a semente é a potencialidade da árvore e que esta pode crescer sã e vigorosa regando-a com constância e podando as maldades que possam impedir seu desenvolvimento.


 
3
CABALA
 

Não falamos ainda em nosso Programa de En Sof, (ainda que o tenhamos citado de passagem) pois nos interessava apresentar primeiro o modelo da Árvore da Vida e trabalhar com ele, para que o estudante se familiarizasse com sua estrutura e ao mesmo tempo jogasse com as diferentes relações a que dá lugar, o mesmo que com as letras e com outras imagens propriamente cabalísticas. Queremos recordar que este modelo da Árvore corresponde exatamente a Adam Kadmon, o homem total, e nos referimos primeiro a ele para tratar de entender certas proporções que nos levarão à idéia do que é En Sof para os cabalistas. Estamos falando de suas medidas, chamadas em hebraico Shiur Koma, pois a Cabala identifica a Adam Kadmon com o cosmos. A "altura dos calcanhares deste ser é de trinta milhões de parasangas", afirma-se laconicamente. Mas depois se explica que "uma parasangae do Criador tem três milhas, uma milha tem dez mil metros e um metro três empans, e um empan contém o mundo inteiro".
Sem dúvida estas medidas abarcam todas as possibilidades do Universo, quaisquer que estas sejam. No entanto a idéia de En Sof supera, se assim pode se dizer, todas estas possibilidades. Com relação ao diagrama da Árvore da Vida, modelo do Cosmo, e a localização de En Sof nele, remetemos o leitor ao Módulo I, N.º 18.
Como se verá, sua posição é supra-cósmica, chama-se-lhe o Antigo dos Antigos (Deus Ignotu). Não pode ser nem sequer imaginado pelo homem. Expressa-se através do cosmos, do homem celestial, do criador, que mal é um ponto residual de seu nada infinito. A palavra Ayin (Nada), utilizada às vezes pelos cabalistas e pelo Zohar como idêntica a En Sof, entranha uma idéia de vazio absoluto. Mas este nada e este vazio não são "algo" no sentido da expressão moderna, a saber: algo que possa ser percebido ou se expresse como uma negação de outra coisa. Na verdade, En Sof não é nada do que pudesse ser algo, tal a Majestade Imensurável desta doutrina cabalística. Pelo que as três primeiras sefiroth correspondem à Triunidade dos Princípios do Ser Universal, e portanto também as do ser individual. Correspondem-se com os princípios celestes que, por sua vez, geram os terrestres, tal qual no simbolismo construtivo a cúpula e a base do templo. Trata-se da natureza de Deus, se convém utilizar esta forma de dizer, que se sintetiza na Unidade, à qual Deus se assemelha. Estes estados são supra-individuais e estão assinalados no diagrama da Árvore da Vida como supra-cósmicos, já que estão por cima das sefiroth de "construção" (cósmica). No entanto, ainda se encontram determinados pela numeração que se lhes atribui, começando pela Unidade. Efetivamente, a Unidade é a síntese onde se pode encontrar a essência e o sentido da totalidade da Criação; mas ao mesmo tempo esta assunção do Si (chamado também Bem e Só) é, por sua vez, o único meio de passagem a outros "espaços", estes sim, autênticos e verdadeiramente supra-individuais e supra-cósmicos (metafísicos), claramente assinalados na Cabala com o nome de En Sof, equivalentes ao Não-Ser, dos quais não se fala, já que por definição são inefáveis. Também esta simbolização de uma sucessão de graus de Conhecimento se acha implícita na própria planta do edifício do Templo, por meio da porta, do labirinto, do altar e do sancta-sanctorum, que delimitam zonas simbólicas específicas que se articulam, do menor ao maior, no percurso iniciático que a construção propõe.


 
4
O NÍVEL E O PRUMO
 

O nível e o prumo ocupam um lugar eminente no momento de se pôr "mãos à obra" e de levantar os alicerces do labor construtivo. Com o nível se comprova que a base do edifício está completamente plana, evitando assim que possam existir desníveis e deformidades no terreno. Trata-se de que a obra se erga com sua base perfeitamente horizontal, e todas suas partes niveladas entre si, já que qualquer descuido neste sentido acabaria, tarde ou cedo, com o desabamento de toda a edificação. Por sua vez, o prumo desempenha um papel fundamental, pois graças a ele o edifício se eleva vertical e perpendicularmente. Desta forma, nível e prumo se relacionam com a horizontal (energia passiva) e com a vertical (energia ativa), e tudo o que já se disse de ambos os símbolos pode ser aplicado aos ensinos que derivam destes dois instrumentos. (ver Módulo I, N.º 34). A união do nível e do prumo configura por isso o símbolo da cruz, que resulta do cruzamento de um eixo vertical e de outro horizontal, os quais durante a construção do edifício vão criando sua estrutura.
No templo universal, que é o Cosmo visível, o extremo superior do eixo do prumo "cósmico" está situado na estrela polar (o zênite do Mundo), desde a qual, efetivamente, desce um eixo imaginário –mas não menos real– ao redor do qual gira todo o universo. No templo propriamente dito, esse prumo é o eixo perpendicular (representado, ou não, visivelmente) que cai da extremidade da "chave de abóbada" até o centro do retângulo da nave onde está situado o Altar ou Ara, a "pedra fundamental". É, pois, o prumo um símbolo do "Eixo do Mundo", aquele que, sustentado pela mão do Arquiteto construtor, atravessa os três mundos, o Céu, a Terra e o Inferno, ou Infra-mundo. No microcosmo sutil do homem também existe um eixo vertical (chamado sushumnâ na tradição indiana) que atravessa os diversos estados de consciência (simbolizados pelos chakras ou "rodas"), desde o inferior, situado simbolicamente na base da coluna vertebral, até o superior, localizado no topo da cabeça ou chave de abóbada craniana.
Isto está estreitamente relacionado com o próprio processo do Conhecimento e da Iniciação, pois esta trata, como já sabemos, de um recordar paulatino desses estados de consciência, análogos aos do Ser Universal. O prumo representa aqui o símbolo da busca da Verdade que penetra até as profundidades mais recônditas de nosso ser, com a ajuda naturalmente desse nível interno que nos obriga a uma total submissão à Vontade Superior que aflora em nós, e sem a qual toda tentativa de busca espiritual é uma quimera. "Se o Eterno não edifica a casa, em vão trabalham aqueles que a constroem". Ou bem, recordando a fórmula hermético-alquímica V.I.T.R.I.O.L., "Visita o Interior da Terra (de ti mesmo) e Retificando Encontrarás a Pedra Oculta".


 
5
IMAGENS E SÍMBOLOS
 

Existe uma natural e lógica relação entre imagem e símbolo. Quando se tratam de símbolos cujo marco de expressão é o espaço, como por exemplo os geométricos, arquitetônicos e iconográficos, sua vinculação com a imagem é óbvia. E quando se desenvolvem no tempo, como a música ritual e sagrada, a poesia e os relatos orais dos mitos, estes geram, simultaneamente a sua audição, imagens e visões simbólicas. E isso é assim porque, como dizia já Aristóteles, o homem conhece por meio de imagens, ou seja que sua natureza anímica e intelectual está especialmente capacitada para compreender através das representações simbólicas. Desta forma a linguagem sintética e universal das imagens simbólicas libera a psique da dualidade de toda dialética existencial, onde o puramente mental e cerebral prima sobre a verdadeira intuição intelectual que reside no coração, o que equivale a uma purificação regeneradora, cujo fim é nos devolver a pureza mental e a inocência virginal das origens; uma transmutação da consciência tal que harmonize perfeitamente com o ser do mundo e das coisas.
O homem tradicional vê também no universo, e em tudo o que lhe rodeia, uma exteriorização de si mesmo, uma imagem do mundo que habita em seu interior. Isto se deve a que ambos, Cosmo e homem, estão feitos de igual substância vivificada pelo mesmo Espírito. Esta certeza conduz a uma identificação com as forças invisíveis e as energias numinosas que animam a matéria, à que imprimem uma forma ou estrutura inteligível, que devirá o símbolo ou o signo dessas potências criadoras. Eis o erro moderno de considerar o mundo como algo plano e homogêneo, quando na verdade encerra dentro de si uma variedade inesgotável de possibilidades de ser que constantemente manifestam a realidade dos atributos divinos. De maneira velada ou evidente, tudo conserva a impressão do sagrado, pois como diz o Zohar: "o mundo subsiste pelo mistério".


 
6
O SÍMBOLO DA ESCADA
 

A escala ou a escada é, junto à árvore, um dos símbolos mais notórios do Eixo do Mundo, e também dos mais difundidos em todas as tradições. Ainda que mais adiante trataremos este importante símbolo com maior desenvolvimento, relacionando-o com o simbolismo de passagem, baste-nos por agora dizer que a escala está unida sobretudo à idéia de movimento de ascensão e descenso ao longo de dito Eixo, conectando a terra (e o infra-mundo) com o céu, e vice-versa, através dos diferentes níveis, mundos ou estados do ser que conformam o conjunto da manifestação universal, níveis representados pelos degraus horizontais que unem as duas traves laterais ou montantes verticais, os quais se correspondem de maneira evidente com as duas colunas laterais da Árvore Sefirótica, que pode ser visualizada desta forma como uma escala. Dessas colunas, uma deve considerar-se como ascendente e a outra como descendente, o que se realiza em torno ao eixo central ou pilar do equilíbrio, que é o autenticamente axial. Este último faz lembrar o símbolo da dupla espiral (presente na escada de "caracol"), exemplificação das duas correntes de energia cósmica que se enrolam ao redor do eixo central, tal e como podemos observar no Caduceu de Hermes-Mercúrio.
Tem de se adicionar que o número dos degraus é normalmente de sete, relacionados com os sete céus planetários, e também com as sete virtudes e as artes e ciências liberais, consideradas como os degraus que permitem subir de forma "gradual" (efetiva) pelos graus do Conhecimento. Neste sentido, recordaremos que entre os índios de América do Norte e outros povos arcaicos ainda vivos, a ascensão e descenso pelo eixo cósmico se realiza através da árvore ou poste ritual, ao longo do qual se encontram uma série de cisões que representam os diferentes mundos ou estados que têm de ser atravessados até atingir a cúspide ou sumidade, que por sua vez equivale ao "olho do domo" no simbolismo construtivo, por onde se produz a saída definitiva do Cosmo e a união com a Realidade transcendente.


 
7
O SÍMBOLO DA ESVÁSTICA
 

Entre as representações simbólicas do Centro do Mundo, a da esvástica tem que ser especialmente destacada, pois além de ser um equivalente do símbolo da cruz e da roda, e participar, portanto, de suas significações gerais, nela aparecem outras variantes que nos confirmarão na certeza de que os símbolos constituem autênticos veículos do Conhecimento.
Por se encontrar na arte de todos os povos tradicionais desde a mais remota Antigüidade, a esvástica é um dos símbolos que remetem diretamente à Tradição hiperbórea ou primordial. Ela é, efetivamente, uma cruz, só que a essa cruz se lhe adicionam quatro linhas em seus extremos, formando assim outros tantos ângulos retos ou esquadrias, de tal maneira que ditas linhas sugerem ou levam implícito o movimento de giro em torno a seu centro, gerando assim à circunferência. Agora bem, devido a que essa circunferência (que, recordemos, simboliza a manifestação universal) não está figurada de forma expressa na esvástica, esta, mais do que um símbolo do cosmos, aparece como um símbolo da ação vivificante que sobre ele exerce o Princípio, considerado como o autêntico "Motor imóvel". Efetivamente, o mais importante na esvástica é o ponto fixo, símbolo do Centro, o qual permanece inalterável e imutável, e no entanto é o que transmite sua energia à Roda Cósmica, gerando-a e dando a vida a todas as coisas, seres e mundos contidos nela, os quais depois de cumprir o desenvolvimento completo de todas suas possibilidades retornam novamente a ele. Como se vê, estas significações não têm absolutamente nenhuma relação com o uso político que se fez deste símbolo nos tempos modernos.
Adicionaremos que, aos quatro ângulos ou esquadrias da esvástica, também podemos observá-los nas quatro posições cardeais que a constelação da Ursa Maior descreve em seu ciclo diário em torno da estrela polar, a qual, devido à posição central que ocupa no céu –pois todos os corpos estelares rotacionam a seu redor– se considerou efetivamente como a morada simbólica do Princípio, também chamado a Grande Unidade em outras tradições. Em nosso modelo da Árvore Sefirótica, a estrela polar se corresponde com Kether, como já sabemos (ver capítulo N.º 18), e não deixa de ser interessante recordar a este respeito que no Zohar a Ursa Maior recebe o nome de Balança (também na antiga tradição Chinesa recebia este nome), adicionando que esta se acha "suspensa num lugar que não existe", o que equivale a dizer no imanifestado, que é onde reside verdadeiramente o equilíbrio e harmonia de toda a manifestação. Na tradição indiana, ademais, a esvástica aparece como um dos signos distintivos dos brahmanes, e de fato nessa mesma tradição se afirma que as sete estrelas que compõem aquela constelação representam a cada um dos sábios (chamados rishis) que transmitem o Conhecimento de um ciclo a outro da humanidade.


 
8
TARÔ
 

O Tarô, origem do jogo de naipes, é um oráculo, um livro sagrado escrito não em palavras senão em setenta e oito páginas ou lâminas desenhadas em cores, cada uma com suas múltiplas e precisas correspondências e profundos significados, que ao serem primeiro estudadas e depois "embaralhadas" ou colocadas de diferentes formas simbólicas, atuarão magicamente no interior do aprendiz, servindo como veículo despertador da consciência e computador da inteligência; ou seja, como suporte simbólico do conhecimento metafísico.
A cada carta se lhe denomina "arcano", já que conecta com um mistério, com uma força sobrenatural, com um arquétipo que se revela nela, tanto quanto em qualquer símbolo sagrado, permitindo assim que esta energia superior tome uma forma capaz de tocar os sentidos humanos e permitir que o homem, partindo dessa base sensível, possa elevar-se para o conhecimento do que está além do mundo material, e inclusive além do mundo psíquico, ou seja, os planos arquetípico e espiritual.
As setenta e oito lâminas do Tarô se dividem em três grupos da seguinte maneira: o primeiro grupo está constituído por quarenta cartas denominadas "os arcanos menores"; o segundo está composto de dezesseis lâminas chamadas "cartas da corte"; e o terceiro por vinte e duas ilustrações conhecidas como "os arcanos maiores". Costuma-se estudar em primeiro lugar estas últimas vinte e duas.


 
9
CABALA
 

Oferecemos a seguir as 22 letras do alfabeto hebraico para que o leitor vá se familiarizando com elas. Igualmente é demonstrado o valor numérico correspondente a cada letra. No hebraico antigo, as vogais não eram sinalizadas, nem pontuadas, como se faz no presente. Portanto, as palavras escritas só com consoantes podiam ser lidas de várias maneiras, ou com o auxílio de diferentes vogais, aumentando assim seu poder evocativo e semântico em múltiplas valorações e sentidos. As letras têm vinculações também com outros símbolos, muitos deles animais, e de diferente natureza e índole, o que se associa com o alfabeto, a palavra e a metafísica da linguagem.
 
Alef
Beth
Guimel
Daleth
Vav
Zayin
Heth
Teth
Iod
Kaf
2
3
4
5
6
7
8
9
10
20
 









Lamed
Mem
Nun
Samekh
Ayin
Fe
Tsade
Qof
Resh
Shin
Taw
30
40
50
60
70
80
90
100
200
300
400
 
Recomendamos que se copiem esmeradamente as letras do alfabeto hebraico. Desta maneira não só memorizaremos os nomes das letras, os signos alfabéticos, e suas valorações numéricas, senão que trabalharemos com símbolos sagrados carregados de Idéias e energias mágicas e teúrgicas.
Está claro que se conhecemos o valor esotérico das letras, suas conotações numéricas, e as transposições e permutas a que elas podem dar lugar no contexto das palavras e das orações, a leitura de qualquer texto sagrado –em particular A Bíblia– no qual o alfabeto hebraico se encontre presente, passará a ter outro sentido que o comum, literal e exotérico, e adquirirá um relevo e uma profundidade tanto mais rica quanto mais ampla. E é por estas associações e correspondências entre números e letras, e as relações a que dão lugar, que se produzem iluminações surpreendentes na raiz metafísica da linguagem humana, as quais são chamadas pela Cabala "centelhas divinas".
O Sefer Yetsirah, ou "Livro das Formações", é também conhecido pelo nome de "Livro da Criação", pois ali estão plasmadas as mais antigas concepções cosmogônicas judaicas, que serviram por gerações para fundamentar o pensamento metafísico e esotérico do misticismo hebreu e cristão (especialmente durante a Idade Média e o Renascimento) e da Cabala em particular. Nele se encontram especificamente assinaladas em forma de breve e apertada síntese, determinadas concepções cabalísticas que já fomos oferecendo ao longo desta Introdução, entre elas, a "doutrina" das dez sefiroth, como intermediárias entre o "Santo, bendito seja", e a Shekhinah (a imanente presença divina, da qual proximamente falaremos), e também a da Criação Universal através das vinte e duas letras do alfabeto hebraico, o que equivale a considerar ao Cosmo inteiro como escritura divina. Essas letras se subdividem em três grupos: as três mães, similares, como já vimos, a ar, água e fogo; as sete duplas ou redobradas, e as doze simples, identificadas posteriormente com os sete planetas e com os doze signos zodiacais, respectivamente.
Três letras mães: Alef, Mem e Shin.
Sete letras duplas (ou redobradas): Beth, Guimel, Daleth, Kaf, Fé, Resh e Taw.
Doze letras simples: Hé, Vav, Zayin, Heth, Teth, Yod, Lambei, Nun, Samekh, Ayin, Tsade e Qof.
Uma idéia nova é a da união das dez sefiroth, cifras, ou números, às vinte e duas letras do alfabeto hebraico, que conjuntamente constituem os trinta e dois caminhos da sabedoria.

10
ALGUNS EXERCÍCIOS PRÁTICOS:
 

Muitos dos exercícios aconselhados ao longo dos trabalhos herméticos são com o fim de se adquirir consciência, tanto de si mesmo, quanto da situação na qual se está envolvido. Os homens tendemos ao sonho e à modorra, por isso a necessidade de se velar e estarmos vigilantes. Trata-se, pois, do emprego de singelos despertadores, ou exercícios de tomada prolongada de consciência. Exemplo: trate de manter uma medalha ou moeda em seu punho fechado, tendo clara a idéia deste fato. Por quanto tempo pode você manter fixa a atenção? Exercite-se nesta prática tratando de elevar suas médias. Muitas vezes pensamos que somos capazes de grandes esforços quando em verdade não podemos levar a cabo coisas aparentemente pequenas. Trate de ir caminhando pelo mesma Senda à exata hora do dia (por exemplo, ponha o despertador às 7 horas da manhã) ao banheiro, durante um mês seguido. Muito dificilmente poderá efetuá-lo. A armadilha deste exercício está em que depois da quinta ou sexta vez que se realiza (ou da décima - quarta ou a décima - quinta) pode acreditar que é sumamente singelo e que não custará nada cumpri-lo. Assim, desta maneira, não o efetua. Este é o tipo de armadilha mental que nos impede de fazer um sem número de coisas e obstaculiza o processo liberador e criativo.


 
11
SIMBOLISMO VEGETAL  I
 

A vegetação, na indefinida variedade de suas espécies, formas, cores e fragrâncias, constitui um mundo inesgotável de significações simbólicas conhecidas por todos os povos desde a mais remota Antigüidade. Recordemos, neste sentido, que o Paraíso terrestre é descrito como um jardim ou um vergel, ao cuidado do qual estavam os primeiros homens. Por este motivo, a agricultura (a "cultura do agro") é considerada como o primeiro ofício nascido da sedentarização da humanidade, que dá lugar à aldeia e posteriormente à cidade em pedra e à civilização tal qual a conhecemos. Não esqueçamos que a palavra cultura deriva precisamente de “cultivo”, o que está relacionado evidentemente com o vegetal. A isto se deve, sem dúvida, o porquê do homem arcaico e tradicional ter incorporado o vegetal na descrição simbólica de sua cosmogonia e de sua visão sagrada do mundo. Efetivamente, nada há que expresse melhor o desdobramento da vida universal do que uma planta em seu pleno desenvolvimento, como por exemplo a árvore, que é também um dos símbolos naturais mais difundidos do Eixo do Mundo, e o que mais claramente alude à estrutura cósmica e seus diferentes planos ou graus de manifestação. Baste recordar a Árvore da Vida Sefirótica, semelhante, quanto a sua significação essencial, a outras muitas árvores sagradas pertencentes às mais diversas tradições de todos os tempos e lugares, como a ceiba [N.T.: Ceiba Pentandra Gaertin, árvore existente na América Central] entre os maias, o carvalho (ou encina [N.T.: Quercus ilex]) entre os celtas, a oliveira entre os povos mediterrâneos, a árvore Yggddrasil entre os escandinavos, a palmeira entre os antigos egípcios e os árabes, etc.
A mesma função simbólica desempenham determinadas flores, como o lótus nas tradições orientais e a rosa ou o lírio nas ocidentais. Todas elas são símbolos do Centro e do Mundo, e o abrir-se de suas pétalas expressa o desenvolvimento da manifestação a partir da Unidade primordial, por isso também que se as relacione com o simbolismo da "roda cósmica", estando o número de pétalas em correspondência com os radios ou raios que conectam o centro da roda com sua periferia. Não esqueçamos tampouco que as flores em geral estão vinculadas ao simbolismo da copa, e por conseguinte ao aspecto passivo e receptivo da manifestação, à pureza virginal da "quintessência", por exemplo quando se fala do "cálice" de uma flor.


 
12
SIMBOLISMO VEGETAL  II
 

Dos três reinos da natureza, o vegetal é quiçá o que está mais diretamente unido ao fluir dos ritmos e ciclos do Cosmo, refletidos na renovação periódica e anual das plantas, na regeneração da potência fértil e fecunda de sua seiva, propiciando desta maneira a alimentação e o sustento necessário a homens e animais. Mas o realmente importante é que esta relação está na própria base de muitos mitos e ritos agrários, cuja estrutura simbólica reproduz as leis universais de correspondência e analogia (ou seja, de harmonia) entre a ordem terrestre e a celeste, ou entre a ordem visível e a invisível, não sendo, em suma, o mundo vegetal, ou melhor ainda a natureza em seu conjunto, senão um símbolo vivo e sempre presente do sobrenatural e do transcendente. Por isso mesmo, a germinação, desenvolvimento, florescimento e doação dos frutos das plantas não deixa de ser um fato assombroso e verdadeiramente mágico e misterioso para quem vive imerso no sagrado, como era o caso dos habitantes das sociedades tradicionais, que viam nisso a ação combinada de forças telúricas e cósmicas personificadas nas deidades lunares e solares, terrestres (e infra-terrestres) umas e celestes as outras, recebendo a planta o influxo das energias passivas e ativas, femininas e masculinas do Cosmo através dos nutrientes substanciais da terra e da água, a vivificação do ar, e o calor e a luz procedentes do fogo solar. Daqui deriva a dupla natureza do vegetal, "asúrica" por sua vertente subterrânea e "dévica" por sua parte aérea e vertical (axial), termos estes pertencentes à tradição indiana, e que designam respectivamente às energias telúricas e celestes conciliadas no ato mesmo da criação da planta. Isto cobra um relevo especial nas chamadas "plantas sagradas", utilizadas nos ritos de iniciação aos mistérios, e cuja ingestão (bebida ou comida) põe ao ser em comunicação com seus estados inferiores e superiores, realizando a "viagem" pelos diferentes planos de manifestação, descendo e ascendendo pelo Eixo do Mundo.
Essas plantas seriam, pois, um suporte ou veículo de Conhecimento, e em muitas ocasiões a própria planta, ou seu fruto, considera-se como o objetivo a conseguir para aceder a dito Conhecimento, por isso a expressão "licor de imortalidade" ou "fruto de imortalidade" que recebem determinadas substâncias vegetais, como por exemplo o vinho ou ambrósia nas culturas greco-romana, hebraica, cristã e islâmica, semelhante ao soma ou amrita indiano, idêntico por sua vez ao haoma dos antigos iranianos, do que se diz que só podia recolher-se na "montanha sagrada" Alborj, equivalente ao Eixo do Mundo. Igualmente na Alquimia vegetal se fala do "elixir de longa vida", que se corresponde com a "pedra filosofal" na Alquimia mineral, sendo o elixir a essência própria da planta, como o vinho é a essência da videira, outra figura do Eixo do Mundo. Neste sentido, recordaremos que o vinho simboliza precisamente a doutrina esotérica e metafísica, ou seja o Conhecimento, e seguramente a isto alude a expressão o "espírito do vinho", ou aqua vitae (água da vida), ou "bebidas espirituosas", que ainda se conserva na linguagem popular de diversos lugares, ainda que seu sentido profundo já passe totalmente despercebido na maioria dos casos.
Também há que se mencionar o trigo (equivalente ao milho nas tradições pré-colombianas, ou ao arroz entre as extremo-orientais), e em conseqüência ao pão, que junto ao vinho constituem as duas espécies eucarísticas do Cristianismo, ou seja do corpo e do sangue, ou a substância e a essência reunidas no Verbo ou Homem Universal, arquétipo do iniciado, o que é comparado precisamente a uma planta, tal e como indica a palavra "neófito", que tanto significa "novo nascido" como "nova planta". Este é, desta forma, comparado a uma semente ou germe que tem de "morrer" no interior da terra para renascer ao mundo de cima e da luz, que é sua verdadeira origem pois, ao contrário do vegetal, o homem tem suas "raízes" no Céu, tal e qual nos relata Platão no Timeu quando diz que "o homem é uma planta celeste, o que significa que é como uma árvore invertida, cujas raízes tendem para o céu, e os ramos para baixo, para a terra".


 
13
ALQUIMIA
 

A ciência alquímica se expressa fundamentalmente por imagens gráficas e gravuras. O símbolo, às vezes parcialmente oculto na iconografia, manifesta-se assim de modo livre e sem comentários. O provérbio diz que "para o bom entendedor meia palavra basta". Continuando com o sistema didático de Agartha, onde se lhe presta bom atendimento ao ensino visual, o que coadjuva assim mesmo a aprender a Ver, oferecemos aqui algumas gravuras dos Adeptos à Arte da transmutação. Trata-se neste caso de signos dos quatro elementos (ver Módulo I, N.º 21), aos quais se agregam outros detalhes ornamentais diretamente referidos à Ciência dos Filósofos, ou Arte Real.

Los cuatro elementos alquímicos. J. D. Mylius. Philosophia Reformata
fig. 8


 
14
SIMBOLISMO ANIMAL  I
 

Os animais, além de expressar a parte instintiva e irracional da alma humana (os impulsos, desejos e emoções do anima), sempre ocuparam um lugar destacadíssimo na cosmogonia de todos os povos e culturas tradicionais, que unanimemente viram neles manifestações das forças cósmicas e divinas em sua ação sobre o mundo, constituindo-se em veículos e oráculos transmissores da realidade do numinoso e, portanto, em mensageiros ou intermediários entre o Espírito e o homem. Eles conformam, pois, um código simbólico de suma importância, uma linguagem através da qual o homem pôde e pode ler as chaves que lhe permitem compreender as leis e mistérios do universo e, por conseguinte, conhecer-se a si mesmo, pois sendo um microcosmo feito a imagem e semelhança do macrocosmo, contém dentro de si todas as formas, o que é possível pela posição central que ocupa em seu mundo, e que lhe foi designada pelo Criador. Neste sentido, os textos tradicionais afirmam que os primeiros homens tinham a potestade de pôr nomes a todos os seres e coisas, o que não seria tal se estes não formassem já parte de sua natureza integral. Por isso, a língua adâmica e primordial foi chamada a "língua dos pássaros", não sendo estes, efetivamente, senão os mensageiros das realidades superiores, o que guarda relação com a "languedoc" (d’oc), considerada na Idade Média e no sul de França como o jargão simbólico utilizado pelos alquimistas, construtores, trovadores e jograis para transmitir o Conhecimento. A "languedoc", ou a "língua dos pássaros", é verdadeiramente a linguagem dos símbolos.
Poderíamos dizer que os animais (sobretudo os selvagens), em certo modo conservam ainda a pureza virginal das origens: são o que são, e na espontaneidade de seus gestos participam, junto à natureza inteira, da harmonia e do rito perene da criação. Recordemos que em diversas culturas das hoje chamadas "primitivas" ou xamânicas é muito importante a figura do "animal iniciador", vinculado com a idéia de um "alter ego" animal no homem; ademais, em ditas culturas geralmente o ancestral mítico e civilizador é um animal, e sua dança, ou rito, criacional é a que se reitera e imita nas cerimônias de acesso ao sagrado. Conhecida é também a existência de certos animais "psicopompos" (por exemplo o cachorro e o cavalo) que guiam o defunto em sua viagem post-mortem, considerado análogo ao que tem de se realizar durante as provas pelo labirinto iniciático; sem esquecer que os "guardiões do umbral", cuja função é impedir, ou permitir aos que estão qualificados para isso, a entrada ao mundo invisível, aparecem revestidos com formas animalescas, em ocasiões com aparência monstruosa e "terrível". Tal é o caso, por exemplo, do Mákara e do Kala-Mukha indianos, ou do Tao-Tie chinês, que figuram ao Ser Supremo em seu aspecto de animal monstruoso, cujas fauces abertas podem ser, efetivamente, tanto as "fauces da Morte" como a "porta da Libertação". A Esfinge, e concretamente a Esfinge egípcia com cabeça de homem e corpo de leão, teria também o mesmo sentido de "guardião do umbral".


 
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SIMBOLISMO ANIMAL  II
 

É importante ademais destacar que quase todas as divindades zodiacais, não importa de que tradição, estão representadas com formas de animais, e recordaremos novamente que a palavra Zodíaco não quer dizer senão "roda dos animais", ou "roda da vida", o que está obviamente unido à idéia de movimento e de geração surgida do Ser universal, ou melhor, de sua energia criadora, que permanentemente se recria a si mesma, neste caso através das indefinidas formas animais. Isto concorda perfeitamente com a idéia, muito difundida entre as civilizações pré-colombianas de que o Cosmo, isto é a Vida universal, é um animal gigantesco, do qual todos fazemos parte integrante (tal é o caso também da serpente alquímica Ouroboros), e isso explicaria o porquê entre ditas culturas a Deidade criadora estar em bastantes ocasiões representada como um animal (como ocorre na tradição indiana, com o deus com forma de elefante Ganesha), ou bem caracterizada com as partes mais significativas de um animal, geralmente a cabeça, como é o caso, por exemplo, dos deuses assírio-babilônicos e do antigo Egito. Nas tradições Centro-americanas o deus Quetzalcoátl quer dizer "pássaro-serpente", ou "serpente emplumada", conjugando em sua natureza as energias aéreas que tendem para o céu (o vertical), e aquelas que reptan e se movem pela terra (o horizontal). A águia e a serpente são, efetivamente, os dois animais que melhor representam esse antagonismo e complementaridade entre o celeste urânico e o terrestre ctónico e telúrico.
Por outro lado, junto com o cordeiro, o pelicano e o peixe, a águia e a serpente são os animais-símbolos mais representativos de Cristo, conquanto isto teria que se estender a quase todos eles (inclusive os fabulosos), como o demonstra o riquíssimo bestiário de Cristo (dentro do qual se inclui o Tetramorfos), tão amplamente desenvolvido na arte da Idade Média. Dito bestiário compreende praticamente todas as espécies repartidas em quatro grandes grupos, em correspondência com os quatro elementos: os répteis à terra, os peixes e anfíbios à água, as aves ao ar, e os mamíferos ao fogo, sendo o mesmo Cristo (o Filho do Homem) o elemento central, ou "quintessência", pois dele emanam, enquanto expressões dos atributos de seu Verbo ou Logos criador.


 
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NOTA:
 

Já observamos que a cultura (cuja raiz, e origem, é sagrada), é uma intermediária entre o homem e a Deidade. E é desde este ponto de vista e não desde a vaidade erudita, o enciclopedismo agrilhoador, ou a literalidade mnemônica, que ela é iluminadora e um veículo especialmente apto para o Conhecimento. Sem a essência da Cultura, que é o autêntico saber, todo o resto do enfeitado aparelho cultural é só letra morta. Igualmente isto é válido para os ritos, que às vezes são confundidos com determinadas "cerimônias", totalmente vazias de conteúdo. Isto é assim também para os exercícios, tanto intelectuais como físicos, que Agartha promove.


 
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A COROA
 

Numa primeira leitura, a coroa simboliza as virtudes mais elevadas que existem no homem, eis o motivo de cingi-la sobre a cabeça, a "cúspide" do microcosmo humano, isto é, naquela parte do mesmo que se corresponde com o Céu, cuja forma circular a coroa reproduz. Mas, precisamente por isso, a coroa também expressa o que está por "cima" ou "além" do Cosmo e do homem: a realidade do divino e do transcendente. Poder-se-ia dizer que no significado da coroa coincidem, pois, as qualidades mais nobres e superiores do ser humano e, ao mesmo tempo, aquilo que as transcende por constituir o arquétipo das mesmas. No caminho do Conhecimento, ou via iniciática, ditas qualidades se vão desenvolvendo depois de um longo processo de transmutação alquímica, durante o qual o aspirante a ele vai tomando gradualmente consciência da sacralidade de sua existência, ou de sua realidade no universal, até se identificar plenamente com esta.
Essa identificação se visualiza muitas vezes como a "conquista" de um estado espiritual (ou supra-individual), que é o que, efetivamente, "coroa" a realização de dito processo, ou seja, "legitima-o" (ou o faz verdadeiro e certo, que é o que esta palavra significa realmente), investindo a quem o complementa de uma autoridade que emana diretamente do próprio poder de Deus, o Rei Supremo, ou Rei do Mundo. Este é o sentido que tinham na Antigüidade os ritos de coroamento dos reis, os chefes de um povo ou de uma comunidade tradicional, que eram tais porque antes tinham chegado a ser os reis e chefes de si mesmos, governando de acordo com a Vontade do Céu, à qual representavam ante seus súditos. O verdadeiro coroamento (que é uma "consagração" ou assunção plena do sagrado) ocorre no mais secreto, no coração, onde se estabelece a "aliança" que sela a união com a Deidade, sendo então a coroa um signo externo e distintivo que confirma a posse da autêntica realeza interior.
Por outro lado, não podemos deixar de mencionar as estreitas vinculações que se dão entre a coroa e os cornos, os quais também se cingiam sobre a cabeça, e simbolizam exatamente o mesmo que aquela. Os cornos são um atributo da potência do Espírito que "desce" à natureza do homem, ao qual fecunda e transfigura integrando-o na entidade superior, que é seu verdadeiro Si Mesmo. Igualmente, é evidente a relação que existe entre os cornos e o raio, e desta forma com o relâmpago, e recordaremos, a este respeito, que as coroas mais antigas estavam enfeitadas de pontas que se assemelhavam aos raios luminosos. O mesmo poderia se dizer da coroa de espinhos que portava o Cristo Rei durante sua Paixão. Com tudo isso, busca-se destacar o aspecto solar destes símbolos, que também aparece na coroa de louros (símbolo eminentemente solar) levada pelos imperadores romanos e com a qual eram coroados os heróis, mas sem esquecer que dito aspecto se complementa com o simbolismo polar, que é o mais primordial.
Efetivamente, ambas as palavras, coroa e cornos, procedem de idêntica raiz lingüística, KRN, a mesma de Kronos, ou Cronos, que é o nome grego de Saturno, a mais alta e elevada das esferas planetárias e considerado como o rei da Idade de Ouro. Também a achamos em Karneíos, que era um dos nomes que recebia entre os gregos o Apolo hiperbóreo (Apollón Karneíos), o deus do "alto lugar" (Karn), sendo esse lugar a própria cúspide da Montanha sagrada do Pólo (o Eixo do Mundo), sede da Tradição e da humanidade primigênia. Aparece deste modo na palavra crânio, que é, efetivamente, a parte mais elevada da coluna –ou eixo– vertebral. Sendo o crânio um símbolo da abóbada celeste, seu extremo superior equivaleria então à Estrela polar, chamada o "ápice" do Céu porque ela "coroa" todo nosso universo visível, e além disso é considerada em todas as tradições como o lugar por onde simbolicamente se acede aos estados superiores do ser, essencialmente supra-cósmicos e metafísicos. Recordemos, neste sentido, que Kether, a Unidade, significa precisamente a "Coroa", cingida pelo Adam Kadmon ou "Homem Universal".
Esta idéia do supra-cósmico é a que representa também o Sahasrâra chakra na tradição indiana e budista. Todo este simbolismo polar e axial convém perfeitamente ao da diadema papal (de origem muito remota), que é uma coroa de três andares sobrepostos, e cuja parte superior aparece arrematada por uma cruz, outra figura do Eixo do Mundo (ver por exemplo o arcano V do Tarô). Se a coroa propriamente dita é o símbolo da autoridade temporal exercida pelo rei (o guerreiro), a diadema simboliza a autoridade espiritual assumida pelo sumo pontífice ou sacerdote, que na Antigüidade tradicional ocupava a cúspide da hierarquia iniciática, exercendo sua função sobre os três mundos, ou seja, sobre o conjunto da Existência manifestada, tal qual o Deus Hermes Trismegisto. Ele era, é, a ponte ou eixo que comunica a Terra com o Céu, e o Céu com a Terra, o que transmite as bênçãos ou as influências espirituais e o que possui íntegros a Doutrina e o Ensino tradicional. Isto explicaria o porquê de, durante a Idade Média ocidental, os reis serem coroados pela autoridade espiritual, reconhecendo-se assim a superioridade do metafísico sobre o temporal, do divino sobre o humano.


 
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O MENOR É O MAIS PODEROSO
 

Na via de realização pessoal que este manual propõe, a afirmação do título nos indica pôr especial atendimento a tudo aquilo que passa despercebido, mas que no entanto tem uma enorme importância quando se trata de conhecer a causa e a origem das coisas. Numerosas expressões tradicionais fincam pé na superioridade do poder do pequeno, sutil e invisível, sobre o visível, grosseiro e grande. "Semelhante é o Reino dos Céus a um grão de mostarda, que tomando-o um homem o semeou em seu campo (em si mesmo), o qual é a menor de todas as sementes, mas quando se desenvolveu é maior de todas as hortaliças e se faz uma árvore, de maneira que vêm as aves do céu (símbolo dos estados superiores) e aninham em seus ramos" (Mateus, XIII, 31-32).
Igualmente todos nossos gestos, o que somos e seremos, estavam já contidos, em potência, na célula seminal que nos engendrou e nos deu a vida. Estas proporções entre o pequeno e o grande não são só quantitativas, senão qualitativas, e obedecem às leis da analogia, que nos faz conhecer a idéia do Todo por uma de suas partes. Mas aqui falamos melhor das relações hierárquicas entre o Princípio e sua manifestação, que aparecem invertidas quando passamos da ordem celeste, ou espiritual, ao terrestre ou corporal, tendo sempre presente que o primeiro é causa do segundo. O maior no Céu é o menor na Terra, e o maior na Terra é o menor no Céu.
O Cosmo é o desdobramento do "Ovo do Mundo", que alberga os germes de tudo o que existe e se manifesta ciclicamente. Desta forma, o Espírito, quando se quer dar a conhecer, não o faz através do pomposo e cerimonial, nem de nada que venha do exterior, senão que o realiza por meio do silêncio interno e do inominável, como uma força que brota do mais profundo e se expande por todo nosso ser, alumiando-o interiormente e ordenando-o conforme a seu arquétipo eterno. O verdadeiramente universal, o supremo, não tem dimensões, nem está sujeito a nenhum tipo de lei terrestre e humana. Aninha oculto e secreto no coração dos seres, que sem ele careceriam de toda realidade, da mesma forma que a circunferência não existiria sem o ponto, nem a série numérica sem a Unidade aritmética. Assim, quanto mais identificados estejamos com as coisas "deste mundo" menos participaremos da comunhão salvífica no Ser. "Faz que teu 'eu' seja menor e limita teus desejos". "Renuncia ao conhecimento (quantitativo e profano) e não sofrerás" (Tao Te King, XIX). "Os últimos serão os primeiros e os primeiros os últimos" (Mateus XX, 16). "O menor entre todos vocês, esse será o maior" (Lucas, IX, 48). "Se algum quer ser o primeiro, que seja o último de todos e o servidor de todos" (Marcos, IX, 35).


 
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TARÔ
 

Logo a seguir, oferecemos alguns significados sintéticos dos vinte e dois Arcanos Maiores.
É importante não esquecer, ao estudar as cartas e trabalhar com elas, o que dissemos sobre as disciplinas relacionadas com o Tarô. Estas lâminas têm relação com as sefiroth da Árvore da Vida e as letras do alfabeto hebraico, bem como com os planetas, metais e signos zodiacais, etc. Recordemos também constantemente seus vínculos com o simbolismo das cores e especialmente com o significado dos números. Se conseguirmos estabelecer estas relações de modo adequado, veremos que cada arcano é um mundo, e observaremos que nossa inteligência se acorda e o ângulo da visão se abre.
Toca ao interessado ampliar, com a informação que tenha a seu alcance, os significados das cartas. O conhecimento de cada uma delas pode se aprofundar a níveis insuspeitados.
Permita que estas lhe falem de um modo mágico e as verá atuar em seu interior como veículos iniciáticos e adequados transmissores de um Conhecimento Vivo e de uma Tradição Primordial, com os quais você poderá se unir desta maneira.


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TARÔ
 

Tarô - O Mago

I — O MAGO: É a primeira carta do Tarô; simboliza o Homem Verdadeiro cuja missão é conseguir a união do espírito e da matéria. Com sua mão esquerda sustenta uma varinha mágica que aponta para o céu, e com a direita uma moeda de ouro, símbolo da terra, na qual seus pés se encontram bem plantados. A inversão das cores azul e vermelha de suas roupas assinala o equilíbrio dos opostos; e este personagem empreende a obra alquímica trabalhando com 3 princípios e 4 elementos (simbolizados nas 3 pernas e nos 4 ângulos da mesa) para o qual se mantém permanente-mente alerta. Para ele, sempre, hoje é o primeiro e o último dia da criação, à qual se soma, cooperando com o Criador. O sentido mais elevado da carta é determinado pelo seu número, que indica o motor imóvel, o Princípio de todas as coisas; ainda que seu chapéu em forma de “oito deitado” [N.T.: lemniscata] seja o signo do movimento contínuo.
DIREITA
INVERTIDA
Princípio – Começo
Sutileza - Maleabilidade
Inteligência desperta - Rapidez
Despertar da consciência
Vigília - Estado de alerta
Movimento - Atividade - Brilho
Espontaneidade - Habilidade
Boas empresas - Agilidade

Inércia - Quietude – Passividade
Imobilidade - Auto-engano
Ausência de interesse - Torpeza
Falta de atenção - Divagação
Preguiça - Negligência - Inconveniência
Charlatanice - Brutalidade
Estelionatário - Enganador - Sonho
Politicagem - Irresponsabilidade


 
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A CIDADE CELESTE  I
 

À mentalidade moderna resulta virtualmente impossível conceber a idéia de uma Cidade celeste, em contraste com a mentalidade, plenamente sacralizada, dos povos antigos e tradicionais, que não só creditavam sua existência, mas também além disso viam nela a origem de sua cultura e civilização, como muito bem o explicam as crônicas e textos sagrados que nos legaram, nos quais se diz que dita cidade é a morada onde habitam os deuses e os antepassados míticos, o que expressa deste modo a idéia de uma genealogia espiritual, Por isso os nomes de "Terra dos Vivos", ou "Terra dos Imortais" ou "Terra dos Bem-aventurados", como também se designa à Cidade do Céu. Recordemos, neste sentido, que as cidades tradicionais, sempre se construíram conforme ao modelo dessa Cidade mítica, quer dizer, como a projeção no tempo e no espaço do mundo das Idéias e dos Arquétipos, como é o caso de Teotihuacan (a "Cidade dos Deuses") dos antigos toltecas mexicanos, ou de Jerusalém, chamada a "Cidade da Paz", que representa a Jerusalém celeste descrita pelo profeta Ezequiel e posteriormente por João no livro do Apocalipse. O Ming-tang chinês, cujo nome significa "Templo da Luz", reproduz igualmente a estrutura arquetípica da Cidade celeste, denominada na tradição extremo-oriental a "Cidade dos Salgueiros", habitada pelos "Imortais".
Em geral, essa estrutura está presente em todos os centros espirituais destinados a serem símbolos da manifestação do Céu na Terra, e portanto da conjugação e íntima união entre ambos, até tal ponto que não existe diferença alguma que os separe. Convém recordar também que muitas vezes era um país ou região inteira a que se considerava a imagem mesma do Céu, como é o caso da antiga China, chamada precisamente de "Celeste Império", ou o Egito faraônico, que era assimilado a um coração, símbolo também do Céu, como nos diz Plutarco em seu livro Ísis e Osiris: "Os egípcios figuram o Céu, que não pode envelhecer porque é eterno, por um coração", e o mesmo afirma Hermes Trismegisto no Corpus Hermeticum: "Ignora, Oh, você, Asclépio, que o Egito é a imagem do Céu e a projeção neste mundo de todo o ordenamento das coisas celestes? Para falar a verdade, nossa terra é o templo do mundo inteiro".


 
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A CIDADE CELESTE  II
 

Também é importante advertir que a fundação das cidades, com seus templos e santuários, era um símbolo que expressava a constituição ou consolidação de uma doutrina tradicional, convertendo-se assim a cidade terrestre na própria expressão dos princípios cosmogônicos e metafísicos revelados por tal doutrina, pois esta sempre foi considerada como a emanação direta da Doutrina do céu, que não é outra que a própria Sabedoria Perene, Lei Eterna, ou Sanatana Dharma, contida na Tradição Primitiva, ou o que é o mesmo, no Centro Supremo. Este, embora em um princípio era acessível a todos os homens, tornou-se, por razões de ordem cíclica, oculto e inacessível para a grande maioria, Por isso que seja através da compreensão do sentido profundo e essencial do Ensino como se pode realmente estabelecer a comunicação com tal Centro, quer dizer, quando a "intenção" e a vontade de todo o ser se oriente para o Conhecimento, e se identifique e seja um com ele, promovendo assim uma verdadeira transformação interior casada com a realização de todas as possibilidades contidas no estado humano, à luz de cuja plenitude todas as coisas aparecem reintegradas na Unidade do Si mesmo, o qual está em relação com a frase evangélica: "Procurem e encontrarão, peçam e serão saciados, chamem e se lhes abrirá". A essa transformação (precedida por numerosas mortes e nascimentos) refere-se a expressão hermética que sintetiza a consumação da Grande Obra: "espiritualizar os corpos e corporificar os espíritos", ou "espiritualizar a matéria e materializar o espírito", como se diz nas primeiras páginas deste Programa.
O centro do estado humano está representado precisamente pelo coração, onde, efetivamente, todas as tradições situam a morada simbólica da Cidade celeste, ou Cidade divina (em sânscrito Brahma-pura), que é o Reino dos céus (identificado com a Cristianópolis ou o Templo do Santo Espírito, "que está em todas partes", do hermetismo Rosa-Cruz), do que se diz que não virá ostensivamente, "Nem poderá dizer-se: hei-lo ali, hei-lo aqui, porque o Reino de Deus está dentro de vós", Lucas, XVII, 21. É também a Jerusalém Celeste como dissemos, cujo advento supõe a abolição da condição temporária, e portanto a restauração do estado primitivo e do sentido da eternidade ou "presente eterno". Em conseqüência, poderia então se afirmar que a Cidade celeste é a possibilidade permanente de viver a realidade em si mesmo, sem reflexos duais, como foi, é e será sempre, constituindo o ponto de referência vertical que dá sentido e plenitude à totalidade de nossa existência, que se reconhece no universal, conduzindo-nos da periferia ao centro através do Eixo que comunica a Terra com a Pátria celeste, que é nossa origem e destino final: "Eis aqui o Tabernáculo de Deus entre os homens, e erigirá seu Tabernáculo entre eles, e eles serão seu povo e o mesmo Deus será com eles", Apocalipse, XXI, 3-4.


 
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O COMPASSO E O ESQUADRO
 

Ao falar da Arquitetura (Módulo I, N.º 73) indicamos a importância que tem a forma do cosmo físico como modelo no qual se inspiravam os antigos construtores para a edificação dos recintos sagrados e das moradias humanas. E entre os principais instrumentos utilizados para tal fim destacamos o compasso e o esquadro. Ambos são os símbolos respectivos do Céu e da Terra, e assim os contempla em diversas tradições, ou mais precisamente, iniciações, como o Hermetismo, a Maçonaria e o Taoísmo. O círculo ao qual desenha o compasso, ou seu substituto a corda, simboliza o Céu, porque este efetivamente tem forma circular ou abobadada, qualquer que seja o lugar terrestre de onde o observe. Por sua vez, o quadrado (ou retângulo), que traça o esquadro, simboliza a Terra, quadratura que lhe vem dada, entre outras coisas, pela "fixação" no espaço terrestre dos quatro pontos cardeais assinalados pelo sol em seu percurso diário. Além disso, a Terra sempre foi considerada como o símbolo da estabilidade, e a figura geométrica que melhor lhe corresponde é precisamente o quadrado, ou o cubo na tridimensionalidade.
Para a Ciência Sagrada, o compasso designa a primeira ação ordenadora do Espírito no seio da Matéria caótica e amorfa do Mundo, estabelecendo assim os limites arquetípicos deste, quer dizer, criando um espaço "vazio", apto para ser fecundado pelo Verbo Iluminador ou Fiat Lux. Na Gênese bíblica, a separação das "Águas Superioras" (os Céus) das "Águas Inferiores" (a Terra) deu nascimento ao cosmo, cuja primeira expressão foi a criação do Paraíso, que como se sabe tinha forma circular. A este respeito se diz nos textos hindus: "Com seu raio (rádio) mediu os limites do Céu e da Terra", e nos Provérbios de Salomão, pela voz da Sabedoria se diz: "quando (o Senhor) riscou um círculo sobre a face do abismo...". Igualmente em um quadro do pintor e poeta inglês William Blake, vê-se o "Ancião dos Dias" (o Arquiteto do Mundo) com um compasso na mão desenhando um círculo.

O compasso é pois um instrumento que serve para determinar a figura mais perfeita de todas, imagem sensível da Realidade Celeste, que é precisamente o que está simbolizando a cúpula ou abóbada do Templo. O compasso é o emblema da Inteligência divina, do "Olho de Deus" que reside simbolicamente no interior do coração do homem, a luz do intelecto superior que dissipa as trevas da ignorância e nos permite acessar o interior do sagrado. Por isso mesmo, o conhecimento da "ciência do compasso" implica uma penetração nos arcanos mais secretos e profundos do Ser. Entretanto, o conhecimento plenamente efetivo desses mistérios seria tal a culminação, se assim pode se dizer, do próprio processo da Iniciação.
Mas no momento de pôr "mãos à obra", a casa não se começa pelo telhado. O trabalho começa por baixo, em definitivo pelos alicerces, pelo conhecimento das coisas terrestres e humanas. Aqui entra em função a "ciência do esquadro", tão necessária para riscar com ordem e juízo os planos de base do edifício e seu posterior levantamento, dando-lhe a estabilidade e comprovando o perfeito talhado das pedras que servirão de suporte e fundamento à abóbada, teto ou parte superior.
No trabalho interno é imprescindível, para que este siga um processo regular e ordenado, "enquadrar" todos nossos atos e pensamentos na via assinalada pela Tradição e pelo Ensino, separando o sutil do grosseiro. É isto precisamente o que assinala o Tao-Te-King: "Graças a um conhecimento convenientemente enquadrado, caminhamos sem dificuldades pela grande Via". Recordaremos, neste sentido, que em latim esquadro também se diz "norma", que é também uma das traduções da palavra sânscrita dharma, a Lei ou Norma Universal pela que são regidos todos os seres e o conjunto da manifestação cósmica. Poderíamos então dizer que o esquadro é o compasso terrestre, posto que não é mais que a aplicação na terra e no humano dos princípios e idéias simbolizados pelo compasso.
Por outro lado, esta união do círculo celeste e do quadrado (ou cruz) terrestre, está em relação com o enigma hermético da "quadratura do círculo" e a "circulatura do quadrante", que sintetiza os mistérios completos da cosmogonia. Efetivamente, na "ciência do compasso" e na "ciência do esquadro" estão contidos a totalidade dos "pequenos mistérios", cujo percurso é, em primeiro lugar, horizontal (terrestre), e posteriormente vertical (celeste). Com tudo isto, queremos indicar que na realidade existe uma aplicação filosófica da Geometria, que poderíamos denominar a "Geometria Filosofal", que era perfeitamente conhecida pelos construtores medievais, os companheiros e maçons operativos, como por todos aqueles que se dedicaram à Arquitetura ou ordem do cosmo como meio de elevar-se ao conhecimento do que o ponto primitivo simboliza. Sem fatuidade, Platão fez pôr sobre o frontispício de sua escola: "Que ninguém entre aqui se não for geômetra", indicando assim que seus ensinos só podiam ser compreendidos por quem conhecia o aspecto qualitativo e esotérico da geometria.
Desde outro ponto de vista, o trabalho com o compasso e com o esquadro sintetiza igualmente todo o processo alquímico da consciência, do que a edificação e construção não são mais que símbolos. Por isso que em alguns emblemas hermético-alquímicos se vê o Rebis, ou Andrógino primitivo, sustentando em suas mãos o compasso e o esquadro, quer dizer, reunindo na natureza humana as virtudes e qualidades do Céu e da Terra, harmonizando-as em uma unidade indissolúvel.


 
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CABALA
 

Já sabemos que as letras hebraicas, como as de qualquer língua sagrada, são simbólicas, e como tal temos que as considerar em nossos estudos e meditações. Efetivamente, tais letras têm uma forma ideogramática, quer dizer que expressam idéias e princípios, intimamente relacionados com os números e as figuras geométricas. Ao mesmo tempo, essas letras são sons invertebrados de um Verbo único, as quais em suas múltiplas combinações geram a totalidade da linguagem, ou seja, do que pode ser expresso, pois o inexprimível pertence ao puramente metafísico e imanifestado.
Este é o caso da letra Iod (ou Yod), que constitui a primeira do Tetragramaton, YHVH, o Nome Divino inefável. Essa primazia está indicada por sua própria pequenez, que evoca um ponto, ou um germe, simbolizando assim a essência indivisível, oculta e secreta da divindade. Esta última a põe em relação direta com o centro geométrico e, é obvio, com a unidade aritmética, símbolos também do Princípio imanifestado. Do mesmo modo, temos que o valor numérico da Iod é dez, o qual expressa a totalidade dos aspectos criados, simbolizados pelas dez sefiroth e pelos dez dedos das mãos, totalidade que está compreendida dentro da própria unidade, pois 10 = 1 + 0 = 1. Por outro lado se diz que a letra Alef (que é a primeira do alfabeto), está composta de quatro Iod, estando então relacionada com o número 40, que por sua vez se reduz de novo à unidade, pois 40 = 4 + 0 = 4, e 4 = 1 + 2 + 3 + 4 = 10 = 1 + 0 = 1. Tudo isto mostra as vinculações que existem entre o denário e o quaternário, o primeiro simbolizando o desenvolvimento completo da manifestação, enquanto que o segundo expressa o vínculo que une essa manifestação a seu princípio, e vice-versa. Isto é o que justamente simboliza a cruz inscrita na circunferência. Esta mesma figura representa também os quatro rios do Pardés (ou Paraíso), que emanam do centro da Árvore da Vida, distribuindo a unidade a todos os limites da criação.
Por outro lado, é indubitável a importância que o número 40 tem na Cabala, pois representa as dez sefiroth nos quatro planos do Árvore. Mas também, tal número está relacionado com os quarenta anos que passou Moisés no deserto antes de que o povo do Israel penetrasse na terra prometida. Número que é também o de um ciclo simbólico atemporal pois, estando todos os planos de existência unidos entre si, também têm uma expressão cronológica. Por último, assinalar que para os antigos cabalistas o homem começava a compreender os mistérios a partir dos quarenta anos, idade que indica a maturidade necessária para compreender as mais profundas e secretas verdades.


 
25
NOTA:
 

Ainda que pese o processo de dessacralização do mundo moderno, a força do mito segue presente. Como já se indicou, uma prova disso são os diferentes folclores, lendas e contos que sobrevivem na alma popular, e que conservam o rastro dos mitos e símbolos sagrados e iniciáticos, embora é certo que com freqüência estes apareçam degradados e com fortes doses de superstição. Porém, também é verdade, que se não fora por essa sobrevivência, ser-nos-ia virtualmente impossível ter conhecimento algum de muitos desses mitos e símbolos, pois se teriam perdido para sempre. No simbolismo astrológico, esta memória se vincula à esfera da Lua –e a sefirah Yesod–, que na estrutura sutil do cosmo cumpre uma função conservadora e receptora onde estão "depositados", em estado latente e potencial, os "gérmens" sutis do ser individual. Uma vez despertadas as possibilidades superiores contidas nesses germens, seguirá um desenvolvimento gradual e ordenado cuja plenitude coincidirá com o nascimento de um homem novo e completamente regenerado, o que equivale ao renascimento espiritual.
Que o homem não pode prescindir dos mitos, pode-se ver hoje em dia na grande quantidade de “comics”, novelas e filmes, aonde as histórias de heróis justiceiros que lutam contra ladrões e assassinos estão perpetuando o combate das potências luminosas contra as das trevas. O mesmo se pode dizer do mito do amor (união dos princípios aparentemente antagônicos, mas complementares, simbolizados pelo homem e a mulher) que é possivelmente o que com mais força se perpetuou e o que nutre a maior parte dos filmes e canções modernas populares. E isto é claro indício de que a energia da deusa do Amor e da Beleza, Vênus, não se extinguiu, mas sim continua plenamente vigente e cheia de vitalidade na alma dos homens, como não poderia deixar de ser, já que se trata de uma energia imortal.


 
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TARÔ
 

Tarô - A Sacerdotisa

II — A SACERDOTISA: É a Sabedoria oculta detrás dos véus das aparências. Sentada como eixo central entre as duas colunas do Templo, desentranha as profundi-dades das coisas graças à intuição superior e ao intelecto puro, que são os olhos com os quais lê no Livro da Vida. Ela nos ensina a olhar no interior de nós mesmos, a guardar silêncio quando se faz necessário calar, a penetrar as formas procurando sempre a essência dos seres, e a conhecer a Fé. Não as crenças dogmáticas que só se impõem aos cegos, mas sim, melhor, aquela certeza que conhece quem tenha sido tocado pela experiência espiritual, e que se guarda em segredo como um precioso tesouro. É a “Ísis com Véu” dos egípcios, que se encontra coroada como rainha misteriosa, cujo coração só pode abrir a chave do Conhecimento, ao que chegaremos através do olhar interno que propicia o trabalho iniciático.
DIREITA
INVERTIDA
Sabedoria – Intuição
Conhecimento - Intelecto puro
Interioridade - O invisível, esotérico
e secreto - Oração - Concentração
Silêncio - Excelente aptidão
Campo fértil – Recolhimento
O oculto, misterioso – Meditação
Receptividade - Olhar interno
Autoconhecimento

Ignorância - Cegueira – Idéias
fixas - Obscuridão – Egoísmo
Miopia - Fixação - Obsessão
Obcecação - Pessoa ou coisa
fechada - Rigidez - Cabeça
dura - Surdez - Estupidez
Obstinação - Constipação
Infertilidade - Egocentrismo
Teimosia


 
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MITOLOGIA
 

Os diversos significados dos mitos –assim como os dos símbolos– não se contradizem, embora se sobreponham, ou dito de outro modo: estes significados são multifacetados e se referem tanto a distintos planos da realidade como a diferentes aspectos de sua manifestação. O fato é que um grau ou tipo de leitura do mito (ou do símbolo) não tem porque necessariamente excluir a qualquer outro, senão que estes sentidos se complementam, pois muitas vezes se referem a aspectos da realidade que coexistem nela intrinsecamente.
O homem moderno está acostumado a proceder em forma absolutamente binária, ou seja, por “sim” ou por “não” (geralmente pelo "bom" –sempre diferente e mutável–, o que leva a negar o "mal" implícito em qualquer manifestação), razão que caracteriza a sua educação lógico-formal, que nos séculos XVII e XVIII desemboca necessariamente no racionalismo. É o produto de sua programação histórica, e com estes parâmetros acredita que está perfeitamente capacitado para julgar e valorar tudo, sem compreender que é uma vítima de seu baixo condicionamento, cuja ilusória ciência se atreve a interpretar culturas e pensamentos que não só não foram cunhados sob essas simplistas e ingênuas perspectivas, senão que, pelo contrário, esses mesmos pensadores e culturas se encarregaram de advertir os riscos de tais atitudes desde os começos de sua formulação, posto que os enganos da sociedade moderna já estão expressos em forma embrionária nos gérmens da Grécia clássica, ou dito de outra maneira, nos alicerces de todo organismo vivo (tal qual uma civilização), que em virtude de seu crescimento múltiplo cada vez se encontra mais afastado de seu estado original, levando em si implícitos os elementos dissolventes que o precipitarão a sua degradação e morte final. Por isso a errônea simplificação de positivo ou negativo (bom ou mau) excluindo sempre um em benefício do outro, não é outra coisa que um engano, já que as qualificações de que se trata são válidas só de um ponto de vista –ignorando o contrário– e estão sujeitas à relatividade do tempo (o mau de hoje é o bom de ontem, o que hoje pudesse considerar-se bom, o mau de tempos passados, etc.).
O mito, em sua ambivalência, esclarece esta ignorância da que tanto se vangloriam a maior parte de nossos contemporâneos que tratam de ser "bons", ou ainda de maneira mais degenerada, "maus", sem compreender que no conjunto das coisas do cosmo estas valorações arbitrárias estão sujeitas às determinações individuais de seus próprios egos, cuja conveniência interessada, seja social ou pessoal, é o produto de seus desejos, que os sacodem em todas direções.
É este tipo de atitude, ou seja: o desconhecimento das leis da cosmogonia –a qual os mitos se referem em primeiro lugar–, o que lhes leva a desprezar o mito, a vivê-lo como fábulas ou fantasias, ou tentar sua classificação mnemônica e erudita, ou no melhor dos casos a interpretá-lo com um achatamento e mediocridade digna do pensamento da sociedade em que vivem.


 
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CABALA
 

A Cabala pode agrupar-se em duas grandes divisões. A primeira é a Cabala do Bereshit –originada na letra Beth, com a que começa a criação–, e a outra é a Cabala do Merkabah, ou a Cabala do Carro, relacionada com a Triunidade das sefiroth supremas. A primeira se refere à Cosmogonia, e a podemos vincular com as figuras geométricas do quadrado e do círculo, terra e céu respectivamente, e também com a horizontalidade e a verticalidade. Por certo, é com a Cabala do Bereshit com a qual você se liga por intermédio da Agartha. Há cabalistas que vinculam diretamente os vinte e dois Arcanos Maiores do Tarô com as vinte e duas letras do alfabeto sagrado, fazendo corresponder à carta l, O Mago, com a letra Alef, e em sucessão as que seguem. Não todos os hermetistas procedem exatamente da mesma maneira na questão das equivalências, e isto pode dar lugar a distintos diagramas sefiróticos em que os atalhos fiquem assinalados por cartas do Tarô distintas. A seguir damos uma versão, com o fim de que o leitor possa seguir tecendo relações e equivalências.


 
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EXERCÍCIOS DE PACIÊNCIA:
 

A paciência, o aprender a esperar, é ativar a potência da energia passiva que jaz em nós. A paciência é também aprender a receber e saber deixar acontecer aquilo que não é estritamente de nossa incumbência, ou seja, que igualmente atua como selecionador. São muitos os exercícios que qualquer um pode efetuar referentes ao cultivo de sua paciência aproveitando a vida cotidiana. Sugerimos dois para aqueles que conduzem automóvel: 1°) Quando um automobilista tentar ultrapassá-lo de forma violenta, deixe-o passar e pergunte-se aonde vai com tanto pressa: ligar o televisor? 2°) Se você tiver que viajar por uma estrada em uma viagem longa, proponha uma marcha de absoluta regularidade.


 
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EXERCÍCIOS DE SILÊNCIO:
 

Praticar o silêncio é recorrer a uma das energias mais poderosas de que pode dispor o homem. A tremenda concentração de uma consciência alerta, que não desperdiça energia em valores e circunstâncias relativos e fugazes, dá nascimento à autoconcepção dos mundos, aos que a prática do silêncio conduz. Calar em uma conversação, ou em uma discussão, sobretudo se o tema supõe um triunfo de seu ego, ainda que lhe seja negada a razão que você tenha, é igualmente uma experiência muito interessante, só reconhecível por aquele que a tenha vivido.

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TARÔ
 

Tarô - A Imperatriz

III — A IMPERATRIZ: É a Sabedoria despojada de seus véus, que se vê aqui refletida a si mesma na Inteligência, a Virgem Rainha, cheia da Graça que será derramada a toda a criação. Representa o princípio feminino, passivo e receptivo, ao qual se pode ver como uma copa vazia, que é penetrada e fecundada pelo Espírito. É doadora de formas, e como toda mãe, ao dar a vida dá também a morte, unindo os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos. Ela é a Mãe Maior ou matriz universal da qual emanam todas as criaturas; e a Inteligência reveladora e criativa, capaz de discernir o verdadeiro e o falso. Sua beleza e harmonia se manifestam na Natureza. É a mulher sedutora e atraente e a esposa fiel e amante. Igual que a IIII, é uma carta exterior, relacionada com a graça e a beleza das formas, bem como com a nobreza e a autêntica "realeza".
AL DERECHO
AL REVES
Inteligência - Energia criativa
Graça - Encanto
Firmeza - Responsabilidade
Boa disposição de ânimo
Formas - Elegância
Nobreza - Riqueza
Facilidade - Alegria
Poder de sedução
Atração

Falta de inteligência e de graça
Aparentar o que não se é
Vulgaridade - Grosseria - Capri-
chos - Afetação - Ridicularidade
Dificuldade de dar formas
Falta de nobreza - Mau gosto
Instabilidade - Exagero
Falsos brilhos e êxitos
Impontualidade - Improvisação 


 
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CABALA
 

Quando falamos do simbolismo da letra Iod, indicamos que ela era a primeira das quatro que compõem o Tetragramaton, ou Grande Nome de Deus, YHVH, que recordamos é impronunciável, pois expressa um grande mistério. Na continuidade, queremos propor um tema de meditação que se refere à identidade dessas letras com as dez sefiroth, e que com toda segurança ampliará nossos conhecimentos sobre o modelo da Árvore Cabalística. Segundo o Zohar, a Iod expressa a união indivisível e ontológica das duas primeiras sefiroth, Kether (a Coroa) e Hokhmah (a Sabedoria). A ponta ou vértice superior da Iod representa a Kether, a "raiz suprema", que se submerge e emana de En Sof, o Nada ilimitado e supra-essencial, idêntico ao Não-Ser e ao Deus Absconditus, do qual extrai toda sua realidade, pois recordaremos que Kether não é senão um ponto afirmado nessa infinitude. Desse vértice, de Kether, emana Hokhmah, também chamado o "Pai", simbolizado pelo resto da Iod, que se prolonga levemente para baixo, representando o próprio Ser dando origem à manifestação. Mas para que isso seja assim é necessário que Binah (a Inteligência), também chamada a "Mãe Suprema", ou princípio passivo de Kether, seja fecundada por Hokhmah, o princípio ativo, e essa fecundação é a que está expressando a segunda letra do Tetragramaton, a . A união desta com a Iod (Hokhmah) gera a terceira letra, a Vav, à que se denomina o "Filho". A forma desta letra, com seu braço inferior alongado para abaixo sugere perfeitamente a idéia de descenso dos princípios superiores no seio da manifestação propriamente dita, pois essa letra representa a síntese das seis sefiroth de construção cósmica, Hesed, Gueburah, Tifereth, Netsah, Hod e Yesod, as quais, como diz o Zohar, "transmitem a herança à Filha". Esta não é outra que a segunda , última letra do Tetragramaton, a qual simboliza a sefirah Malkhuth, o "Reino", recipiente de todas as emanações sefiróticas, às quais distribui em toda a ordem criada. A Cabala denomina a estas quatro letras de a "família divina", esclarecendo que toda ela conforma uma unidade, como a própria Árvore da Vida, ou a própria realidade do Cosmo, à qual aquela certamente simboliza.


 
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O AMOR
 

A frase: "Deus é Amor", extraída do Evangelho de João, permite-nos entrever a elevada natureza desta energia, considerada por todas as tradições como um dos principais nomes ou atributos da Unidade (de Kether), identificando-se com ela, como o atesta o fato de que em hebraico a palavra Unidade (Ehad) e Amor (Ahabah) têm o mesmo valor numérico, o 13. Neste sentido, já o Mestre Eckhart afirmava: "Onde queira que esteja a alma é onde Deus opera sua obra. Esta operação é tão grande que não é outra coisa que Amor, mas o Amor não é outra coisa que Deus. Deus se ama a Si Mesmo, ama sua Natureza, sua Essência e sua Deidade. Mas no Amor com que Deus se ama a Si Mesmo, ama também a todas as criaturas, não enquanto criaturas, senão enquanto elas são Deus. No amor com que Deus se ama a Si Mesmo, ama ao mundo inteiro".
Por isso, do amor se diz que é a força de atração dos contrários ou opostos, o centro de união onde se conciliam as energias verticais e horizontais, ativas e passivas do cosmos e do homem, fazendo possível o equilíbrio e a verdadeira concórdia (ou "união dos corações") universal, por isso os antigos gregos vissem nele o filho de Afrodite e Hermes (tal como sua irmã, a deusa Harmonia), de onde nasce também o Hermafrodita, ou seja, o Rebis, que representa no ser humano a união perfeita e harmoniosa de sua natureza masculina e feminina, ativa e passiva, yang e yin. Efetivamente, é com o fogo do amor, e a sutil paixão que ele gera, que se leva a cabo a obra da transmutação alquímica, porque esse fogo é o próprio amor ao Conhecimento e à Sabedoria e, como dizia Leonardo da Vinci: "O Amor é filho do Conhecimento. O Amor é tanto mais elevado quanto o Conhecimento é mais verdadeiro". A este amor, expressão do amor divino, é ao que cantavam os trovadores medievais, e o que Dante vê personificado na figura de Beatriz (que simboliza a Sabedoria), e certamente é o que invoca Salomão no Cântico dos Cânticos, aonde trata precisamente das "bodas", "casamento", ou união da alma humana com o Espírito.
Por isso, os humanistas e mestres herméticos do Renascimento, que recolheram os ensinos de Platão e da mitologia órfica e greco-romana, falavam dos mistérios do Amor identificando-os com os mistérios da Morte, que são, afinal de contas, os mistérios da iniciação, e explicavam que morrer era ser amado por um deus, e vice-versa, que amar era morrer ou ser morto por um deus. Na realidade, trata-se de um sacrifício (de um "ato sagrado"), pois não há nascimento à realidade do Espírito, ou seja ao Conhecimento, sem que isto suponha uma morte ou superação das limitações próprias do humano. Os amantes da Sabedoria sabem que não podem casar com ela se não abandonam ou não deixam de se sentir condicionados pela Vênus Pandemos, ou seja, por seus desejos e amores terrenais, que são considerados como um reflexo invertido dos amores celestes procurados pela Vênus Urania. Pico de la Mirandola punha o exemplo do "esfolamento" sacrifical de Marsias como o modelo a seguir por esses amantes: "Se te juntas com cantores e harpistas, podes confiar em teus ouvidos, mas quando te acerques aos filósofos, deves apartar-te dos sentidos, deves voltar-te sobre ti mesmo, deves penetrar nas profundidades de tua alma e nos rincões de tua mente, deves adquirir os ouvidos de Tineo (refere-se a Apolônio de Tiana, filósofo pitagórico), com os quais, ao já não estar em seu corpo, não escutou ao Marsias terrenal senão ao celeste Apolo, quem com sua divina lira e com inefáveis modos, entoou as melodias da esferas".


 
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METAFÍSICA
 

O estudo dos textos de nosso Programa –e todos os símbolos e exercícios que utiliza– tende a conduzir-nos para o conhecimento e para a realização das possibilidades superiores do ser, às quais definimos como de ordem metafísica. E convém aqui fazer algumas observações a respeito do que entendemos por metafísica, ainda que devamos advertir sobre as dificuldades de expressar algo referente a um domínio que foi sempre considerado como inexprimível, e a impossibilidade de definir aquilo que essencialmente é indefinível.
Demos-lhe à palavra "metafísica" a conotação etimológica de "além da física" e cremos que é a mais clara, se entendermos, como os antigos, que a física é a ciência que estuda os fenômenos da natureza, em toda a extensão deste termo, e que o que concerne ao conhecimento metafísico é sobrenatural, e ao mesmo tempo supra-humano e supra-cósmico, pois transpassa o sensível e transcende o mundo da manifestação.
Para atingir o metafísico não podemos utilizar os métodos da filosofia e das ciências profanas, que são racionais, discursivos e indiretos, e totalmente insuficientes, senão que temos de apelar a um conhecimento direto e supra-racional, ao qual só se chega pela intuição mais pura. Os símbolos e as palavras que utilizamos são suportes mágicos nos quais bem podemos nos apoiar para elevar nosso pensamento às esferas mais sutis do ser; mas o metafísico –diz-nos a doutrina– encontra-se além de todas as formas e contingências, e ainda além do Ser, pois pertence ao domínio do Não Ser.
Enquanto o intelecto individual, limitado pelos sentidos, pelo corpóreo e pelo transitório, acha-se encerrado em seus próprios limites, o intelecto transcendente e universal conhece diretamente os princípios imutáveis e eternos. O homem pode atingir este domínio do metafísico, mas não enquanto ser individual e transitório, senão enquanto que participa desta inteligência superior e está unido a ela por uma tomada de consciência de suas verdadeiras possibilidades espirituais, que são mais do que humanas. Nossa realidade individual mal é uma manifestação momentânea do ser verdadeiro, um de seus múltiplos estados, e o conhecimento metafísico transcende ao próprio homem, e ainda ao cosmos, pois é absolutamente ilimitado. É óbvio que não nos estamos referindo a um conhecimento ordinário e profano senão a uma experiência de outra ordem, que transcende tudo o que possa ser imaginado. Enquanto os estados particulares do ser têm uma manifestação espaço-temporal, o próprio ser, em seu princípio metafísico, é eterno, e desde a eternidade todos esses estados são agora, simultaneamente.
É importante assinalar que com isto não estamos negando o físico, nem as possibilidades individuais do ser. Só queremos recalcar que o metafísico é de ordem superior, e que o físico se encontra incluído nele.
A verdade metafísica é eterna e única, e sempre tem seres que a conhecem, pois participam plenamente desse estado de Libertação e União.


 
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TARÔ
 

Tarô - O Imperador

IIII — O IMPERADOR: A IIII representa um rei, em tempo de paz, que legisla e governa seu povo com firmeza e amor. Com suas pernas realiza o sinal da cruz, o quaternário que serve de fundamento às leis do tempo e do espaço. É símbolo das estruturas sociais, familiares e de governo, às quais serve de centro, ordenando-as e harmonizando-as. Como arquiteto, desenha os planos construtivos de seu império, que se levanta e acrescenta sob sua autoridade. Em nosso interior é aquela energia que nos governa e controla, ordena nossas idéias, disciplina as ações, e nos ensina a cumprir uma missão. Simboliza também a paternidade: o bom pai que corrige e educa seus filhos unificando o rigor e o amor. As cartas III e IIII são opostas e complementares, o que se observa na posição do cetro e do escudo, símbolos de comando, domínio e poder.
DIREITA
INVERTIDA
Autoridade - Força
Poder - Domínio
Governo - Direito - Lei
Dotes - Missão
Arquitetura - Construção
Vontade - Disciplina
Paternidade
Flexibilidade
Paz - Visão

Tirania - Absolutismo - Despotismo
Arbitrariedade -
Usurpação
de poder - Falta de direito
Materialismo - Horizontalidade
Desordem - Falta de caráter
Debilidade - Severidade excessiva
Militarismo - Literalidade
Falta de domínio
Obstáculo formidável


 
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GEOGRAFIA SAGRADA
 

Para a Tradição, a geografia, tal qual a história, é considerada como uma ciência sagrada, em contraposição ao que sob este mesmo nome estuda a ciência contemporânea, que ignora que a Terra é um ser vivo que respira e sente, e que possui, além de um corpo, uma alma e um espírito. A este respeito, recordaremos o que nos ensina a Alquimia quando fala da geração e transmutação dos metais e pedras no interior da Terra, interior que é considerado como a matriz da Mater Genitrix, receptáculo das energias verticais e numinosas expressadas através dos ritmos e ciclos cósmicos. Por isso a geografia se complementa com a cosmografía, ramo anexo à ciência astrológica, e pela qual é possível conhecer com exatidão o aspecto que o Céu apresenta em cada momento, bem como as revoluções dos planetas e as constelações estelares e zodiacais. Muitas vezes a própria toponímia revela as analogias e correspondências que existem entre a ordem terrestre e a celeste. Tal é o caso, por exemplo, da cidade de Santiago de Compostela, palavra esta que precisamente quer dizer "campo de estrelas". O próprio traçado do Caminho de Santiago se considera como uma projeção terrestre da Via Láctea, querendo se indicar com isso a origem celeste desse caminho. Igualmente a forma em que estão dispostos alguns acidentes topográficos –como rios, montanhas, pedras, cavernas, vales, inclusive países e ilhas– descrevem em sua configuração, e graças às harmonias sutis, certas constelações e até o zodíaco inteiro, como o que se encontra desenhado sobre a paisagem de Glastonbury, na comarca inglesa de Somerset.
Por outro lado, as grandes mudanças cíclicas do universo incidem profundamente na forma que foi apresentando em sucessivas etapas a superfície terrestre, que nem sempre teve a mesma configuração. Em certo sentido, as chamadas eras geológicas se correspondem, no espaço, ao que são as eras cósmicas no tempo, ou seja às divisões cíclicas (a mais importante das quais é a precessão dos equinócios, ou sua metade) de que se compõe uma era completa do mundo e da humanidade, o que na tradição indiana se denomina um Manvántara. O deslocamento ou inclinação do eixo terrestre (que na época primordial era o mesmo que o do céu) supôs o passo de um período cíclico a outro, sendo esta a origem de grandes mudanças geológicas, bem como da aparição das estações. Obedecendo a essas leis, continentes inteiros desapareceram (como é o caso famoso da Atlântida, da qual Platão fala no Crítias), surgindo outros. Assim mesmo, os antigos mapas cartográficos não descreviam, como os atuais, só o aspecto físico da Terra, que desde o ponto de vista tradicional é secundário, senão que, antes de mais nada, estavam expressando uma visão simbólica e mítica da geografia, e por conseguinte representavam uma fonte de ensino tradicional.
Neste sentido, o estudo e conhecimento da Geomancia (que os antigos chineses conheceram sob o nome de feng shui, "água-ar", pois se consideravam a estes dois agentes naturais como os principais modificadores da paisagem) dá-nos a chave para compreender a verdadeira natureza, ao mesmo tempo mágica e metafísica, do espaço terrestre. Existem lugares que são mágicos porque neles, misteriosamente, manifesta-se o eixo invisível do mundo que comunica o sensível ao suprasensível, conjugando num todo harmonioso as potências telúricas e cósmicas. Estes lugares se convertiam em espaços sagrados ou "terras santas", onde se localizavam as cidades e se erigiam os altares e os templos, orientados segundo determinados pontos cardeais, especialmente o Leste e o Norte. Adicionaremos que os pontos cardeais são regiões simbólicas onde residem entidades e atributos divinos que consagram com suas influências a totalidade do mundo terrestre.


 
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A ASTROLOGIA E AS DEIDADES
 

Para a Ciência Sagrada os planetas são os aspectos visíveis e os símbolos das entidades numinosas ou deuses, os quais com seu hálito vital lhes animam e dão movimento. Precisamente no esoterismo judaico-cristão e islâmico se menciona aos anjos como os verdadeiros regentes das esferas planetárias. Recordemos que os deuses planetários são ciclos cósmicos que englobam a outros mais reduzidos como os do homem, aos quais selam com suas influências. Assim, o que os relatos mitológicos, lendas e teogonias expressam como lutas, oposições, coincidências e amores entre as diferentes forças divinas, não são senão o alternar-se de uns ciclos em outros, que ao se relacionarem com os ritmos zodiacais incidem de maneira notória no plano horizontal do mundo terrestre, desdobrando-se no espetáculo multiforme da vida. Igualmente, e desde o ponto de vista da Ciência Sagrada, estas vinculações entre as deidades configuram um mistério (recordemos que a palavra "mistério" tem a mesma raiz que a palavra "mito"), ou seja, revelam um modo de ser arquetípico e uma determinada qualidade da alma universal, e igualmente da humana.
Da união ou conjugação das energias de Vênus, deusa do amor e da feminilidade transcendente, e de Marte, deus da guerra e da virilidade espiritual, nasce uma filha que é chamada Harmonia pois, no dizer dos filósofos antigos, quando os opostos se unem com a exata e devida proporção, surge deles uma maravilhosa consonância que mantém num tenso equilíbrio a ordem dos seres e das coisas. Ou, como diz Platão, a Harmonia trata de atar e tecer juntos aos que por natureza são opostos e contrários. Do casal de Zeus-Júpiter, deus do raio iluminador e onipotente pai dos deuses, com Maya, que personifica a substância plástica e geradora do cosmos, nasce Hermes-Mercúrio que, como sabemos, representa o númen que comunica o celeste ao terrestre, o divino ao humano, e vice-versa. Por sua vez, Hermes-Mercúrio, ao "copular" com Vênus, procria e gera ao Hermafrodita ou Rebis alquímico que, como seu próprio nome indica, reúne a Sabedoria e o Conhecimento teúrgico de Hermes com a Beleza e o Amor da filha do céu, Afrodita, a Vênus Urania. É esta uma união que promove esse amor ao Conhecimento tão necessário para a realização espiritual.
Quando Saturno-Cronos, o Rei da Idade de Ouro e Antigo Primordial, com a sábia e profunda maturidade que o caracteriza, relaciona-se com o impulso e a rapidez de inteligência do jovem Mercúrio, origina-se uma das combinações mais celebradas pelos mestres herméticos do Renascimento, que se sintetizou numa frase célebre: "Faz lentamente o urgente", aludindo com isso à prudência que tem reger em todos os atos e pensamentos do alquimista, do qual também se disse que é um puer senex, ou seja, um "menino-velho".
As idéias, chegadas a seu ponto máximo de maturação, são liberadas graças à intervenção do mistagogo1 e iniciador Mercúrio, pois através de seu conduto se expressam ao exterior. O deus Zeus, tem uma direta influência sobre suas filhas as Musas (nascidas de sua união com Mnemósine, a Memória) relacionando-se freqüentemente com as demais deidades e com os homens por intermédio delas. Cada deus possui sua Musa e cada Musa inspira ao homem o conhecimento de uma ciência e de uma arte sagradas. Deus do fogo e da luz sobrenatural, Apolo, que dirige seu coro, preside o rito fundamental do sacrifício da alma humana, que é irresistivelmente arrebatada a sua morada celeste quando "escuta" os maravilhosos acordes e harmonias que extrai de sua divina lira, presente de Hermes, liberando-se assim dos laços que a mantêm unida à sua condição terrestre.

1
N.T. Mistagogo - (Do lat. mystagōgus, e este do gr. μυσταγωγός): 1. m. Sacerdote da gentilidade greco-romana, que iniciava nos mistérios. 2. m. p. us. Catequista que explicava os mistérios sagrados, especialmente os Santos Sacramentos.


 
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APRENDER A LER:
 

Uma das coisas mais importantes em nossas disciplinas é a de aprender novamente a ler. Essa nova leitura dos textos, símbolo de outra apreciação da vida e das coisas, inclui uma atitude diferente com respeito ao que se lê. As leituras com as quais se nutre o neófito, textos teúrgicos e iniciáticos, exigem uma adequação especial para que atuem verdadeiramente. Na prática podemos distinguir uma leitura profana e superficial, de outra profunda e sagrada. Estudar um texto não é só aprendê-lo de modo literal, ou de "memória". Também não é passar sobre ele sem o compreender. Singelamente se trata de apreender.
a) Estamos acostumados a "consumir" o que lemos. Devemos nos fixar atenciosamente no que lemos. Têm-se de separar netamente os estudos metafísicos (às vezes um pouco complicados ou fastidiosos) da simples leitura à qual habitualmente estamos acostumados. Esta nova leitura que lhe indicamos é também um rito, uma ruptura de nível e a criação de um novo mundo de símbolos e conceitos com o conseqüente abandono do espaço e do tempo de sua situação anterior. Tome-se o tempo necessário e volte sobre o lido. Faça um esforço igualmente para gravar um arquivo de imagens.
b) Acostume-se também a ler as entrelinhas. Recorde que cada texto tem uns três, quando não quatro, níveis de leitura.
Movimento l: Deixe-se levar totalmente pela leitura até se introduzir no mundo que se lhe oferece. Movimento de abertura. Dissolução-expansão.
Movimento 2: Medite sobre o lido. Extraia –ou trate de fazê-lo– o sentido último do que se expressa. Movimento de coagulação-concentração.
Movimento 3: Estabeleça relações.

39
ACAPITE
 

Tarô - O Papa

V — O PAPA: Chamado também O Hierofante ou Sumo Sacerdote, é o iniciador nos Antigos Mistérios, guardião e transmissor da Tradição Unânime. Com sua mão direita realiza o sinal do Ensino, e com a esquerda -coberta com uma luva- sustenta um cetro que representa, junto com a coroa, o poder espiritual. Encontra-se, como A Sacerdotisa, sentado entre duas colunas, e generosamente ministra a Doutrina a quem tem ouvidos e olhos, guardando em segredo elevados conhecimentos. Os personagens de costas, em atitude receptiva, são o símbolo da aprendizagem. O vermelho de seus vestidos o relaciona com Marte, que neste caso manifesta um profundo rigor intelectual, necessário para que essa Doutrina se mantenha intacta e a verdade não seja deformada. Esta carta simboliza o mestre interior, ou guia oculto, que nos conduzirá nas distintas fases do processo iniciático, de uma vez que é amigo, conselheiro e confessor.
DIREITA
INVERTIDA
Sacerdote - Mestre - Ensino
Aprendizagem - Doutrina - Tradição
Autoridade moral e espiritual
Paciência - Perseverança
Rigor - Retificação - Equanimi-
dade - Calma - Serenidade - Con-
fiança - Generosidade - Cons-
tância - Discrição - Bom sentido

Dogmatismo - Falsos profetas
Tergiversação - Falsificação
Equívoco - Enganos - Prejuízos
Impaciência - Fanatismo
Má informação - Rigidez
Liderança - Condicionamento
Mau conselheiro e intermediário
Insensibilidade - Competência


 
40
A BELEZA
 

Como o Amor –ao qual se encontra indissoluvelmente unida– a Beleza é um nome ou atributo divino, conforme mostra e exemplifica a sefirah Tifereth, também chamada Harmonia como sabemos. Devido a seu caráter universal, a Beleza não é patrimônio de ninguém, e certamente escapa às classificações da arte e do artista moderno, que só percebem dela o estético e superficial, quando não simplesmente a negam, apostando pelo realmente grotesco e confuso. A maioria dos que se autodenominam "artistas" esquecem que a beleza é um permanente assombro que se acha implícito na textura mutável e multifacetada da vida, e o que é mais importante, na essência e no próprio ser das coisas e dos seres. Ela se identifica com o inapreensível, com o que não pode ser medido nem computado, mas sim experimentado como um tipo de emoção intelectiva e supra-racional, capaz de produzir aquela necessária "ruptura de nível", que faça possível o contato direto com as realidades espirituais que, ademais, toda a criação constantemente revela e sugere. Por isso sempre foi considerada como uma energia intermediária entre o humano e o divino, entre o horizontal e o vertical, tal como o símbolo, e como este é um veículo que nos conduz ao Conhecimento.
União dos contrários aparentes, ou conjugação em uma só entidade do sujeito que conhece e do objeto conhecido, a Beleza é o reflexo no cosmos da Unidade Arquetípica que, germinando no coração do homem, leva-o ao conhecimento de si mesmo e do mundo mediante o arrebatamento que produz seu contato. Neste sentido, a Beleza participa tanto do êxtase dionisíaco (relacionado com a atração e a vertigem para as energias telúricas e terrestres) como do apolíneo, onde este êxtase se transforma em contemplação para as formas puras. Este é o caso do Platão, para quem as figuras do círculo e do quadrado proporcionavam a contemplação da Beleza absoluta.
As artes sagradas e tradicionais aglutinam estas duas maneiras de conceber a Beleza, que devido ao temperamento dos homens que as realizam podem expressar uma ou outra forma, ou ambas de uma vez, pois na realidade são complementares, como o são a Terra e o Céu. Por exemplo: um ícone cristão e a voluptuosidade de formas de uma deusa pagã podem, no fundo, sugerir a mesma idéia. Seja como for, intuir a verdadeira Beleza, e ser uno com ela, pode acontecer em qualquer momento, não importa a causa, pois então já não seremos os mesmos, com nossos falsos complexos e prejulgamentos, senão que nos terá dado a graça de participar do rito de uma dança total, da qual nada, nem ninguém, fica excluído.


 
41
GEOGRAFIA SAGRADA
 

Toda Terra Santa, ou Sagrada, própria a cada tradição, é o símbolo da Terra Arquetípica, que se manifestou visivelmente ao começo do atual ciclo terrestre e humano. Esta foi a residência do Centro Supremo ou Grande Tradição Primitiva, a qual teve que se ocultar e se fazer invisível (passando a outro plano) quando as condições nas que era possível sua existência se tornaram difíceis. Geograficamente, o Centro Supremo esteve situado aproximadamente no que hoje é o Pólo Norte, que os gregos denominaram a Hiperbórea, e que naqueles primeiros tempos conservava condições climáticas mais benignas que na atualidade: uma "primavera perpétua" como assinalam algumas tradições. Isto se deveria, como já se disse antes, ao feito de que o eixo terrestre não estava inclinado com relação ao eixo celeste, acontecendo que não existissem a sucessão das estações.
É de notar, além disso –e para se perceberem as analogias que existem entre a ordem física e a espiritual–, que o Pólo Norte representa a região que é tomada como referência orientadora vertical de qualquer lugar da superfície terrestre (embora isto seja hoje assim pela globalização cultural e pela representação da Terra como esfera); o extremo Norte é também o extremo superior do eixo vertical que atravessa a Terra, e portanto o centro ao redor do qual se cumpre a rotação desta, sendo o único lugar (junto com o Pólo Sul) que permanece estável e sem girar em dita rotação. Neste sentido, é perfeitamente normal que fosse a região polar a primeira em albergar a Tradição Primitiva, pois esta é também a origem e o centro doutrinal invariável de todas as demais através dos tempos; seu permanente ponto de referência axial. Seu recolhimento e ocultação supôs o surgimento das diferentes formas tradicionais e o estabelecimento dos respectivos centros geográficos sagrados, que eram, e seguem sendo, os reflexos do primeiro (ver "A Montanha e a Caverna", Módulo I - N.º 70). São os casos de Jerusalém para o judaico-cristianismo, de Meca para o Islã, Delfos para a Grécia clássica, Roma para as tradições itálicas e ainda para o Catolicismo atual, Tebas para o antigo o Egito, Babilônia para as culturas mesopotâmicas, a mítica Aztlán (Atlântida) para as culturas centro-americanas, Cristianópolis ou a "Cidadela Solar" para o Hermetismo Rosa-Cruz, etc. O nome originário do Centro Supremo foi o de Tula, ou Thule, a "Balança", ou também Síria, a "Terra do Sol", expressão que indica uma transposição celeste e luminosa do espaço geográfico. Tula designa a constelação da Ursa Maior que com suas sete estrelas –número de perfeição– assemelha-se a uma arca girando em volta da estrela Polar, morada simbólica da Grande Unidade ou Arquiteto do Universo. A estrela Polar é o Topo, o Zênite da Montanha Cósmica, Árvore ou Eixo do Mundo, de onde partem, segundo as direções do espaço, os quatro rios sagrados portadores da Água de Vida Celeste.


 
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NOTA:
 

Em diversas tradições, o Paraíso é representado pelo coração, que é o centro do estado humano, equivalente ao "Coração do Mundo", ao "Santo Palácio" interno, ou a Brahma-Pura (a "Cidade de Brahma"). Por isso há que se entender a existência de uma analogia entre a Geografia mítica ou sagrada e o próprio espaço interior ou espiritual do homem. Nesse espaço também se encontram comarcas e regiões que são apenas estados de consciência que o ser vai reconhecendo nas diferentes etapas ou graus de sua evolução espiritual. "O Reino de Deus está dentro de vós", diz o Evangelho; e o lamaísmo budista: “Shambala (a Comarca Suprema ou Paraíso) está em nosso coração". À luz dessas concepções, o espaço geográfico se transforma em seu arquétipo celeste, onde se vislumbra o atemporal. A beleza do mundo, de Malkhuth, é o reflexo da Beleza, de Tifereth. As visões enlevadas de certos místicos descrevem uma geografia situada em outro plano da realidade, onde se produzem as teofanias e se revelam as entidades angélicas e divinas. É a "Terra dos Bem-aventurados", dos "Viventes", dos "Antepassados Imortais", à qual, entretanto, "não se pode chegar nem com naves nem carros, a não ser somente pelo vôo do espírito". A este respeito nos dizem os mestres herméticos: "O Paraíso está ainda nesta terra, mas o homem está longe dele até que não se regenere". Agartha é a gruta que se oculta na montanha, localizada-se no mesmo eixo que a sumidade, como a cripta no templo.


 
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VISÃO
 

A prática da Geometria e da Meditação são métodos de purificação do "olho da alma", que cultivam a capacidade da Visão ou faculdade de contemplar a Verdade: faculdade chamada também Inteligência do coração, a única que pode unir o mundo manifestado com sua Origem.
Esta visão difere muito da capacidade visual que ordinariamente usamos e requer uma penetração da realidade, em mais de um sentido. A vista e o ouvido, embora relacionados em suas funções, operam de modos muito diferentes: a inteligência óptica, para pensar, cria uma imagem em nossa mente, é indireta, analítica e seqüencial, enquanto que a auditiva é direta, sem imagem, e evoca uma resposta imediata. É ela a que percebe padrões de relação e configurações no espaço. É, desta forma, ela a que se associa com o hemisfério direito do cérebro, enquanto que a vista, de caráter temporário, associa-se com o esquerdo, que mede e analisa de maneira racional, para empregar uma descrição simbólica. É este "modo direito", ou "maneira reta", o que permite penetrar no aspecto esotérico do símbolo, e compreender seu sentido, porque pode perceber opostos em simultaneidade.
Quando a capacidade auditiva e a visual estão "centradas", "escutam-se cores" ou "vêem-se músicas". Por meio da Geometria, os pitagóricos conjugavam e equilibravam os opostos perenes e uma vibração escutada chegava a converter-se em forma visível e igualmente um ritmo visual se expressava em harmonias audíveis.


 
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TARÔ
 

Tarô - O Enamorado

VI — O ENAMORADO: Aqui se acha um homem entre duas possibilidades, em atitude de escolher livremente uma delas. Uma mulher, que sinaliza as partes exteriores dele, exerce atração sobre ele para a corrente do mundo profano, do materialismo e do engano dos sentidos, oferecendo-lhe um amor vulgar, não transcendente. A outra sinaliza seu coração, atraindo-o para os sentimentos mais nobres do amor espiritual e simbolizando a verdade. O cupido, a cujas costas brilha um sol radiante, aponta com sua flecha à segunda, embora o indivíduo se encontre aqui em liberdade de escolher qualquer opção, pondo seu coração onde esteja seu verdadeiro tesouro. Também pode simbolizar um casal ou um noivado. A carta invertida denota os dilemas, dúvidas e vacilações aos quais nos submetem as tentações do mundo profano. Mas quando está direita, insta-nos a melhor decidir.
DIREITA
INVERTIDA
Determinação - Livre eleição
Amor - Vontade
Livre-arbítrio - Decisão
Auto-determinação
Movimento da vontade
Heroísmo - Firmeza
Chamados - Nobre paixão
Afetos - Sentimentos - Casal
União do casal - Noivado

Vacilação - Dúvida - Dilemas
Eleição errônea - Indeterminação
Engano - Covardia - Risco
Caminho equivocado
Medo - Indecisão
Indeterminação - Intrigas
Paixões - Sofrimento
Traição - Perda de energia
Impossibilidade - Crise afetiva


 
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A ANALOGIA
 

No Módulo I, título N.º 24, dedicado à analogia, referíamos-nos à inversão de duas ordens simbolizada pelo Selo de Salomão. Só adicionaremos que o único aparece misteriosamente como múltiplo, assim que se reflete no prisma da manifestação, e até muito mais quando o faz nas modalidades do individual. Por isso as conhecidas reservas da Tradição a este respeito, ao reiterar o caráter ilusório e relativo das aparências, que sendo imagens reflexas e invertidas da realidade, são tomadas infelizmente por ela mesma. Confundimos o símbolo com o simbolizado. A mesma proposição hermética: "o que é acima é abaixo", exige uma interpretação correta das correspondências, já que o de "cima" se acha simbolicamente expresso pelo de “baixo”, mas em sentido inverso. "Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos". O pecado, o engano e seu comum denominador, a ignorância, são apenas a idolatria do irreal e ilusório. Um puro absurdo que deixa de sê-lo na medida em que o ser toma consciência efetiva do verdadeiramente real e eterno.
O veículo por excelência do pensamento é o símbolo, e a essência deste a analogia. Efetivamente, a analogia não é uma mera associação de conceitos mentais, assim como o símbolo não é tampouco uma "definição", já que como tais não escapariam então às limitações racionais e morais humanas. A própria presença inteligível da Idéia evoca e sugere indefinidos aspectos de si mesmo, despertando sempre novas e distintas perspectivas da realidade, engastadas permanentemente em sua síntese sagrada. Como instrumentos de aplicação, tal qual os números e as letras, símbolo e analogia permitem articular por meio de relações de semelhança, feitos ou realidades que a primeira vista nada têm em comum, a não ser sua própria contingência. A relação necessária de continuidade entre o todo e a parte, entre Deus e o mundo, e vice-versa, é por certo o número de ouro da Criação. Um arcano intuído sempre, que a Tradição revela. É a lógica verdadeira que como "graça divina" opera além da lógica convencional ou formal. Esta permanente ligação que une os mundos, seja de maneira visível ou invisível, permite a possibilidade perpétua do "despertar", de uma volta ao sentido universal da existência, operativamente uma saída do tempo-espaço ordinário e amorfo, e uma entrada no "extraordinário" e sagrado. A função dos ritos não tem outro fim que dinamizar e atualizar esta possibilidade sempre latente. A ela se vincula especialmente a intuição intelectual e o Eros ou Amor divino, não a "razão" propriamente dita, analítica e discriminativa por natureza.


 
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O ARTISTA
 

A tarefa do artista é a de mediador entre a essência do símbolo (ou Verbo) e sua manifestação no mundo temporário (obra do Verbo Criador). Dentre todas as criaturas, só ao homem é dado o tomar consciência deste papel e, através dele, é o Universo que se faz consciente de si mesmo. O propósito da educação tradicional consiste em levar a cabo esta tomada de consciência, despertando as capacidades latentes que todo homem leva ocultas, sendo esta a função que cumpre o grêmio dos artistas, dirigido por um mestre que conhece os princípios que governam a Arte.
O processo de aprendizagem é hierárquico e provê o artista da linguagem simbólica. Inclui as ciências e as artes sagradas; trata-se da Alquimia do próprio ser e de um verdadeiro caminho de Iniciação. O apoio simbólico prepara o caminho do processo criativo através de rituais prescritos. A beleza do símbolo consiste em revelar o "Tesouro", sem cuja mediação não se poderia conhecer jamais. O rito tem sua base na cosmogonia e é o símbolo em movimento. O mito vive em um Tempo de ação ritual perene. O propósito destes rituais é o de criar um estado de consciência que permita ao artista mover-se no espaço interno da alma. Uma parte essencial deste estado meditativo é obter que a harmonia dos ciclos vitais penetre na existência inteira experimentando os ritmos da natureza, sua solidão e serenidade.
É por meio da contemplação que se pode acessar o espaço interno do coração, onde tem lugar, para o artista, a única experiência de realidade. É então que pode expressar: "na verdade, tanto quanto é extenso o espaço, também o é o vazio que há no interior do coração". Chegou à fonte e contemplou, face a face, a realidade, contemplou-se a si mesmo. Já não existe o tempo; vidente e visão são um. Todo o universo concentrou seus raios em um ponto cuja incandescência voltou ao Si-Mesmo.
Sons, formas, linhas, cores e materiais serão os meios para a alma desperta que busca expressar-se em sua descida pelo arco do ciclo criativo, devolvendo a forma visível, audível ou tangível ao vivido. Passivo com relação ao Princípio do qual é servidor, e ativo com respeito a sua Arte, o artista cria uma relação harmoniosa entre o universal, que anima sua obra, e a particular maneira de dar forma a sua criação. A obra será a amostra da perfeição alcançada pelo artista e, na medida em que esteja conforme com a Origem, poderá lhe chamar original. Originalidade compreendida no amplo sentido da palavra: a realização de uma concepção original e não só a transitória originalidade individual.
"Esta parte terrestre do mundo é mantida pelo conhecimento e pela prática de Artes e Ciências, das quais não quis Deus que se privasse o mundo para ser perfeito (...) E acertadamente a divindade suprema enviou aqui para baixo, entre os homens, o coro das Musas, para que o mundo terrestre não parecesse muito selvagem, privado da doçura da música, mas, pelo contrário, para que os homens oferecessem seus louvores mediante cantos inspirados pelas Musas àquele que só o é Tudo e pai de todos e, assim, aos louvores celestiais respondesse sempre, também sobre a terra, uma suave harmonia. Certos homens, poucos em número, dotados de uma alma pura, receberam em participação a augusta função de elevar seus olhares para o céu" (Corpus Hermeticum, Asclépio 8-9).


 
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NÃO É POR MUITO MADRUGAR…
 

Um dos temas nos quais se faz insistência no percurso iniciático é o dos inimigos ocultos, ou seja, naqueles que não são evidentes para o aprendiz, ou que se disfarçam aparentando virtudes quando não são mais do que formas do homem velho, e graves inimigos no caminho do Conhecimento. Muitas vezes, soem se apresentar com a roupagem da moral e do oficialmente admitido como virtuoso e até "religioso", ao que graciosamente denominam "tradicionalismo". Outra das desagradáveis maneiras em que soem se apresentar estes demônios, diretamente associada com a que acabamos de mencionar, é o fato de supor uma virtude o despertar cedo pelas manhãs, especialmente nas grandes urbes, onde o corpo perdeu toda conexão com os ritmos da natureza. Este fato completamente normal é tomado por indivíduos simplórios como uma grande coisa, exemplo digno de ser emulado, embora deva se impor pela força, como no caso dos internatos, cárceres e quartéis. Embora não se leve em conta que este “'madrugadores” se levantam para jogar lenha ao fogo da máquina da sociedade moderna que nos está devorando, que eles criaram e alimentam constantemente com sua diligência.
O adagiário cunhou duas sentenças muito conhecidas com relação a este fato. A primeira diz "Deus ajuda a quem cedo madruga". Isso pode ser entendido como uma piada de humor negro, quando se pensa que os homens de hoje em dia, direta ou indiretamente, despertam dispostos a trair, mentir, murmurar, caluniar, roubar, destruir, etc., com o beneplácito e o patrocínio das entidades oficiais em meio da aprovação geral.
O segundo refrão deu título a esta nota e diz: "Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo". Nele se adverte o oposto ao anterior, ainda que se o note muito mais elaborado, já que nega de fato a simplória crença literal que o primeiro sustenta, e aparece como uma clara sentença a um dos enganos (pecados) maiores e difundidos dos contemporâneos: o de que através das ações dos homens vai poder se obter o que sempre foi chamado, inversamente, a Graça de Deus.
"O espírito sopra onde quer" pode ler-se no texto sagrado. Sim, onde quer o espírito e não onde determinam os homens, ou em qualquer lado, por azar, como poderia compreender um literal, ou um “justo” muito madrugador. Um provérbio chinês diz: "Ao abusar da eficácia se produzem violências".


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TARÔ
 

Tarô - A Carruagem

VII — A CARRUAGEM: Nesta carta vemos um cocheiro conduzindo seu veículo para uma meta prefixada. A livre decisão que estava implícita na carta anterior, foi já tomada, e o Iniciado se encontra aqui em atitude de triunfo e de vitória, ganhando a guerra entre os contrários. Os cavalos e as rodas, parecem dirigir-se para lugares opostos; mas o chofer real, sem necessidade de rédeas, leva-os pelo meio, superando os obstáculos do caminho, unindo as contradições e conjugando as oposições. Nos galões se vêem duas máscaras, uma que chora e outra que ri, representando a tragédia e a comédia. A carta nos dá a idéia de viagem, relacionada com a primeira fase do processo iniciático; trata-se das primeiras viagens que nos prepararão para as viagens maiores, logo depois das quais o movimento cessará e se atracará à região do repouso. Não confundir o veículo com a meta.
DIREITA
INVERTIDA
Direção - Movimento
Superação de contradições
Triunfo - Vitória - Obtenção de
Êxito - Manejo de opostos
Viagem - Mudança - Nova vida
Superação de obstáculos
Objetividade - Reestruturação
Bom veículo ou
caminho

Ausência de direção - Pressa
Viagem adiada - Imobilidade
Retrocesso - Derrota - Pesar
Veículo ou caminho equivocado
Ausência de escrúpulos - Fracas-
so - Perda de controle - Estanca-
mento - Impossibilidade de chegar
Ruptura - Insatisfação
Desespero
 


 
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HISTÓRIA SAGRADA
 

A História se articula como uma série de acontecimentos no tempo onde se projetam, tal como na Geografia, as energias e potências verticais. Assim entendida, a História está balizada de feitos significativos que supõem uma ruptura do nível temporal, ordinário e profano, que nada tem que ver com as crônicas e estatísticas, às quais estão acostumados nossos contemporâneos, que só são capazes de se fixarem em determinadas anedotas devidamente documentadas (sempre com um propósito interessado, em particular no político, econômico, racial ou religioso). Como o espaço, o tempo não é homogêneo, mas tem cisões e fissuras por onde se revela o supra-histórico. Por outro lado, o centro sagrado geográfico e espacial, simbolizado pela Terra Sagrada, –e dentro de cada qual por seu próprio coração– é também o centro do tempo, do atemporal, onde se faz efetiva a comunicação com os estados superiores.
É o mito o que faz significativa a história de um povo; a criação de uma cultura ou civilização tradicional sempre parte de um acontecimento mítico e supra-humano, no qual uma entidade espiritual se manifesta (quase sempre Através de intermediários simbólicos, sejam animais, vegetais, minerais, ou graças a determinados personagens humanos, como estamos vendo nos títulos sobre Biografias), dando origem ao desenvolvimento dessa civilização. Como no caso de que se tratasse de um sutil cordão umbilical, esta vinculação íntima, que mantém uma cultura com o invisível e atemporal, é o que possibilita a regeneração periódica e cíclica dos homens que a integram. A verdadeira história de um povo, ou de um homem, reside em sua capacidade de compreender e sentir em toda sua plenitude a presença do sagrado, de estar reintegrado nisso, como uma unidade indissolúvel entretecida de múltiplas relações e da qual depende toda sua vida. Por isso existiram culturas que não tiveram história, tal como a entendemos hoje em dia, porque para estas o único válido, o único real, é o que não está sujeito às leis implacáveis do devir. Estas servem, em todo caso, como suporte horizontal onde se cumpre o destino histórico dessas culturas e civilizações. Mas para que este destino tenha sentido, devem depender inteiramente da ordem que expressam as leis universais, que são invariáveis e eternas.


 
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A TRADIÇÃO
 

A multiplicidade das tradições é uma forma evolutiva que reveste aquela Tradição Única das origens, no processo cíclico de queda através das idades históricas. E assim como na Árvore Sefirótica quatro planos progressivamente densos separam à Primeira Deidade do Reino deste Mundo, assim também no tempo as quatro idades –do ouro, da prata, do bronze e do ferro– marcam a progressiva ocultação daquela Tradição Primitiva sob o disfarce de tradições diversas e cada vez, na aparência, mais distintas, até o ponto de chegar a admitir contradições entre elas no plano de sua literalidade, que é o único que está ao alcance da generalidade dos homens na atual idade obscura. A isso se refere o mito bíblico da Torre de Babel, relativo ao momento em que o gênero humano começa a se interessar pelo desenvolvimento da civilização –as artes, os ofícios e as grandes empresas técnicas– e é "castigado" com a confusão das línguas.
Efetivamente, toda solidificação ou materialização implica multiplicação e divergência. Mas a multiplicidade de tradições é só aparente, e pertence ao plano ilusório que o budismo denomina Samsara, e o hinduísmo identifica com o Véu de Maia. A variedade de tradições pertence ao círculo exterior do símbolo da Roda. Elas são os raios que conduzem ao Cubo ou Centro, onde está se localizada a Tradição Unânime, da qual não deixaram de ser testemunhas os sábios e iniciados de todo tempo e lugar.
A Tradição (do latim tradere, transmitir) é a transmissão do conhecimento, entendido este em seus princípios imutáveis e universais, embora também em suas aplicações a todas as esferas da vida. Por isso a distinção entre esoterismo e exoterismo, que de um modo ou outro se dá no seio de todas as tradições. O último é o que se ocupa de organizar moralmente as sociedades humanas (pois como afirma Platão, e Face à visão moderna, moral e política são a mesma coisa). O primeiro mantém viva a chama da Verdade última, mediante a cadeia iniciática ininterrupta (que o sufismo chama silsilah) para aqueles que são capazes de acessar à realização espiritual propriamente dita.
Há portanto uma hierarquia entre caminhos funções da Tradição: as formas externas ou esotéricas degeneram e se extinguem quando perdem contato com seu núcleo esotérico. Equivalha como exemplo o ocorrido com o cristianismo a partir do século XIII: a desvinculação do papado e da hierarquia eclesiástica com respeito às organizações iniciáticas deixou à cristandade indefesa ante o assalto do pensamento profano e "científico", que tentou nestes últimos séculos corrigir e "melhorar" de fora uma doutrina tradicional efetivamente castrada de suas bases intelectuais, bases que não pertencem à organização exotérica e que são patrimônio do saber iniciático. Daí a contradição atual do Ocidente, dividido entre um "cristianismo insuficiente" e um saber "científico" que pretende completá-lo, mas que troca –como todo o profano– suas "verdades" ao som da moda.


 
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GEOGRAFIA SAGRADA
 

Já dissemos que a geografia (grafia da terra) concebida como espaço mítico destinado a ser reflexo da ordem celeste, é comum a todas a culturas tradicionais. Queremos recordar que esse espaço mítico é o Centro do mundo, onde o tempo (a história) também se contempla como não-sucessivo, sendo sempre novo e a regeneração uma realidade permanente, ao não perder a capacidade de assombro sua virgindade original. Na verdade a geografia sagrada é invisível, pois existe a "idéia" de uma terra ilimitada e primitiva, de uma "Terra Pura" ou de um Jardim edênico, que não esgota suas possibilidades generativas ao estar unida e fecundada pelo Espírito. A geografia é então um estado da alma (de se viver a própria existência inserida no universal), que, efetivamente, pode ser manifestada simbolicamente numa paisagem, no topo de uma montanha, no vazio de uma caverna, ou em qualquer topografia significativa. Os templos e cidades se erigiam nesses lugares, e sua construção se realizava segundo leis precisas derivadas de uma ciência sacerdotal, revelada pelos deuses.


 
52
NOTA
 

Esperamos que à medida que foi avançando no curso dos ensinos e exercícios contidos neste manual, ao qual se deve repassar freqüentemente, você possa ter agora novos pontos de partida para a investigação, ao mesmo tempo que a leitura destes textos lhe possa resultar muito mais sugestiva, e talvez reveladora. De toda maneira, são os preâmbulos de nosso trabalho integral, ao qual se deve dedicar igual firmeza e ardor que até o momento. Você avançou um passo, embora não saiba de tudo. Acaso tenha se feito evidente, redobre seus esforços, pois está fazendo algo por você mesmo e sua superação, e sempre esta dedicação é recompensada de uma ou outra maneira.
Pode ser que por falta de tempo, ou por outras razões muito específicas, o leitor não tenha efetuado todas as práticas e exercícios que demos e seguiremos dando. Nesse caso lhe sugerimos que vá anotando em uma ficha aqueles que não realizou, e os ordene por temas. Certamente chegará o momento em que possa efetuá-los e, então, você poderá praticá-los de forma ordenada. Trate de não omitir nada do que Agartha lhe oferece e deixe que o Ensino penetre completamente em você. Posteriormente, e de forma natural, ir-se-ão selecionando em nós os caminhos particulares e os tipos de temas de nossa inclinação, que deste modo podem se desenvolver em um leque de possibilidades.
Se algum ponto doutrinal lhe resultar ainda obscuro ou dificultoso, igualmente a certos exercícios, sugere-se passar adiante, sempre que se tenham efetuado certos esforços para superar a situação. Chegará o momento de se repassar estas lições, e então descobrirá que essas dificuldades foram se resolvendo, ou já não existem. Passado um tempo, o voltar para material de Agartha, desde o início, é extremamente proveitoso. Por outra parte, a leitura destes textos pode lhe aparecer nesse momento como nova, ou pode-se encontrar nela alguns pontos, ou temas, em que não havia reparado.


 
53
TARÔ
 

Tarô - A  Justiça

VIII — A JUSTIÇA: Aqui nos mostra uma mulher sentada, que sustenta uma espada com sua mão direita e uma balança com a esquerda. Embora esteja acostumado a se representar à justiça com os olhos vendados, dando a entender que a lei se aplica por igual a todos os homens, sem restrições de nenhuma classe, aqui a vemos com os olhos muito abertos, indicando a objetividade com a qual emite seus julgamentos. A espada se acha em posição vertical, ascendente, pronta para penetrar as aparências das coisas e atracar aos estados superiores do ser; e a balança está sustentada pelo eixo ou fiel, símbolo do equilíbrio e da harmonia que se obtêm quando se encontra o justo meio. Os significados favoráveis desta carta estão relacionados com as virtudes de um verdadeiro juiz, objetivo, neutro e desapaixonado; quando está ao contrário, fala de seus vícios e em geral nos mostra os desequilíbrios.
DIREITA
INVERTIDA
Lei - Ordem - Objetividade
Imparcialidade - Regularidade
Justiça - Harmonia - Consciência
Integridade - Equilíbrio
Rigor - Organização
Economia - Administração
Desapaixonamento
Bom critério
Neutralidade

Injustiça - Parcialidade
Desequilíbrio - Aburguesa-
mento - Desordem - Violência
Pleitos - Discussões
Arbitrariedade
Ladrões - Corrupção
Bandidos - Esbanjamento
Problemas econômicos
Falta de administração


 
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ASTROLOGIA
 

Freqüentemente se confunde hoje em dia a Ciência da Astrologia com a simples confecção de horóscopos, que sempre foi considerada pela Tradição como secundária, derivada e contingente. Isto não quer dizer que careça de interesse conhecer as influências planetárias que regem o dia e a hora de nosso nascimento, cuja investigação pode se realizar como prática para nos familiarizarmos com esta disciplina; mas é importante não perder de vista que o fundamental é conhecer os princípios e as normas que governam o céu, os quais se vêem também refletidos na ordem natural da terra. Não devemos esquecer que é graças aos astros que temos a possibilidade de compreender as leis que regulam o tempo e o espaço. Por um lado, é o lugar de saída do Sol e dos planetas que nos permite ter uma orientação espacial, conseqüentemente são também as esferas celestes que nos fazem ter a concepção de dia e noite, semana, mês ou ano, ou seja, da durabilidade do tempo.
Sempre partindo de um ponto de vista geocêntrico, e até mais, tomando ao observador –o homem– como o ponto central e imóvel a partir do qual fazemos nossos cálculos, o símbolo do zodíaco nos ensina a realizar a divisão "espacial" do tempo, quando nos mostra ao norte no Solstício de Inverno (Capricórnio), ao sul no de Verão (Câncer), a Leste no Equinócio da Primavera (Áries) e a oeste no de Outono (Libra). Estes quatro pontos ou signos cardeais estão em relação simbólica com a divisão quaternária do dia, do mês e do ano, com as quatro etapas da vida do homem e das civilizações, e com as quatro idades da humanidade (de Ouro, Prata, Bronze e Ferro), dando-nos portanto a possibilidade de estabelecer relações e analogias entre os ciclos naturais, históricos e cósmicos.
A Roda do Zodíaco realiza na aparência um percurso completo de 360° cada dia, ou período de 24 horas que demora a terra em girar ao redor de seu próprio eixo; o Sol, por sua parte, faz uma viagem ao redor dos 12 signos durante o ano, marcando as quatro estações que regem as leis da agricultura e da vida do homem. Mas os antigos também observaram graças aos planetas, a possibilidade de entender outras dimensões temporais, o que os levou a conhecer as Eras cósmicas ou "tempo dos deuses". Um exemplo disto o constitui o período de 25.920 anos, conhecido por todos os povos e explicado tanto pelos hindus como pelos pitagóricos e Platão, configurando o ciclo chamado pela Astronomia de precessão dos equinócios, que sempre se viu em relação com os períodos históricos da humanidade. Tomando como ponto de referência o Equinócio da Primavera, o Sol percorre durante esse lapso (de 25.920 anos, chamado "o grande dia de Brahma" pela tradição hindu) os 12 signos zodiacais, em um movimento circular invertido ao dos ciclos anual e diário, demorando 2.160 anos em cada um deles. As culturas deixaram claras amostras do conhecimento desse ciclo, e a Era de Touro foi simbolizada pelos egípcios (o boi Apis) e cretenses, assim como a de Áries (o Cordeiro) foi anunciada por Moisés ao povo judeu, e a de Peixes (os Peixes) pelo cristianismo que se identificou com esse signo. Sabemos graças aos conhecimentos que nos lega a Tradição, que estamos vivendo atualmente o ponto de transição entre o Peixes e Aquário, o qual indica claramente que nos encontramos no fim de um período cósmico, e que se aproxima a Idade de Ouro ou reino de Saturno (planeta que rege para a Antigüidade Aquário e Capricórnio).

Astrologia


 
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O SIMBOLISMO DA ESPADA
 

Mais que nenhuma outra arma, possivelmente seja a espada a que melhor serve para representar a luta que qualquer aspirante ao Conhecimento tem que empreender em um determinado momento de seu processo contra aqueles que constituem seus autênticos inimigos: os que leva em si mesmo. Dito combate é a "grande guerra Santa" da que fala o profeta Mahoma quando em uma de suas sentenças diz: "voltamos da pequena guerra Santa à grande guerra Santa", indicando assim que a primeira não é mais que uma representação exterior ou um símbolo da segunda. Não terá que esquecer, neste sentido, que a espada é o principal atributo do deus Marte, o númen que infunde o espírito guerreiro no homem, dotando-lhe, ao mesmo tempo, do rigor necessário para que saiba distinguir o engano da verdade e negar a negação. De fato, quase todos os heróis e deuses solares e civilizadores vencem as potências das trevas e do caos (representadas em todos os mitos pelas entidades ctônicas e telúricas como os Titãs, os dragões ou as serpentes) ajudados com espadas, ou com qualquer outra arma semelhante, como a lança, as flechas, o machado simples ou de duplo fio. Neste sentido, todas estas são armas que tradicionalmente se associaram ao raio e à luminosidade fulgurante do relâmpago, ou seja, que têm uma conexão direta com o simbolismo da luz, entendida como uma energia essencialmente fecundante, ao mesmo tempo que destruidora de tudo o que se opõe ao superior, isto é, a escuridão tenebrosa e a ignorância. Com esse espírito combate o herói germânico Sigfried, ou o cavaleiro cristão São Jorge, reflexo humano de São Miguel arcanjo, o chefe das tropas celestes.
Todos eles constituem os modelos exemplares desse combate interior, o mesmo que é sugerido por Cristo (que é a "luz verdadeira que, vindo a este mundo, ilumina a todo homem", conforme se lê no Evangelho de João) quando, ao expulsar aos mercadores que profanam o Templo de Jerusalém, adverte-lhes que não veio “trazer a paz, mas espada ". E essa espada que ele traz não é mais que o poder de sua Palavra ou Verbo, da qual emanam a Verdade e a Justiça (ver Apocalipse I, 16), e ante as quais nada pode a escuridão da ignorância, representada por esses mercados que comercializam com o mais sagrado. Estes seriam os verdadeiros inimigos –egos– ocultos (que em ocasiões aparecem em forma de personagens externos), aqueles que nos mantêm sujeitos aos estados mais inferiores, e de quem nos haveremos de liberar ou "desligar" para aceder à verdadeira Vida prometida pela Iniciação e pelo Ensino. A eles, terá que vencê-los, pois, com a força que outorga o Conhecimento, isto é, no plano das Idéias, pois na medida em que entreguemos a elas é que os poderemos reconhecer e identificar e, portanto, expulsar do Templo que edificamos no interior de nosso coração.
A este respeito, mencionaremos que a espada, tal como a lança, é um símbolo complementar da taça, como é o caso da lenda do Santo Graal, e sendo esta, como o próprio Graal, um símbolo da Doutrina e do Conhecimento, a espada o é da via que deve se seguir para alcançá-lo, quer dizer, aquilo que nos ordena a inteligência e a conduta, fazendo possível que tomemos verdadeira consciência de nosso eixo interno, e com ele da "Via do Meio" que assinala a direção vertical para a qual temos que tender permanentemente. De fato, a espada (como as diversas armas mencionadas anteriormente) foi considerada por todas as tradições como um símbolo do Eixo do Mundo, idéia que está presente quando a espada toma o lugar do fiel da balança, símbolo universal da Justiça e do equilíbrio cósmico, isto é da harmonia entendida como manifestação da paz. Esta significação "axial" da espada não terá que perdê-la nunca de vista, pois é a que lhe dá seu sentido mais profundo, já que dita paz, nascida da conciliação dos opostos, não só se expressa na ordem externa e social, mas também, e especialmente, no interno e no espiritual, que é, no fim e ao cabo, o objetivo que persegue a "grande guerra Santa".


 
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NÃO É POR MUITO MADRUGAR…
 

Um dos temas nos quais se faz insistência no percurso iniciático é o dos inimigos ocultos, ou seja, naqueles que não são evidentes para o aprendiz, ou que se disfarçam aparentando virtudes quando não são mais do que formas do homem velho, e graves inimigos no caminho do Conhecimento. Muitas vezes, soem se apresentar com a roupagem da moral e do oficialmente admitido como virtuoso e até "religioso", ao que graciosamente denominam "tradicionalismo". Outra das desagradáveis maneiras em que soem se apresentar estes demônios, diretamente associada com a que acabamos de mencionar, é o fato de supor uma virtude o despertar cedo pelas manhãs, especialmente nas grandes urbes, onde o corpo perdeu toda conexão com os ritmos da natureza. Este fato completamente normal é tomado por indivíduos simplórios como uma grande coisa, exemplo digno de ser emulado, embora deva se impor pela força, como no caso dos internatos, cárceres e quartéis. Embora não se leve em conta que este “'madrugadores” se levantam para jogar lenha ao fogo da máquina da sociedade moderna que nos está devorando, que eles criaram e alimentam constantemente com sua diligência.
O adagiário cunhou duas sentenças muito conhecidas com relação a este fato. A primeira diz "Deus ajuda a quem cedo madruga". Isso pode ser entendido como uma piada de humor negro, quando se pensa que os homens de hoje em dia, direta ou indiretamente, despertam dispostos a trair, mentir, murmurar, caluniar, roubar, destruir, etc., com o beneplácito e o patrocínio das entidades oficiais em meio da aprovação geral.
O segundo refrão deu título a esta nota e diz: "Não é por muito madrugar que amanhece mais cedo". Nele se adverte o oposto ao anterior, ainda que se o note muito mais elaborado, já que nega de fato a simplória crença literal que o primeiro sustenta, e aparece como uma clara sentença a um dos enganos (pecados) maiores e difundidos dos contemporâneos: o de que através das ações dos homens vai poder se obter o que sempre foi chamado, inversamente, a Graça de Deus.
"O espírito sopra onde quer" pode ler-se no texto sagrado. Sim, onde quer o espírito e não onde determinam os homens, ou em qualquer lado, por azar, como poderia compreender um literal, ou um “justo” muito madrugador. Um provérbio chinês diz: "Ao abusar da eficácia se produzem violências".


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TARÔ
 

Tarô - O Ermitão   VIIII — O ERMITÃO: A carta novena é solitária e melancólica. O antigo Saturno se apresenta aqui como um ancião sábio, o Pai e Mestre interno, conhecedor dos aspectos mais ocultos. Vê-se um homem de idade, que caminha lentamente, sustentando um abajur (símbolo da luz interior) em sua mão direita, e levando um bastão com a esquerda (que representa o eixo). Um manto azul -com amarelo em sua parte interior- cobre suas vestimentas vermelhas, e um capuz também vermelho cai sobre suas costas. Relaciona-se a carta com Cronos, o Tempo, que devora a seus filhos, e com a Antigüidade e a velhice, que a Tradição sempre concedeu a maior importância, respeito e veneração; e com a experiência, a lentidão, a paciência, a solidão, e, em geral, com as belas virtudes da ancianidade. Ao contrário, esta carta indica os vícios próprios de uma velhice carente de espiritualidade.
DIREITA
INVERTIDA
Tempo - Velhice - Tranqüilidade
Sabedoria - Solidão - Sensatez
Interioridade - Experiência
Conhecimentos ocultos - Paciên-
cia - Iluminação - Lembrança de Si
Desapaixonamento - Perseve-
rança - Generosidade - Filantro-
pia - Silenciamento das pai-
xões - Austeridade - Bondade
 

Irrealidade - Velhice - Solidão
Misantropia - Indiferença
Falsas crenças - Ocultismo
Ausência de generosidade
Obscuridão - Amnésia
Ignorância - Avareza
Impaciência - Lentidão
Certezas que não são tais
Mau humor - Atitude senil
 


 
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O JANTAR
 

Para este Programa, os mantimentos que nutrem o corpo físico são considerados como símbolos dos espirituais, que são os que alimentam a alma do ser humano. Este aspecto, que a sociedade moderna desconhece, é o que dá a toda comida ou alimentação um caráter ritual e sagrado. O estômago, que ocupa a parte média e central do corpo, representa um verdadeiro Athanor alquímico a forja de Vulcano, no qual as substâncias positivas dos mantimentos se sutilizam passando ao sangre (vivificador de todo o organismo), e as negativas e imprestáveis grosseiras passam aos condutos labirínticos do intestino para sua posterior evacuação. Quer dizer, que se realiza a operação de separar o espesso do sutil. Já sabemos que para qualquer cultura tradicional o corpo é uma entidade sagrada e seu funcionamento está em correspondência com os ciclos e ritmos do universo, constituindo também um receptáculo dos eflúvios divinos. Ao comer, o homem assimila o cosmo exterior a seu próprio cosmo corpóreo e sutil, quer dizer, integra-se harmonicamente com o mundo que o envolve e do qual forma parte. E esta comunhão produz uma alegria, análoga em outro plano à experimentada pela emoção que gera a contemplação da Beleza, pois também viver de Beleza e Amor é alimento. Este, e não outro, era o sentido que tinham as bacanais grego-romanas e a alimentação realizada pela comunidade em determinadas festas de todas as tradições, que eram acima de tudo comidas rituais coletivas onde se oferecia culto às energias celestes por intermédio da manifestação das energias da vida e da natureza.
Um sentido especialmente significativo é o que reveste o Jantar. Por seu caráter noturno e por anteceder ao sono, que é símbolo da morte e do ingresso em outro estado do ser, teve, e segue tendo, uma particular importância entre as diversas tradições, como é o caso do Cristianismo. A Santa Ceia que Jesus Cristo ofereceu aos apóstolos (antes de sua crucificação) instituiu o mistério da Eucaristia sob as espécies do Pão (corpo) e do Vinho (sangue-espírito), produtos vegetais extraídos da natureza e elaborados e fermentados pelo Fogo, origem da luz e do calor. A Santa Ceia, além do aspecto sacrifical e espiritual que representa, é um símbolo do laço íntimo de solidariedade e amor fraterno que deve unir a todos os homens que assumam sua condição de tais. Neste sentido a palavra cenáculo, que provém de jantar, indica o lugar onde se reúnem homens que compartilham essencialmente as mesmas idéias, em relação com as quais os sentimentos e paixões próprios do humano têm que se encontrar em perfeita harmonia.


 
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A LIRA DE APOLO E A FLAUTA DE ORFEU
 

Conceber o tempo sem o espaço como referência é impossível, pois só quando se entra em relação com ele, através do movimento, torna-se inteligível. Isso se deve a que possui por natureza uma qualidade superior, ao estar de algum modo menos determinado que aquele [N.T.: o espaço]. A música, arte do ritmo e da harmonia por excelência, é sem dúvida a que de maneira mais óbvia e bela revela o caráter cíclico e recorrente do tempo, desmentindo a absurda concepção linear, uniforme e quantitativa que dele forjou a mentalidade profana. O número é a estrutura do ritmo, e como tal é "qualidade" manifesta que se distingue nitidamente da pura agitação, como a música e a melodia o fazem do ruído; esta concepção "auditiva" do cosmo nos aproxima do invisível, ao sutil, a tudo aquilo que está além da constatação sensível em geral.
A potência divina cria pois o cosmo a partir de ritmos, de alteridades, que ora se equilibram, ora se desequilibram, sem sair jamais do diapasão divino. A Beleza, um dos nomes divinos, ao se manifestar o faz através da perfeição das formas, e estas, antes de suceder grosseiras, configuram idealmente a ossatura sutil e formativa do universo, a arquitetura invisível do cosmos. Dita arquitetura é realmente uma linguagem divina e maravilhosa cuja apreensão está diretamente vinculada à intuição intelectual do coração, sacrário do templo humano e sede de todas as teofanias. A música platônica das esferas ilustra de maneira perfeita esta concepção ao descrever o cosmo como uma imensa caixa de ressonância, que não faz mais que amplificar energias virtuais até as levar a sua concreção efetiva para, em seguida, devolvê-las a sua origem, como faíscas, brilhos ou reflexos transitórios de um arquétipo imutável. Solve et coagula são na Alquimia hermética (ou condensação-dissipação no extremo oriente), a fórmula deste duplo movimento simultâneo, que faz possível a maravilha da existência universal e individual e suas indefinidas inter-relações.
As qualidades dos sons, ligadas, como vimos, aos planetas, estão-no também aos elementos. E igualmente os instrumentos que os reproduzem: de sopro, corda, percussão, etc., têm ao ar e à terra como módulos terrestres, e ao fogo como celeste, já que é o despertar do "fogo interno" a missão principal da música, especialmente a sagrada. Como manifestação da Harmonia Universal, a música contém em si potencialmente todas estas energias. E é pelo fato de que "o semelhante atrai o semelhante" que sua ação sobre a psique humana desperta logicamente seus respectivos homólogos, assim como também o poder de os ritmar entre si. Os diferentes tempos e marchas reconhecidos nas partituras clássicas ocidentais somente traduzem o efeito das energias da alma sobre a criação musical e vice-versa: andante, alegro, patético, brio, moto, são apenas estados da alma que revelam de por si um drama interno entre vários ritmos e personagens, cuja descrição alegórica a encontramos imemorialmente em todos os mitos e cosmogonias antigas.


 
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NOTA:
 

Ocorre, às vezes, que há momentos neste trabalho onde aparentemente não acontece nada. Em ocasiões, queixamos-nos dos tempos em que estamos agitados; tudo nos move e as tormentas nos cambaleiam. Mas há outros ainda piores nos quais não acontece absolutamente nada. São aqueles períodos em que os navegantes da busca, da aventura do Conhecimento, denominam "calmaria". A imobilidade aqui é pura rigidez e desesperança. Este nada não é o En Sof da cabala hebraica, apenas seu reflexo invertido. Tudo se apresenta como uma via morta, uma porta fechada ou uma banalidade. Não há coisa mais dura que estar estagnado sem receber o sopro ou o vento do Espírito, ou dos espíritos, ao menos. Aqui é onde devemos redobrar nossos esforços. Este é o momento em que devemos reiterar uma e outra vez nossos ritos e tomar consciência de que não há vida, nem trabalho, sem sacrifício. Lutar nestes momentos é uma necessidade e quanto mais encarniçado, inteligente, concentrado e honesto seja nosso combate interno, maior é a possibilidade da vitória.


 
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TARÔ
 

Tarô - A Roda

X — A RODA DA FORTUNA: Com o décimo arcano termina o ciclo dos nove números naturais mais o zero, e se anuncia um novo ciclo. Carta de mudança e de movimento, representa a roda da vida e das encarnações (o que no budismo se denomina Roda de Samsâra) da qual teremos que nos liberar graças ao processo iniciático, subindo a outras regiões do ser. Dois animais giram ao redor da roda –um desce e o outro sobe- e sobre ela, mais à frente do movimento, encontra-se uma esfinge, símbolo, entre outras coisas, da união dos quatro elementos. A circunferência se encontra unida por seis raios ao ponto central da roda -de cor vermelha-, da qual sai uma manivela -a mão é invisível- que a faz girar. A base, em forma de escada, fala-nos das possibilidades da ascensão. Relaciona-a também com a sorte e com a fortuna, com o fortuito e com o azar.
DIREITA
INVERTIDA
Mudança - Movimento
Circunstâncias favoráveis
Possibilidade de ascensão
Saída do retorno - Forma ou Ma-
neira de aproveitar oportunida-
de - Boas possibilidades
Boa fortuna - Azar - Sorte
Acontecimentos fortuitos
Nova perspectiva da realidade
 

Reiteração - Retorno
Lábia
Irresponsabilidade
Manias - Hábitos
Rotina - Costumes
Instabilidade - Precipitação
Vagabundagem - Preguiça
Azar - Fortuna menor
Indolência – Boêmia


 
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OS QUADRADOS MÁGICOS
 

Vimos em reiteradas ocasiões que o símbolo da Terra é o quadrado. Esta figura geométrica de quatro lados iguais é a expressão do conceito de quaternário e nos transmite imediatamente a idéia de ordem, harmonia e equilíbrio entre as distintas tensões de suas partes, que se conjugam e neutralizam em um ponto comum de onde igualmente emanam de maneira permanente.
Sabemos também que o quadrado no tridimensional se converte em um cubo, e é evidente que este corpo constitui um símbolo do sólido e um exemplo nítido do que é uma estrutura. Todas estas imagens mentais se associam imediatamente quando se trabalha esotericamente com o quadrado que é a representação, no plano, da Terra, tomada esta palavra em seu sentido mais amplo, ou seja: as coordenadas espaço-temporais (verticais e horizontais) aonde o homem está inscrito, as que também sinalam e limitam simbolicamente à figura do quadrado. Nas civilizações tradicionais, esta figura era sagrada –como sua complementar o círculo– por ser um símbolo transmissor e receptor das energias-força do desconhecido, às quais manifesta, sendo o depositário de uma carga mágica poderosa, suscetível de ser transformada e utilizada para diversos fins rituais e cosmológicos. E se essa carga mágica se multiplica e se projeta simetricamente criando o quadriculado (delimitado deste modo dentro de um quadrado), onde os possíveis elementos dispersos se unem e coerem em um todo, graças a uma ordem invariável e a diversas particularidades que se convertem em leis gerais, aumenta-se o poder generativo e protetor desta figura, que encerra dentro de si as mesmas leis universais da Criação íntegra, e que as traduz com igual discurso, fato de que são testemunhas os símbolos numéricos e geométricos e todos aqueles que se possam relacionar com eles na harmonia matemática destas associações.
Quase todos os povos e tradições utilizaram estes quadrados mágicos e os consideraram tanto instrumentos de conhecimento, como potentes talismãs capazes de ordenar e também de desatar as indefinidas energias e forças que constantemente estão articulando o cosmo. O mais definido destes pantáculos ou mandalas, presente, entre outras tradições, na China, no Islã, no misticismo judaico, e igualmente entre os adeptos da Tradição Hermética, é o que damos a seguir, chamado o quadrado mágico de 15, ou quadrado natural, no que a soma dos números de 1 a 9, inscritos dentro dos fichários, (efetue-se em sentido vertical, horizontal ou diagonal) resulta sempre 15. Ilustrando, diremos que a civilização chinesa derivou desta estrutura a organização social e política de seu império.
Deste modo, na Cabala hebraica estes números são suplantados pelas letras de valor correspondente, abrindo o campo a toda sorte de imagens e conceitos relacionados com as palavras e suas raízes, o que equivale a trabalhar com a Ciência dos Nomes.
Igualmente os alquimistas associavam quatro formas de construir numericamente este quadrado, com os quatro elementos, e o vinculavam com os três princípios essenciais (tem três colunas), que em uma dança contínua produzem a ilusão da matéria.
Também os astrólogos trabalharam com estes quadrados carregados de símbolos numéricos, alfabéticos e cosmogônicos, e os associaram com os planetas e com o mapa do céu (assim como os alquimistas com os metais).
Oferecemos a seguir a correspondência entre os distintos planetas e os quadrados mágicos correspondentes: o quadrado natural, ou de base 15, é o atribuído a Saturno. o de 4 colunas e de base 34 (de acordo aos números atribuídos aos fichários correspondentes, os que sem repetir-se nunca somam em qualquer sentido essa cifra), está consagrado a Júpiter. O quadrado mágico de 5 colunas, cuja base numérica é 65, a Marte. Ao Sol se associa o de 6 por 6 colunas, cuja cifra base é 111. O de 7 colunas é atribuído a Vênus e sua base é 175. O quadrado mágico de Mercúrio contém 8 colunas por lado e seu número base é 260. E finalmente o da Lua, de 9 colunas, é baseado no número 369. Como se poderá observar, as relações com a Árvore da Vida Sefirótica são evidentes, o que nos leva a compreender que na verdade todas as disciplinas que se conformam à Tradição Hermética, a Magia inclusive, não fazem senão expressar uma só e única Ciência, que se manifesta em diversas linguagens, ordens e formas.


 
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EXERCÍCIO DE SOM:
 

Devemos recordar que de acordo ao que aqui se disse com relação à respiração, à vibração, à voz e ao som, estes temas se referem à afinação do homem, como instrumento musical, por intermédio da voz, tomada esta como imagem do som harmônico das esferas celestes. Utilizaremos neste caso um mantra, ou seja, uma emissão sonora muito singela. Ela será, para os efeitos desta prática ritual, o som da letra "A", primeira dos alfabetos latino, grego, hebraico e árabe, e também do nome de nosso Programa.
Coloque-se sentado mantendo suas costas eretas e comece a se concentrar, utilizando os exercícios que tenha praticado. Logo depois de se concentrar, comece a relaxar, a tal ponto que se possa sentir como uma cana vazia, ou um tubo, que conecta com o mais profundo. Inale suavemente e leve o ar para o interior do estômago. Deixe que desta interioridade surja o som por meio de sua voz, claro e uniforme que, ao emanar, ressonará na caixa torácica. Permita que a garganta e a boca modulem a forma do "A", e que a vibração invada e encha todo o âmbito.
Ou seja, aspirar o som inaudível, depositá-lo no mais fundo de nós, e deixar que surja lentamente a voz e se expresse de forma completa, comunicando-se energeticamente com o Cosmo inteiro. Repita esta prática durante 10 ou 20 minutos diários.
 
Letra A
63
TARÔ
 

Tarô - A Força

XI — A FORÇA: Vemos aqui uma bela mulher, que sem esforço aparente, e sem exercer nenhuma violência, abre as fauces de um leão, dominando-o. Simboliza a força da inteligência, capaz de dominar as paixões graças ao fogo interno do amor e da vontade. O fato de representá-la com uma figura feminina nos indica que não se trata de uma força bruta ou física, mas sim de uma energia sutil, como a da mente, muito superior em qualidade e elevação. Esta carta significa o influxo espiritual que penetra os corpos, transformando-os. A matéria alquímica já está preparada, e o fogo da paixão se acende para dar início à obra da transmutação; esta poderá ser obtida se o fogo permanece aceso. Relaciona-a também com ocupação manual e com a indústria, e nos ensina a aceitar a responsabilidade que implica o trabalho interior.
DIREITA
INVERTIDA
Força interior - Inteligência
Força do amor e a paixão
Influxo espiritual - Sutileza
Força da palavra - Localização
Força da Vontade - Adapta-
ção - Persuasão intangível
Dominação da matéria - Indús-
tria - Artesanato - Aplicação da
ciência - Aceitação de
responsabilidade

Luta - Guerra
Conquista violenta
Luto - Incêndio - Cólera
Reações inesperadas
Violência - Desgarra-
mento
Negatividade - Estupidez
Desejos
Densidade
Operação cirúrgica 


 
64
A LUZ
 

Quando nos diversos textos tradicionais se fala da Luz, terá que entendê-la sobretudo como um símbolo da Inteligência, constituindo o aspecto material seu suporte sensível e simbólico. Entendida desta maneira, a Luz representa uma força ou energia divina, o núcleo central, interno e gerador do que se irradia toda a vida do ser cósmico e individual. Essa Luz inteligível e sutil procede do fogo do Espírito, como a luz física provém da enorme massa de fogo que é o Sol. Daí que constantemente se faça uma transposição simbólica entre um e outro. Esta qualidade da luz está claramente assinalada pelo próprio processo da Iniciação, pois esta se concebe fundamentalmente como uma progressiva “iluminação interior” que dissipa as trevas da ignorância, que são assimiladas ao profano e infra-humano.
Em escala universal, este processo é análogo ao Fiat Lux (Faça-se a Luz) cosmogônico, produzido no princípio dos tempos pelo Verbo ou Logos que dá origem à criação. "No princípio era o Verbo e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus... Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens, e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a receberam." (João I, 15). "O povo que habitava em trevas viu uma grande luz e para os que habitavam na região de mortais sombras uma luz se levantou." (Marcos, IV, 16). Estas citações evangélicas se referem naturalmente a Cristo, pois ele encarna, na tradição cristã, essa ação iluminadora do Espírito que penetra na matéria tenebrosa e substancial, fazendo-a passar da potência ao ato, ou do caos à ordem. O Sol repete diariamente este rito quando, ao sair pelo Oriente, ilumina o mundo submerso na escuridão da noite. É interessante advertir que o termo "dar a luz" ou "iluminação" se aplica por igual ao parto carnal e ao nascimento espiritual, com a diferença de que o primeiro necessita de um suporte exterior, enquanto que o segundo se cumpre na mais completa solidão, na própria pessoa, no mais secreto da caverna do coração.


 
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ALIMENTAÇÃO E SAÚDE
 

Estes dois termos do parágrafo estão intimamente relacionados com o natural, e cabe perguntar-se o que é que cada um entende por isso. Igualmente no que se relaciona ao conceito atual de saúde. Efetivamente, nos povos tradicionais, ou primitivos, o conceito de saúde-enfermidade (dois opostos que não se contradizem) é bem diferente do conceito moderno, que só se refere a ele como ao funcionamento hipotético de um corpo físico "ideal" que constitui nossa posse, e não toma em conta a inter-relação deste corpo com o Universo e com as múltiplas forças que o conformam. Sendo que, além disso, o oficialismo contemporâneo exclui do binômio saúde-enfermidade a esta última, por uma espécie de associação com o mal, ao qual o homem moderno nega, atribuindo a esse "mal" as características do que lhe desagrada e não quer reconhecer em si, motivo pelo qual o bem não é a conjunção constante de opostos, mas um imaginário estado a se alcançar, que troca com os ventos da moda e da relatividade dos usos e costumes. Neste sentido, seria interessante nos fazermos uma pergunta: qual é a estranha associação que se faz atualmente entre a saúde e certos esportes? Que relação guardam certas ginásticas e movimentos forçados, verdadeiros castigos corporais, com a saúde?
Melhor ainda: no processo da Iniciação, que corresponde a uma inversão completa de nossa vida (pois as concepções profanas começam a converter-se em sagradas), e que por certo inclui um descida aos infernos, os sintomas que se percebem não são "saudáveis" (como o testemunham as vidas míticas e exemplares dos grandes mestres, iniciados e filósofos), nem "belos" em uma leitura estereotipada destes termos, mas se apresentam como grandes choques, dos quais de maneira nenhuma estão ausentes a enfermidade, a dor, e por certo a morte.
Por outra parte devemos nos enfrentar com a imposturada instituição da higiene como moral, a convenção como moral, o "saudável" do trabalho pelo próprio trabalho, as "boas" e "corretas" atitudes e costumes como equivalentes ao bem. No mesmo sentido, compreende-se o "sentir-se bem" e o "conforto espiritual" e, igualmente, a bonança econômica como o "bom". Também se considera como boa ou saudável a oficialização de uma atitude solene, digna e pomposa, ao extremo de confundi-la com o sublime. São exemplos disso certas cerimônias civis, onde a impostura e o fingimento que conduz este tipo de atitude, baseada numa absoluta falta de crença nos mais elementares valores, fazem-se patentes. Pelo que, tudo isto deve ser simulado para que não se descubra o engano (atuado em um tablado dentro da farsa), que definitivamente não tem importância, posto que assim é o que se considera a "vida", em que terei que tomar determinadas posturas para ser respeitado, ou ao menos não ser criticado pelos vizinhos, e onde o mais desonroso não seria cometer delitos, e sim perder a "dignidade" por isso, o que equivaleria a aparecer no periódico por esta circunstância. Ou seja envergonhar-se por ser descoberto e fazer o ridículo na atividade delitiva generalizada. Assuntos e derivações que, na nossa maneira de ver e entender, não têm relação com a "saúde mental" nem com a "higiene moral".
O que são definitivamente saúde e enfermidade? Sinceramente, é difícil definir a "saúde" e o mais provável é que ela seja indefinível. Em todo caso, se a saúde for algo, ou ao menos um estado, este seria de harmonia e conjugação no permanente desequilíbrio. E isto só se obtém a nível espiritual, em que se pese que o corpo sofra os achaques da dor e as premonições da morte. O que é veneno para uns, para outros (ou para eles mesmos em diferentes condições e circunstâncias), é medicina salvadora.


 
66
NOTA:
 

Esperamos que tenham seguido com atenção o desenvolvimento do Ensino e que ele tenha produzido seus efeitos em cada um. Igualmente nos felicitamos de que tenhamos chegado conjuntamente a um ponto que constitui uma baliza em nossa meta. Propomo-nos aprofundar e ampliar os temas que se foram esboçando e destacando, com o fim de obter os frutos que este manual se propõe. Para isso, devemos contar necessariamente com a participação espiritual ativa do leitor e de sua sede renovada de conhecimentos, assim como com sua vontade decidida, sua paixão pelo que faz, e o equilíbrio e a paciência requeridos para a efetivação do trabalho alquímico.


 
67
TARÔ
 

Tarô - O Enforcado

XII — O ENFORCADO: Aparece nesta lâmina um homem enforcado por um pé, realizando o sinal do quaternário com as pernas e o do ternário com os braços (3 x 4 = 12). É a carta da iniciação, que simboliza o começo do processo vertical, contra a corrente (como o salmão, que nada em direção contrária procurando sua origem e destino), e que leva toda a intensidade do impulso inicial, nesta viagem para outros planos e níveis do ser, que sendo invertidos com relação ao mundo ordinário, são também complementares com este. Aqui há o significado da determinação e do sacrifício (sacrum facere) que realiza quem se abandonou confidencialmente à Vontade suprema, começando a desdobrar e desenvolver suas potencialidades e talentos, como uma boa semente, que tendo sido semeada em boa terra, começa a germinar, anunciando os frutos que se produzirão com a perseverança.
DIREITA
INVERTIDA
Iniciação - Determinação
Movimento ascendente
Intensidade
Abandono - Heroísmo
Reestruturação - Confirmação
Começo de um processo
Sacrifício com sentido
Boa semente - Crescimento
Semente - Fertilidade - Boa terra 

Dúvida - Vacilação
Girar no vazio
Frustração - Esterilidade - Trai-
ção - Detenção - Ausência
Ansiedade - Desconforto
Vazio
Infertilidade
Terra erma - Aridez
Sementes que não frutificam
 


 
68
DEUS EXISTE?
 

É lógico que se o conhecimento e a consciência que tem o homem de si mesmo e do mundo não supera o horizonte de seus sentidos, este fracasse na tentativa empírica e dialética de encontrar uma resposta ou demonstração a tudo o que lhe ultrapassa e transcende. A própria noção de Deus não faz senão englobar e resumir em uma palavra esse “tudo”. Como ser criado e existente o homem não pode conceber senão o que existe ou é de algum modo; a esta condição temos que acrescentar outra não menos importante: a forma. Se o informal ou supra-individual escapa ao entendimento racional imerso nos limites da sucessão temporal e da dualidade, tanto mais difícil lhe será conceber o ilimitado, a um não-algo, ou seja, ao não manifestado, ao que transcende por completo toda existência condicionada? O Um e sem par, só pode ser conhecido necessariamente por si mesmo, como poderia Deus, o Criador ou o Sujeito Universal por excelência, ser objeto de conhecimento de alguém que não seja o Si-mesmo?
A afirmação unânime da Unidade por parte de todas as tradições não se apóia na existência ou não existência de Deus, a não ser na Não-Dualidade Absoluta e Metafísica de todos seus possíveis aspectos, sejam estes imanifestados ou manifestos. Toda afirmação supõe uma noção preexistente, e a negação, uma prévia afirmação. Sem a idéia anterior e primitiva de um Princípio Universal, não existiriam nem deístas, nem ateus, nem politeístas. O ateu, por exemplo, para negar a Deus necessitou primeiro supor sua existência (seu Ser). Não obstante, ante esta confusão, se um certo deísmo fica justificado exotericamente ante a necessidade de evocar ao objeto último da fé, igualmente se justifica um certo ateísmo se o entender, claro está, não como uma pura e absurda negação para tudo o que não se compreende, mas sim como um lógico rechaço aos estereótipos morais e sentimentais que de Deus oferece atualmente a religião oficial. As doutrinas metafísicas orientais e as tradições arcaicas, por exemplo, não são deístas nem atéias. A prolífica multidão de deuses que povoam os panteões tradicionais revelam tão somente a infinita riqueza de matizes e aspectos que possui o Único e Inominável, e nada tem que ver com a versão atual do politeísmo. O nome completo e verdadeiro de Deus, diz a tradição cabalística, é impronunciável, tão somente pode soletrar-se (YHVH). As indefinidas combinações a que se emprestam suas letras (às que contempla a ciência cabalística da Temurah) criam e produzem deste modo todos seus nomes e aspectos possíveis enquanto entram em relação com o manifestado.
Realmente Deus não existe se por existência entendemos qualquer modo condicionado do Ser; se neste sentido Deus existisse, já não seria Infinito e Eterno (nem tampouco o Criador, o Supremo Artífice), mas apenas uma criatura, algo criado, em suma. Gêmea à sua infinita transcendência está sua absoluta imanência; Deus é tudo sem exceção já que nada poderia sair da Unidade indivisível de Tudo e ser um "outro" à parte. "Não há mais divindade (ou realidade) que Allah", reza a sentença islâmica. Certamente as limitações da linguagem humana e racional são as primeiras em obstaculizar a expressão de noções que estão mais à frente do alcance da definição e da dialética, pois toda definição já é uma limitação da Realidade Ilimitada. Do núcleo à periferia do Ser, existem inumeráveis estados intermédios graficamente representados por indefinidos círculos concêntricos ao redor de um só ponto.
Naturalmente o Centro ou Deus em Si mesmo não é a periferia, tanto quanto nosso corpo não é nosso verdadeiro ser, mas sim tudo é uma única e mesma realidade inseparável, Ser e Não-Ser, anterior ou posterior, princípio e fim, são parâmetros humanos de compreensão que se unificam na Via do Meio. Todos os seres são letras cuja reunião forma um discurso que prova a existência de Deus (ou seja a presença de Deus em tudo), quer dizer a "Inteligência" que pronuncia esse discurso; já que não pode haver discurso sem verbo, nem nada escrito sem escritor.


 
69
ESPÍRITU-ALMA-CORPO
 

No Título N.º 65 deste Módulo, sob o genérico de "Alimentação e saúde", advertimos sobre certos enganos e modos de ver literais que podem se constituir em verdadeiros obstáculos do Conhecimento. Tratava-se ali de temas como o da substituição do sobrenatural pelo natural e de equivocados conceitos sobre a saúde-enfermidade (relacionados de modo simplificado com o bem e o mal) e deste modo com errôneos critérios sobre o "misticismo" e a "espiritualidade", aparentando-os com determinadas práticas profiláticas e higiênicas e até com algum tipo de moral (equivalente a meros sentimentalismos e devoções) em substituição do autêntico caminho, portador dos segredos da Ciência Sagrada. Estes equívocos possuem um denominador comum: a pretensão de materializar o espiritual (até com bom ânimo, ou seja: fazê-lo mais acessível, o que de todas maneiras é uma impossibilidade), engano que é próprio da sociedade atual, que crê exclusivamente no materialismo, que quer ser profana e dessacralizada e que não faz outra coisa que negar o Espírito, comungando com o que não é. A seguir referiremos a certas apreciações referentes a espírito-alma-corpo e também ao que se pode compreender pelo interno-externo; porque pensamos que, ao redor destes temas, podem se produzir confusões, algumas delas derivadas de problemas de terminologia, na maior parte das vezes de apreciações superficiais, certamente enraizadas em idéias limitadas, daquelas que circulam hoje tão profusamente.
Em primeiro lugar, diremos que o binômio espírito-corpo não é tal para a Doutrina Tradicional, que reconhece um terceiro elemento, a alma (o ânima ou psique) entre ambas. Em termos do código cabalístico em que estamos nos expressando e que nosso leitor conhece, diremos que a primeira tríade, com Kether à cabeça, ou seja o plano de Atsiluth, poderia ser equiparada ao espírito, enquanto que a de Asiyah e o reino de Malkhuth seriam similares ao corpo. A alma (alma ou psique) seria o que os cabalistas denominam as seis sefiroth de "construção", ou seja, o grande plano intermédio, subdividido por sua vez em dois mundos: o de Beriyah e o de Yetsirah, o psiquismo superior e o inferior, respectivamente. Como nosso leitor já sabe, todos estes planos se complementam e conformam as emanações do "Um sem par" no seio da manifestação. Entretanto a cultura moderna, sobretudo depois de Descartes, estabeleceu uma dualidade antinômica entre espírito-corpo (excluindo sempre um em benefício do outro), pelo que se chegou ao desconhecimento do verdadeiro Espírito, que foi suplantado pela alma (o anímico ou psíquico) como uma impostura do espiritual. Tudo isto agravado pelo fato de que, nos tempos atuais, este psiquismo se expressa muito mais em seu grau inferior que no superior. Entretanto, –em que pese este engano da alma que se faz passar pelo espírito, sobre o qual logo voltaremos– os termos contemporâneos de espírito e corpo são o suficientemente gráficos e claros para que possamos dizer algo a respeito. Sobretudo quando na atualidade há uma série de "escolas" que cunharam certas frases publicitárias como "ama seu corpo", que são objeto de admiração e até de culto, igual que o corpo físico ao que se referem e com o que pretendem (Oh, paradoxo!) passar a outros "estados" (aos que eles virtualmente negam), por uma espécie de "crença" que supõe que, por meio da exaltação reiterada e mecânica da matéria se pode chegar a algum lado que não seja ao próprio culto ao corporal, ao relativo e limitado, o que equivale à exaltação de um de nossos egos, tão falacioso como os outros. Neste sentido, deve se dizer que espírito e corpo estão invertidos um com relação ao outro. Do ponto de vista do espírito, este é o primitivo. Do ângulo de visão do corpo, ele é o primeiro. Deste modo, desde Kether, Atsiluth é o primeiro plano e Asiyah o último. Desde Malkhuth, Asiyah é principal e Atsiluth final.
Queremos esclarecer que em nenhum texto sagrado tradicional se fala de "ama a seu corpo", concepção impossível de encontrar na Antigüidade, embora não desconhecida por ela. Há exemplos notórios do contrário; no Evangelho cristão, verbi gratia, o primeiro grande mandamento é o de amar ao Senhor (seu Deus) por sobre todas as coisas. Estas palavras têm por outra parte uma razão essencial de ser e são prevenções que não terá que esquecer: a da primazia da ordem espiritual sobre a ordem corporal-material-superficial, o que sempre se deve recordar para não cair no equívoco social que hoje nos tocou viver. Também queremos incidentalmente dizer que, o que atualmente muitos entendem por "sentir", como garantia de certeza, é extremamente relativo. Esse "sentir" que é sua garantia poderia estar tão condicionado como o "pensar" ou "acreditar" na sociedade de consumo ou em qualquer outra nimiedade ou assunto. O "sentir" pode ser só uma exaltação desmedida do ego, e se chega a "sentir" –e a fomentar esse "sentimento"– por qualquer coisa. Os sistemas totalitários e as quadras de esportes de futebol dão bom exemplo disso.
O mesmo acontece com o interno e o externo. Talvez seja singelo para alguns dizer o que é o externo, associando-o a sua corporalidade. Mas o que é o interno? O verdadeiramente interno seria o plano de Yetsirah, associado a nosso psiquismo inferior, ou até o de Beriyah ligado ao superior? Ou seriam esses dois mundos apenas degraus para atracar a nosso autêntico Ser? O mais interno não seria o mais autêntico e profundo e também o mais desconhecido?

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Não é através de quão natural os povos e os homens conheceram o sobrenatural, a não ser ao reverso: do sobrenatural, quer dizer, da compreensão da Unidade Transcendente e Eterna, e até do Não-Ser metafísico, é que derivaram suas condutas e apreciações sobre eles mesmos, o que equivale a entender sua própria natureza e a do mundo que os rodeia. Igualmente, não é por intermédio do "corpo" –e menos ainda do que se entende hoje em dia pelo corporal– que se chega ao Espírito, mas sim pelo contrário, uma visão literal e fixa da corporalidade conforma um obstáculo definido para a percepção do autenticamente espiritual. E muito pior ainda é o que ocorre quando se separa nitidamente ao corpo do espírito, outorgando a este último características que caem diretamente no plano do anímico, o que equivale a confundir o psicológico e suas complexas tortuosidades com a verdadeira espiritualidade.


 
70
NOTA:
 

A esta altura do Ensino, pode ser que você ainda não soubesse ou compreendesse com clareza o que é verdadeiramente o conteúdo deste manual. Não o dê então por sabido como está acostumado a ser o habitual e volte a estudá-lo, relendo em profundidade e com suma lentidão (retardando o tempo) tudo o que nele se contém. É muito mais nobre e produtiva esta humildade, ou melhor, esta franqueza para com a gente mesmo, que supor o que ainda não se sabe, ou colocar uma rápida etiqueta naquilo que se quer despachar para sair outra vez do passo. Estas releituras lhe brindarão com mais de uma surpresa e lhe oferecerão numerosas perspectivas, com as que neste momento, acaso, você não acreditava contar. Pensamos que é válida e nos está permitida a sugestão anterior avalizada pela experiência na realização de nosso Programa.

71
TARÔ
 

Tarô - A Morte

XIII — A MORTE: Nesta carta, em que predomina a cor negra da imanifestação, vê-se um esqueleto "vivo", que ceifa com uma foice, cortando os membros dos seres manifestados, dispersando-os. No processo iniciático é necessário experimentar em vários níveis o paradoxo de viver a morte, morrendo aos aspectos inferiores e renascendo "de cima" aos estados superiores do ser. O adepto pensa constantemente nela, tomando consciência do ilusório desta vida transitória, e sabendo que nos mistérios da morte estão ocultos os da imortalidade. Ela é uma aliada que nos ensina a meditar no metafísico e no transcendente; é regeneradora, e junto com a vida é nossa verdadeira iniciadora. A idéia da morte está ligada à de ressurreição, pois sempre ocorre em um plano, terminando um ciclo e dando lugar a um novo em outro nível.
DIREITA
INVERTIDA
Ressurreição - Mudança de pele
Investigação - Metafísica
Processo de desenvolvimento
Vislumbre de consciência - Chamados
Passo fundamental - Assinale
Desenvolvimento cíclico
Morte em um plano
Nascimento - Indicações
Movimento cíclico

Fim necessário
Aniquilação - Imobilidade
Morte em um plano
Ausência - Detenção
Prazo que vence
Caminho sem saída
Sonambulismo - Desvelo
Enfermidade
Enfermidades crônicas
 


 
72
ALQUIMIA
 

Há momentos no processo do conhecimento que a Alquimia denomina putrefação e nigredo. Estas são etapas e estados dissolventes aonde o adepto visita as vísceras da terra e perambula pelos corredores das trevas interiores. Este perambular é análogo ao que se descreve no Bardo Todol ou Livro dos Mortos Tibetano (e também de maneira similar no Livro Egípcio dos Mortos, chamado por outra parte O Livro da Saída da Alma à Luz do Dia). Trata-se da viagem de além-túmulo que se equipara ao percurso iniciático e ao caminho que vivencia nos povos "primitivos" o Xaman em seu êxtase. Percorrido que, tanto nas grandes civilizações como nas tradições arcaicas, descreve-se como uma aventura cheia de perigos e lutas, em que se travam batalhas e se produzem dificuldades (como o ter que cruzar rios) e se referem tanto ao percurso da alma post-mortem, como à morte dessa alma nesta vida.

Alquimia - Putrefação
fig. 14

Esta viagem entre rajadas de sombras e luzes está representada na iconografia alquímica de distintas maneiras, já que esta ciência relata, vivenciando-o, o processo de Iniciação (abertura da Consciência e Conhecimento), por intermédio das nossas próprias obscuridades, com as quais não devemos nos identificar; menos ainda, negá-las.
Isto está em relação igualmente com a idéia de Karma, ou seja com a de ação-reação, e a de purgar pelos próprios enganos (pecados) e a responsabilidade que nos cabe neles. O que poderia ser obtido graças à purificação que produzem estes ritos catárticos ou, em termos da Arte Régia, ao calcinar estas umidades pútridas ou, como dizem alguns dos estudantes de hoje em dia, "alquimizá-las", valha a expressão.


 
73
O NASCIMENTO DA HISTÓRIA  I
 

A História, entendida como consignação escrita dos fatos e acontecimentos mais relevantes que ocorrem em uma determinada época, é relativamente recente, e mais ainda se tivermos em conta a duração real que corresponde ao ciclo completo da humanidade. Devemos retroagir até aproximadamente o século VI antes de nossa era para encontrar os primeiros testemunhos escritos, propriamente históricos. É interessante assinalar que, segundo os dados tradicionais, o século VI A. C. criou um momento crítico no desenvolvimento do ciclo humano, um período em que se produziram grandes mudanças e reajustamentos da tradição, não só no Ocidente, mas virtualmente em todos os povos e civilizações da antigüidade.
Para citar alguns exemplos dentre muitos, terá que se dizer que nessa época vem se configurando a civilização de Roma, que acontece a era dos reis legendários a seu período histórico propriamente dito; na Grécia aparece o pitagorismo que em seu núcleo essencial herda os antigos mistérios órficos, e se assiste ao surgimento da época clássica; é destruído o Templo de Jerusalém e o povo judeu sofre o cativeiro de Babilônia, que parece ter representado uma perda irreparável de uma parte importante da tradição de Israel, como foi a de sua língua escrita original. Na China a antiga tradição perde a unidade que conservava dos tempos primitivos, e se divide em duas formas muito diferentes conhecidas como o Taoísmo e o Confucionismo, conservando a primeira delas a parte dessa tradição que correspondia à doutrina metafísica (esotérica) e à iniciação, enquanto que a segunda se ocupava de seus aspectos puramente sociais e organizativos (exotéricos), embora seus ritos e símbolos fossem herdados da primeira. Em geral, deu-se um passo a mais no processo de solidificação que, desde os tempos primitivos, vinha ocorrendo em todos os âmbitos da existência e da vida espiritual do ser humano. E para que a lembrança de muitas coisas não desaparecesse para sempre, foi necessário resguardá-la nos livros históricos e sagrados.
Esta barreira no tempo, que sem dúvida representa o século VI A. C., é um dos motivos pelos que, em seus estudos, a maioria dos investigadores atuais encontram uma verdadeira dificuldade quando tentam classificar cronologicamente –e, é obvio, conhecer com alguma veracidade– o que aconteceu nos períodos precedentes a esse século. E esta dificuldade se vê acrescentada pelo fato de que quase tudo o que nos legaram os autores clássicos está expresso em uma linguagem onde a realidade concreta das coisas se entretece harmoniosamente com a poética do mito, da lenda e do símbolo; uma linguagem que certamente não podem compreender os historiadores "oficiais", saturados como estão de um racionalismo claramente caduco e insuficiente.
Não ocorre o mesmo com a maioria dos historiadores antigos, que em seu ofício foram autênticos intérpretes e conhecedores à perfeição da doutrina tradicional, pelo que o estudo de suas obras é de uma ajuda inestimável para compreender a história real, a sagrada, dos povos e civilizações. Neste sentido, na história que relatam estes autores, pode ser vista uma expressão maior da alma dos homens (análoga à alma do mundo); do gênio e do espírito que preside o nascimento e da permanente regeneração de uma cultura e de uma civilização.
E se nestes relatos o mito aparece como uma parte constitutiva dos mesmos, é porque este é a conexão vertical com o atemporal e acronológico, e portanto a possibilidade sempre presente de estabelecer um laço salvífico com os princípios divinos e celestes dos quais dependem todas as coisas, incluída, naturalmente, a própria História que, definitivamente, não deixa de ser um símbolo de outra coisa, e neste caso um símbolo ou receptáculo onde se armazena, por assim dizer, a memória do mundo. Por isso em alguns documentos medievais e renascentistas pertencentes a determinadas organizações iniciáticas, o conhecimento da História era tão imprescindível como o das Ciências Naturais, das Matemáticas e da Geometria.


 
74
O NASCIMENTO DA HISTÓRIA  II
 

No Ocidente, é na Grécia onde a História é contada por escrito. E em primeiro lugar, terá que se mencionar a Heródoto, que é conhecido como o "Pai da História" que, com seu livro chamado precisamente "História", recolhe os acontecimentos havidos dos tempos lendários até o momento em que ele escreve, no século IV a.C. Neste livro são relatados não só os episódios históricos dos gregos, mas também igualmente dos egípcios, persas e outras culturas, pois [Heródoto] viajou por quase a totalidade do mundo conhecido. O livro consta de nove volumes (recordemos que o nove é o número circular por excelência, e relacionado, portanto, com o cíclico e com o temporal), sendo bastante significativo que cada um deles estivesse dedicado a uma Musa, como se tivessem sido inspirados diretamente por elas. Temos que recordar, a este respeito e como um dado extremamente revelador, que a Musa que preside a História, Clío, é nascida do matrimônio do Zeus-Júpiter com Mnemosyne, a Memória.
Séculos mais tarde achamos Plínio, o Velho, que escreveu uma "História Natural", um estudo dos seres da natureza (incluídos os fabulosos) em seus três reinos: animal, vegetal e mineral; e também a seu quase contemporâneo Josefo, que nos legou uma "História Antiga" dos judeus; e a Plutarco, com "Ísis e Osiris", ou "Vida dos doze Césares". Mais próximo se encontra Alfonso X, o Sábio, autor, dentre outras coisas, de uma inacabada História da Espanha e de uma mais extensa História Geral, que em realidade, e tomando como fonte de consultas à Bíblia e todas as crônicas antigas que pôde reunir, resume a História Sagrada do gênero humano desde seus começos até o século XIII, época em que reinou.
Por tudo que foi exposto, pode-se dizer que qualquer tentativa para reconstruir o passado histórico, que se empreenda na atualidade, deve passar necessariamente por um conhecimento da doutrina tradicional dos ciclos, que inclui também uma compreensão dos símbolos e dos mitos que, invariavelmente, foram se repetindo em qualquer parte.

História e Geografia Sagrada

Nota
: Já se comentaram as relações entre História e Geografia no transcorrer deste Programa. Queremos insistir na inter-relação entre Tempo (História) e Espaço (Geografia) porque entre ambas as coordenadas alguma vinculação tem que existir para que a existência cósmica seja possível.
Na figura anterior, pode se apreciar o mapa do mundo dividido em 4 partes emanadas de um centro virtual, perfeitamente equiparável com as 4 grandes idades temporais e sua divisão válida para qualquer subciclo projetadas de uma quinta idade mítica. A existência deste tempo mítico e deste espaço virtual, coexistindo perenemente em suas origens, é o que permite e justifica qualquer tentativa de estabelecer analogias entre o que hoje chamamos Geografia e História, sem a qual elas careceriam de sentido.
Para os antigos isto era assim; e respondendo estas ciências, de modo manifesto, a suas concepções de Tempo e Espaço, qualquer outra ciência moderna que procurasse as relações entre estas duas coordenadas, deveria, em seu direito, prestar atenção a esta inter-relação e a essas concepções, conhecidas por todas as culturas sempre, e não considerar o Tempo e o Espaço como assuntos diferentes.


 
75
TARÔ
 

Tarô -  A Temperança

XIIII — A TEMPERANÇA: É o símbolo da ressurreição e da nova vida. Aqui vemos uma mulher alada, em atitude de vôo, mesclando o conteúdo de duas vasilhas, combinando as energias contrárias, às quais complementa, o que também está simbolizado pelas cores de seus vestidos. Pode-se ver nela as Musas e as Graças que inspiram ao artista e, em geral, a Arte como veículo do conhecimento. Abre nossa mente a novos aspectos do ser, cada vez mais profundos e sutis. Esta carta manifesta as potencialidades ocultas que se vão desdobrando, e as faculdades que se desenvolvem e solidificam, assim como as decisões que se tomam confidencialmente e os estados de ânimo produzidos pela calma e da harmonia. No processo alquímico, representa os corpos luminosos e nobres que surgem logo a seguir da morte e da putrefação da matéria vulgar.
DIREITA
INVERTIDA
Combinação de contrários
Mistura - Coisas que concretizam
Vida Nova - Calma
Harmonia - Esperança - Ser
Paciência - Decisões felizes
Vôo - Aspectos novos do
conhecimento - Eqüidistância
Amalgamento - Intrepidez
Confiança - Inspiração artística
Fluir - Boa disposição
de ânimo - Forças que se
complementam
  Derramamento - Insegurança
Impossibilidade de combinar
contrários - Incomunicação
Abatimento - Impotência
Congelamento - Dispersão
Inconexão
Fragmentação
Falta de agilidade
Desatenção
Incompetência
Ausência de relações
Detenção no fluir


 
76
AS SETE ARTES LIBERAIS  I
 

Dentre os numerosos legados da Idade Média, recebidos por sua vez de gregos e romanos, acham-se as denominadas "artes liberais", sete disciplinas que aglutinaram todo o saber da época, e que se dividiam da seguinte maneira: Gramática, Dialética (às vezes substituída pela Lógica), Retórica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. As sete artes liberais representaram a coluna vertebral em torno da qual girava o conjunto da vida cultural da sociedade medieval. E quando dizemos cultural não nos estamos referindo só à atividade intelectual e especulativa, tal e como se ministrava nas universidades e centros escolásticos que existiam nas mais importantes cidades da Europa cristã, mas também à própria atividade manual e operativa exercida nos colégios, oficinas e corporações artesanais.
Na Idade Média, ainda não se havia produzido o divórcio entre a teoria e a prática, o espírito e a mão, a ciência e a arte. E esta imbricação entre a arte e a ciência está claramente assinalada no famoso adágio: "A ciência sem a arte não é nada". Por exemplo, na construção de uma catedral ou monastério se conjugavam sinteticamente a atividade intelectual e a manual: a idéia concebida no espírito se plasmava na pedra graças ao esforço e habilidade da mão, sendo isto mesmo válido para qualquer outro ofício e artesanato. A origem das artes e ciências liberais se remonta às escolas gregas e romanas, especialmente às de Atenas e de Roma, sem esquecer o importante aporte da cultura islâmica. Chamavam-se "liberais" porque, como dizia o grande rei espanhol Alfonso X, o Sábio, "querem totalmente livre de todo outro cuidado e estorvo ao que desejava aprender", ou seja, que se necessitava uma plena e total dedicação a seu estudo e investigação.
Entre cada uma das artes liberais se estabeleciam permanentes correspondências analógicas, até o ponto de que uma continha e compreendia às demais. Entretanto, isto não impedia que fossem também um todo perfeitamente hierarquizado, uma escala que permitia ao estudante avançar ordenada e gradualmente pelo caminho de sua evolução interior.


 
77
AS SETE ARTES LIBERAIS  II
 

Neste sentido, as artes liberais estavam divididas em dois grupos bem delimitados: o trivium (a tríplice via) e o quadrivium (a quádrupla via). Ao trivium correspondiam a Gramática, a Dialética e a Retórica, e ao quadrivium, a Aritmética, a Geometria, a Música e a Astronomia. Com as três primeiras se aprendia a pensar e raciocinar devidamente por meio do conhecimento e significado da língua (Gramática), a coerência lógica da mesma (Dialética), e finalmente, por sua aplicação ao discurso e a palavra (Retórica), verdadeiros suportes e veículos todos eles do pensamento. Só através do trivium, das palavras, vozes e nomes das coisas, podia se acessar às ciências do quadrivium, que eram superiores a aquelas por quanto que expressavam, e expressam, um conhecimento mais essencial e profundo. As quatro ciências do quadrivium se referiam diretamente ao estudo dos ritmos e dos ciclos, da proporção e da medida que, como sabemos, conformam a estrutura prototípica de todas as coisas. Ao trivium e ao quadrivium se acrescentava às vezes o bivium, que compreendia a Alquimia e a Astrologia.
Por outro lado, para o esoterismo cristão, as sete artes liberais se correspondiam com os sete graus iniciáticos, análogos aos sete céus planetários, que representam uma hierarquia de estados espirituais. A Gramática se assimilava à Lua, a Dialética a Mercúrio, a Retórica a Vênus, a Aritmética ao Sol, a Música a Marte, a Geometria a Júpiter, e a Astronomia a Saturno. Notemos bem que o meio das sete artes está ocupada pela Aritmética e pela esfera do Sol, que efetivamente ocupa o centro dos planetas na Astronomia. Isto é importante, pois a Aritmética é, do ponto de vista esotérico, a ciência dos números, Numerologia ou Aritmosofia. E assim como o Sol ocupa o centro de seu sistema, levando a luz a todos os limites deste, a Aritmética organiza e ordena todas as outras ciências, e contribui para as unir e relacionarem entre si. Isto está claro no que respeita às relações numéricas, que unem a Música à Geometria (união que se expressa diretamente nas proporções das formas arquitetônicas) e também ao conhecimento da Astronomia pela harmonia das esferas celestes. Mas deste modo, esta importância do número está presente na construção do discurso falado e escrito, das vozes e das palavras, como é fácil comprovar na poesia.
Em tudo isto se adverte uma herança da tradição pitagórica no seio da cultura medieval e das sociedades e agrupamentos iniciáticos. Finalmente, este aspecto cosmogônico das artes liberais não era senão o próprio suporte que permitia acessar à realidade ontológica e metafísica.

As Sete Artes Liberais


 
78
NOTA:
 

Observou-se que a idéia de um trabalho e de um rigor estão presentes neste manual, que são fundamentalmente intelectuais, no sentido maior que estivemos outorgando a este termo.
Entretanto, essa mesma concentração rigorosa em nossos estudos não tem que nos impedir o tratar a esta altura do Ensino de ir nos manifestando em nosso meio de acordo às medidas das possibilidades de cada um. E embora a Tradição Hermética põe o acento na aprendizagem individual, esta pode se efetuar de maneira grupal, sempre que se tenham a guia e o apoio de um eixo intelectual. Neste sentido, esta Introdução à Ciência Sagrada cumpre com estes requisitos e pode ser tomada como base para o trabalho. Segundo a promessa cristã, quando duas ou mais pessoas se reúnem invocando o Santo Nome, o Cristo estará entre elas.
De outro lado, observou-se que o Programa suporta uma didática, vale dizer, uma estrutura ordenada o suficientemente maleável e rica em possibilidades como para que possa ser seguida por distintos temperamentos e em diferentes âmbitos culturais.
79
TARÔ
 

Tarô - O Diabo

XV — O DIABO: Temos às vezes uma idéia deste símbolo, condicionada pelos preconceitos morais que nos fazem ver unicamente seu aspecto invertido e maléfico. O diabo não é só o mal, senão que a tradição melhor o relacionou com a estupidez e a ignorância, assim como com a mediocridade e a indiferença. Mas este símbolo adquiriu para os iniciados uma conotação mais profunda, relacionada com a lenda de Lúcifer, o arcanjo caído que luta com Miguel, que representam aspectos opostos, complementares e simultâneos do ser. Herdeiro do Baco romano e do Dionísio grego, o Baphometh dos Templários e o amo dos bruxos e bruxas medievais, ou bode, é símbolo do vinho e do sangue e chefe das entidades da terra ou inframundo. Representa a energia sexual e a paixão, ou fogo interno, que a transmuta do denso ao sutil.
DIREITA
INVERTIDA
Energia sexual
Paixão - Desejo
Atração - Magnetismo
Intensidade - Energia oculta
Possibilidades - Passos em falso
Transbordamento de sentimentos
Possessão de energias exacer-
bantes - Eros - Sensualidade
Vinho - Êxtase 

Desequilíbrio dos sentidos
Desejos - Desordem - Sobre-
Excitação - Paixões desenfreadas
Escravidão dos sentidos
Erros - Ignorância
Surpresas desagradáveis
Achatamento - Pequenez - Ódio
Estupidez - Infantilidade
Mediocridade - Vaidade 


 
80
QUADRADOS MAGICOS
 

Falamos dos quadrados mágicos, e em particular do quadrado natural de 9 casas, ou de Saturno (Ver N.º 61). Trabalharemos agora com os quadrados correspondentes aos sete planetas, tomando-os como instrumentos para começar a decifrar o inscrito dentro deles, advertindo que são tanto síntese de sabedoria, como mapas da cosmogonia e, por sua vez, poderosos talismãs, ou amuletos repletos de energias.
Damos aqui os quadrados mágicos atribuídos aos distintos planetas, incluindo números e letras do alfabeto sagrado. Como dissemos, o prototípico de três colunas de lado é atribuído a Saturno, o de quatro a Júpiter, o de cinco a Marte, o de seis ao Sol, o de sete a Vênus, o de oito a Mercúrio e o de nove à Lua, em perfeita vinculação com as equivalências entre astros e sefiroth da Árvore cabalística e suas respectivas numerações.
Embora a colocação dos números em cada casa pareça à primeira vista caótica, estas cifras, pelo contrário, estão colocadas de modo tal que refletem assombrosamente a harmonia do universo e o caráter mágico-teúrgico destas estruturas simbólicas, que se observa no fato de que a soma dos números de todas as casas horizontais, verticais e diagonais é sempre idêntica. No caso do quadrado de Júpiter, ou quadrado de quatro, de dezesseis casinhas, observa-se uma perfeição ainda maior, tendo em vista que também os quatro números centrais, os quatro das esquinas e os que se opõem dois a dois no centro das horizontais e das verticais, somam também 34. Recomenda-se o exercício de calcular o valor numérico das letras do alfabeto hebraico que figuram em cada casinha e comparar dito valor com o número atribuído a essa casinha. Este exercício de substituir as letras por seus equivalentes numerais, tomando como modelo o quadrado de Saturno, poder-se-á repetir nos distintos quadrados mágicos planetários que mostramos a seguir.
Recorde-se o leitor que o alfabeto hebraico se lê da direita para a esquerda, e que assim têm que se ler os valores representados por mais de um dígito.
Recordamos aqui que os pitagóricos juravam não só pela Sagrada Tetraktys mas também pelo Quadrado de Quatro.

SATURNO: Quadrado de base 15; o total de números das casas soma 45:  

JÚPITER: Quadrado de base 34; o total das colunas soma 136: 
MARTE: Cifra de base 65; soma números casas 325: 

SOL: Quadrado base 111. O total das colunas é 666: 

VÊNUS: Cifra de base 175. Número do total 1225: 
MERCÚRIO: Base 260. Total soma 2080: 
LÚA: Baseado no número 369. Soma 3321: 


 
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NOSSO PROGRAMA:
 

Nosso Programa tem uma estrutura didática circular e portanto, uma vez que se seguiram as primeiras seqüências do Agartha e se conseguiu ligar com seu ritmo particular, este pode ser repassado e ser relido em ordem diferente, mesmo nos exercícios que o Programa contém, que poderão ser praticados de maneira alternativa.
Entretanto, interessa-nos, como método de conhecimento, a comparação e a inter-relação de todas as formas tradicionais como modos de expressão de uma mesma realidade que se manifesta ao longo da História, e em toda a extensão da Geografia. Da confrontação e vinculação entre os símbolos tradicionais surgem faíscas e energias que nos fazem compreender muitos dos pontos que são objeto de nossos estudos.
O Taoísmo e a Tradição Hermética –amém que sejam ambas reveladas por uma Tradição Primitiva e Trans-histórica– têm algo em comum que as faz afins: o fato de que não tenham derivado em formas religiosas ou exotéricas, tal qual foi o caso do Judaísmo, Cristianismo, Islã, ou de modos "quase" religiosos, como certas formas do budismo e hinduísmo, etc. Ambas põem a ênfase na Alquimia como realização individual, o que lhes outorga um marco de grande amplitude, e não sublinham a via emocional como forma virtualmente única de acesso ao espiritual. Tem-se dito que este último caminho se converteu quase em puro sentimentalismo nos tempos atuais, e não desemboca no Conhecimento.


 
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TARÔ
 

Tarô - A Torre de Destruição

XVI — A TORRE DE DESTRUIÇÃO: Aqui vemos uma torre construída com tijolo (como a de Babel), cuja cabeça está sendo cortada por um raio celeste. É o símbolo da destruição dos velhos esquemas, que propicia a construção de outros novos. A ira divina, que destrói a ilusão e a mentira para implantar a verdade. Dois personagens estrepitosamente caem a terra, representando os falsos egos que vão caindo por seu próprio peso para dar lugar ao verdadeiro Eu, oculto e essencial. O raio representa a luz do espírito; e as borbulhas brancas, azuis e vermelhas, os eflúvios celestes que descendem à terra. É relacionada, também, com o betilo (ou pedra do raio caída do céu), com o martelo de Thor e com o raio de Zeus; geralmente é comparada às energias marciais e aos deuses guerreiros e seu rigor. Invertida, pode anunciar desgraças e cataclismos.
DIREITA
INVERTIDA
Destruir para construir - Escala
Poder manifestado em forma
muito forte - Destruição de
esquemas - Fim definitivo de
uma coisa - Corte
Separação cortante - Ciclo
Esquecimento de si mesmo - Sintoma de enfermidade - Consciência
Iluminação - Explosão não pro-
vocada pela vítima - Benefício
dos erros de outros

Destruição - Queda
Orgulho - Impossibilidade de
construir - Dor - Separação
dolorosa - Energias contrárias
Violência - Enfermidade aguda
Inimigos ocultos - Confusão
de línguas - Calamidades - Ira
Cólera - Explosão
Vertigem - Catástrofe
Operação
cirúrgica


 
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O BOSQUE
 

Dante inicia o primeiro canto de sua Divina Comédia com estas palavras: "à metade da viagem da vida me encontrei em uma selva escura por me haver afastado do caminho reto. Ah! Quão penoso me seria dizer o selvagem, áspera e espessa que era esta selva cuja lembrança renova meu temor, temor tão triste que a morte não o é tanto". A existência vulgar e profana oferece aos olhos de Dante um aspecto análogo ao que nos ofereceria uma selva ou bosque intrincado no qual seria angustiosa a sobrevivência, que nos evoca a concepção platônica da vida terrestre como exílio da celeste. Efetivamente, graficamente, a verticalidade de árvores e troncos, a horizontalidade dos ramos, e a densa presença de plantas, flores e folhas, conformam um tecido análogo ao da cotidianidade e suas veredas, dentro de cuja complicada espessura existem, não obstante, clareiras e fissuras pelos quais penetra a luz.
Esotericamente, o bosque, a selva, ou a natureza selvagem e virgem, como lugares especialmente primitivos e sem cultivar, oferecem um cenário simbólico de nossa própria natureza interna e externa, superior e inferior, seja em seu sentido primordial de exuberante fecundidade, seja em seu aspecto grosseiro, inculto e heterogêneo (o infraconsciente), em ambos os casos, um cenário feminino telúrico.
Em muitos povos e culturas, cuja própria configuração geográfica assim o exige, o bosque ou a selva adquire um papel muito importante e significativo quanto a lugar reservado ao culto, às iniciações e à contemplação. A elevação de dólmens, e as construções funerárias no interior dos bosques, especialmente em clareiras e lugares limpos, é muito habitual nas culturas arcaicas. Muitos usos e ritos ancestrais, mantidos pela memória popular, seguem se repetindo periodicamente nestas paragens. Os mitos e lendas antigos estão cheios de alusões a bosques mágicos, onde transcorre a trama de seus argumentos e onde em geral habitam seres, ou entes, não humanos, cuja relação com os heróis e os homens está vinculada simbolicamente ao próprio processo alquímico e espiritual. Um clássico deste gênero é o conto de Branca-de-Neve. Custodiada por sete anões em um bosque (psique), acha-se semi-morta por ter comido o fruto que, astutamente, ofereceu-lhe a bruxa feiticeira, o mesmo que outrora Eva comera no paraíso; enquanto espera o "despertar" através do beijo do príncipe (Eros).
Efetivamente, a tradição faz dos gnomos, dos silfos, das ondinas e das salamandras habitantes mágicos dos bosques, que nos oferece uma descrição figurada de nossas próprias potências anímicas e terrestres. Estes seres estão alquimicamente relacionados com os quatro elementos, respectivamente a terra, o ar, a água e o fogo, assim como Branca-de-Neve se assemelharia, no exemplo, ao quinto, o éter, cada um simbolizando a consciência e função específica de cada elemento, consciências que habitam potencialmente dentro de nossa própria natureza microcósmica, revelando-se como impulsos e tendências elementares.
O bosque, ou a selva, como templo natural e espaço sagrado, oferece-nos dentro de sua imensa riqueza de matizes (a fonte, a gruta, a mina, a montanha, etc.), inesgotáveis temas de meditação. Toda uma cosmogonia que nos fala simbolicamente da fauna, da flora e da topografia de nossa própria natureza interna e invisível.


 
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ASTROLOGIA
 

Assinalaremos seguidamente, em um quadro, as relações entre os doze signos zodiacais, os quatro elementos e suas qualidades, e o temperamento humano que lhes atribui:
Signo Elemento Qualidades Temperamento
Áries-Leão-Sagitário Fogo quente-seco bilioso
Touro-Virgem-Capricórnio Terra frio-seco nervoso
Gêmeos-Libra-Aquário Ar quente-úmido sangüíneo
Câncer-Escorpião-Peixes Água frio-úmido linfático
Damos a seguir as relações entre o corpo humano e os signos do zodíaco:


ÁRIES: a cabeza e o rostro
TOURO: o pescoço e a garganta
GÊMEOS: ombros, braços, mãos
CÂNCER: pulmões, peito, estômago
LEÃO: costas, coração, figado
VIRGEM: ventre e intestinos
LIBRA: rins e vias urinárias
ESCORPIÃO: órgãos genitais
SAGITÁRIO: coxas e nádegas
CAPRICÓRNIO: joelhos
AQUÁRIO: pernas
PEIXES: os pés


 
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MOMENTOS DE INCERTEZA:
 

Há momentos de incerteza no caminho do Conhecimento ou Iniciação, e o aspirante sofre o tormento da dúvida e da angústia de se sentir incapaz de enfrentar o monte de maravilhas e boas novas que vislumbra. Para esses momentos, permitimos-nos citar aqui um fragmento do Corpus Hermeticum, capítulo XI:
"Tendo posto em teu pensamento que não há nada impossível para ti, considera-te imortal e capaz de compreender tudo, toda arte, toda ciência, o caráter de todo ser vivente. Ascenda mais alto que toda altura, desça mais baixo que toda profundidade. Reúna em ti mesmo as sensações de todo o criado, do fogo e da água, do seco e do úmido, considerando que estás, por sua vez, em todas partes, sobre a terra, no mar, no céu, imagina que ainda não nasceste, que estás no ventre materno, que és adolescente, velho, que estás morto, que estás além da morte. Se abrangeres com o pensamento todas essas coisas de uma vez, tempos, lugares, substâncias, qualidades, quantidades, podes compreender Deus."

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TARÔ
 

Tarô - A Estrela

XVII — A ESTRELA: Carta da natureza, é também da beleza, da poesia e da naturalidade. Uma mulher nua, que pousa um joelho na terra, derrama o conteúdo de duas vasilhas vermelhas em um rio (água), ao mesmo tempo em que escuta a linguagem sutil do pássaro (ar) e recebe os eflúvios das estrelas (fogo). Ela não luta contra a natureza, mas sim se harmoniza e se integra com ela em unidade, o que lhe permite conhecer suas leis e as experimentar, mostrando-nos também o caminho para o sobrenatural. É relacionada com a cor verde da esperança e da regeneração, e com a boa fortuna (boa estrela) que sua atitude propícia. Em seu sentido invertido, representa esse falso "naturismo" e "misticismo", tão em voga entre aqueles que se supõem possuidores de uma pretendida "bondade", em que se esconde um prejulgado moralismo próprio das seitas dogmáticas.
DEREITA
INVERTIDA
Natureza - Harmonia
Naturalidade - Verde
Esperança - Beleza - Poesia
Conhecimento da lei
natural
Vida - Reintegração - Estar
Boa fortuna
Espontaneidade
Tranqüilidade - Sinceridade
Regeneração - Simplicidade
O sobrenatural 

Artificialidade - Desarmonia
Antinaturalidade - Desespe-
rança - Impudor - Ideologias
Escapismo - Materialismo
Falta de escrúpulos
Romantismo - "Idealismo"
"Projeções" - Falsas
ilusões - Especulações
Problemas corporais e de
ordem higiênica - Hipocrisia
Estagnação


 
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NÔMADES E SEDENTÁRIOS
 

Sendo o núcleo sagrado e espiritual essencialmente idêntico –por seu caráter atemporal e metafísico– para todas as civilizações tradicionais, existem entretanto em cada uma delas certos rasgos e particularidades que as fazem diferentes entre si. Isto se deve a múltiplos causa (diversidade de etnias, habitats, climas, etc.), mas possivelmente a diferença mais marcada e a mais importante seja o que algumas destas culturas pertenceram aos povos nômades e outras aos sedentários. Esta primeira grande diferença se produz no preciso momento em que a humanidade abandona seu Centro Primitivo e se pulveriza por toda a superfície do planeta. Os nômades, acostumados à peregrinação constante por serem povos dedicados ao pastoreio, desenvolveram uma cultura sensivelmente diferente à desenvolvida pelos sedentários, que eram basicamente agricultores, ao permanecerem enraizados em um determinado lugar. Estas duas formas de vida, com todos os matizes que entranham, influíram poderosamente na maneira em que uns e outros encararam a vida e o mistério do sagrado, e portanto na própria constituição e estrutura de seus ritos, símbolos e mitos cosmogônicos. Isto está claramente exemplificado no que respeita às artes e aos ofícios.
Os nômades, em permanente movimento pelo espaço, criaram, entretanto, uma arte baseada principalmente no ritmo e na fonética, como a música, a poesia e o canto, isto é, em artes que se expressam sucessivamente, pelo que estão estreitamente vinculadas ao tempo e ao sentido do ouvido. Na mesma gramática e linguagem desses povos, e seus herdeiros atuais, adverte-se multidão de expressões ricas em movimento e ritmo que não se encontram entre os sedentários.
Estes, assentados pelo contrário no espaço, geraram uma arte mais puramente geométrica e plástica baseada na proporção e na medida, como a arquitetura, a pintura, a escultura, a escritura (os nômades transmitiam suas tradições verbalmente), ou seja, artes e ciências que se desdobram no espaço, mas feitas para perdurar no tempo, e diretamente relacionadas com a faculdade visual. Sendo os agricultores sedentários, a maior parte do simbolismo vegetal provém deles, enquanto que quase todo o simbolismo animal procede dos nômades. Nos ritos sacrificais, por exemplo, os primeiros ofereciam espécies vegetais a suas divindades, e os segundos espécies procedentes do reino animal. Estas vinculações com os dois reino da natureza, o vegetal e o animal, tiveram que influir poderosamente na estrutura mental desses povos, e portanto nos símbolos que conformaram sua cultura ao longo da história. Na Bíblia, duas formas de vida estão representadas respectivamente por Caim e Abel, cuja luta tem que se ver melhor como um símbolo das diferenças específicas que existiram secularmente entre os sedentários e os nômades.
É significativo comprovar igualmente que as vivendas dos nômades, construídas com materiais fáceis de transportar, faziam-se com forma circular, e o círculo é, como sabemos, o símbolo que melhor expressa a idéia de movimento, e também o signo do celeste e de tudo aquilo que se refere aos ciclos e ritmos.
Por seu lado, os sedentários, utilizando materiais pesados como a pedra (embora com antecedência a esta utilizaram a madeira como elemento de construção), tendiam mais a edificar em quadrado, isto é, conforme à figura geométrica que simboliza melhor que nenhuma outra o terrestre e a estabilidade por excelência. Neste sentido, foram os sedentários os primeiros a construírem cidades, e com eles nasce o conceito de civilização (civis = cidade) tal qual chegou até nós. Graças a que tenham realizado obras para perdurarem no tempo nos é possível ter acesso ao conhecimento de sua concepção e de sua metafísica do mundo, o que certamente não acontece com a cultura dos nômades que, vagando livremente pelo espaço sem limites, não tinham necessidade de fixar nada, e a idéia do futuro, como a concebem os sedentários, era-lhes alheia por completo.
Não obstante, tudo o dito até aqui, não se deve ver entre estas duas formas de vida um antagonismo radical que na verdade jamais existiu. A arte e a simbólica áudio-visual são patrimônios de qualquer sociedade tradicional, seja esta nômade ou sedentária. São, voltamos a repetir, as condições de existência as provocadoras de que um simbolismo se desenvolva mais que outro. Por outro lado, sempre houve entre ambos os povos permanentes contatos (por exemplo, através do comércio, e inclusive através do rito sagrado da guerra, que era também uma forma de comunicação) que facilitaram e promoveram o intercâmbio de idéias, usos e costumes. Com freqüência, isto representou uma opção regeneradora que evitou, ao menos até certo período histórico, uma excessiva "petrificação" por parte dos sedentários devido a seu assentamento, e uma excessiva "dissolução" entre os nômades devido a seu constante ir e vir.
Deste modo, muitos povos originais acabaram por se instalarem definitivamente, o que originou em todos os modos de expressão de sua cultura uma síntese entre as artes do tempo e do espaço, do ritmo, da proporção e da medida. E esta assimilação do nomadismo por parte do sedentarismo é uma constante vital na história da humanidade, além de ser algo necessário que obedece a leis cíclicas. Diversos povos acharam seu ser e seu destino histórico ao se concretizarem e se solidificarem, fato que motivou a espacialização de seu centro sagrado e, portanto, uma concentração de energias tal que deu causa ao florescimento de civilizações com um alto grau de desenvolvimento cultural, como foi o caso da árabe, da judaica, da romana, da asteca, maia, etc. etc.


 
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AS TRÊS GRAÇAS
 

Hesíodo diz em sua Teogonia que a Zeus: "Eurínome, filha de Oceano, de sedutora beleza, deu-lhe as três graças de belas maçãs do rosto: Aglaia, Eufrósine e a encantada Talia. Quando olham, brota de seus olhos o amor. Belos são os olhares que lançam sob suas sobrancelhas!".
Efetivamente, essas três fêmeas foram identificadas como Beleza, Amor e Prazer. Espargem alegria em qualquer parte e inundam os corações dos homens. Vivem no Olimpo em companhia das Musas, com as quais soem cantar muito belas melodias e também acompanham a Apolo quando este tange sua lira. Costuma-se representá-las como três jovens nuas, unidas pelos ombros; geralmente, duas delas olham em uma direção, e a do meio, na direção oposta. Teceram o véu de Harmonia e são companheiras de Ateneu, Afrodite, Dionísio e Eros; podemos invocá-los a todos eles com confiança.
Sêneca se perguntou no De beneficiis "por que são três as graças, por que são irmãs, por que se colhem da mão?" e se responde: "Pelo triplo ritmo da generosidade, que consiste em dar, aceitar e devolver", adicionando: "como gratias agere, significa 'dar as graças' (agradecer); as três fases (desta operação) devem estar encerradas em uma dança, como o estão as Graças; a ordem dos benefícios requer que sejam dados em mão, mas que retornem ao doador". Para os cabalistas cristãos do Renascimento, este símbolo expressava as emanações celestes que os deuses enviam à terra, que produzem uma inspirada vivificação nos seres, ou conversão, a partir da qual estes as devolvem (ou se elevam) para seu lugar de origem. Descreve-se, pois, um percurso triangular e se retorna ao princípio. Deve aqui se ter em conta a identidade entre a figura do triângulo e o círculo e seu uso indistinto, embora haja uma superioridade do primeiro relação ao segundo (32 = 9).

As Três Graças


 
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ARITMOSOFIA
 

A escola pitagórica considerava sexuados os números, ou seja portadores de cargas energéticas positivas e negativas. Assim, os números ímpares eram ativos, expansivos, masculinos (yang, em termos extremo orientais), e semelhantes ao céu, enquanto que os pares eram passivos, contrativos, femininos (yin), e representativos da terra. O número um, manifestação da unidade metafísica, não era considerado nem como ativo nem como passivo, e correspondia sexualmente, em termos platônicos e alquímicos, ao "Andrógino Primigênio". Isto é válido também para a dezena, a centena, o milhar, etc.
Deste modo, ficava especial interesse nos números chamados quadrados e triangulares. Os últimos se formam adicionando números inteiros sucessivos a partir do um, ou seja, que se adicionam os consecutivos da série; exemplos: 1 + 2 + 3 = 6; 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 = 21. Seis e vinte e um são números triangulares. O mais conhecido destes números é o dez (1 + 2 + 3 + 4), perfeitamente representado em forma de triângulo na famosa Tetraktys. Desta disposição triangular é que estes números recebem seu nome, assim como os quadrados recebem o sua por sua disposição e representação quadrada, já que eles se formam de maneira semelhante aos triangulares, começando pela unidade, à qual se adicionam sucessivamente números ímpares; exemplos: 1 + 3 = 4; 1 + 3 + 5 = 9; 1 + 3 + 5 + 7 = 16; 1 + 3 + 5 + 7 + 9 = 25. Faz-se notar que 4 é 22, que 9 é 32, que 16 é 42 e 25 = 52, ou seja que são os "quadrados" desses números.

A Tetraktys
Os primeiros dez números triangulares são 3, 6, 10, 15, 21, 28, 36, 45 e 55. Os primeiros dez quadrados: 4, 9, 16, 25, 36, 49, 64, 81, 100 e 121. Pode observar-se que o número 36 (igual, proporcionalmente, aos 360), é ao mesmo tempo quadrado e triangular. De outro lado, quer se destacar que o número cinco era de importância vital para os pitagóricos, enquanto soma do dois (par, passivo e feminino) e do três (ímpar, ativo e masculino), motivo pelo qual era chamado "Número Nupcial". Na Tradição Hermética, este número simboliza o microcosmo e é representado geometricamente com o pentagrama.
Como dado interessante se adiciona que a soma de um número par com outro ímpar é necessariamente ímpar, enquanto que o produto da multiplicação de um par com um ímpar dá necessariamente um número par. Além disso, que a soma de dois números é forçosamente par se estes números forem ambos pares ou ímpares. Por outra parte o produto de uma multiplicação, quando é ímpar, é o resultado forçoso de que seus dois fatores sejam ímpares.



 
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TARÔ
 

Tarô - A Lua

XVIII — A LUA: Símbolo da noite, representa o princípio feminino ou matriz universal, esposa e mãe doadora de formas, embora que, por sua vez, seja deusa da imaginação, da fantasia e da ilusão. Sua relação com os líquidos é evidente (a lua determina as marés, a circulação do sangue e da seiva das plantas, assim como os ciclos femininos), e isto a conecta com o mundo psíquico e os mutáveis estados do ânimo; como a água, é uma energia maleável que toma a forma de seu recipiente. Não tem luz própria, mas reflete como em um espelho os raios solares. Foi relacionada com as viagens, em particular aquelas que se realizam através das águas e que simbolizam as mais profundas viagens interiores. E é a carta da virgindade, ou a vacuidade necessária para que o espírito fecunde. Invertida, simboliza o sonho e o psiquismo desordenado.
DEREITA
INVERTIDA
Maternidade - Esposa
Fidelidade - Receptividade
Imaginação - Fantasia
Espiritualidade - Intuição
Relação com água - Viagens
Maleabilidade - Adaptabilidade
Interioridade - Sensibilidade
Psiquismo
Câncer - Espelho

Ilusões - Fantasias
Negação de sensibilidade
Fantasmas - Sonhos - Evasão
Afastamento da realidade
Instabilidade - Viagens
Caprichos - Vaidades
Transtornos psíquicos - Escape
Neurose - Histerias
Subconsciente - Inconsciente


 
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MAGIA
 

Entende-se aqui por Magia (sem desconhecer formas menores, ineficazes e perversas desta ciência) toda atividade ritual intermediária dedicada a atrair as energias celestes à realidade terrestre, de acordo com a doutrina cabalística das emanações, que subordina o mundo elementar e corporal ao mundo anímico e astral, e ambos ao plano estritamente espiritual ou, em outra terminologia, intelectual ou pneumático.
Por este motivo, tanto as práticas cultuais, como os encantamentos, exercícios práticos, concentrações, estudos e meditações, e especialmente a oração, devem ser efetuados tendo o ânimo e a inteligência postos nas verdades mais elevadas, no Deus supremo e incognoscível, além de sua própria criação. Isto fará com que estas práticas teúrgicas, que pressupõem um conhecimento cosmogônico e metafísico, sejam eficazes e adequadas proporcionalmente às necessidades cuja satisfação se invoca.
Por outro lado, este movimento descendente de energias e forças que se estabelece tem que ser completamente interno, ou seja, do exclusivo interesse do sujeito que as pratica em íntima relação com o benefício do Conhecimento. Sua característica tem que ser a da realização de um rito ressonante e rítmico com o universo, e estas correspondências e analogias que se pretende represar têm que ser efetuadas com um total desinteresse sobre coisas particulares; ou seja, com um alto grau de "esvaziamento" e de impessoalidade, para que os eflúvios do mais alto se derramem sobre o "operário" ou aprendiz de mago, que deste modo pode acessar as realidades mais sutis e recônditas e as esferas mais altas do intelecto divino, a um ponto tal que seu próprio ser se encontre identificado, em todo tempo e lugar, com as mais transparentes emanações do cosmos, e advirta sua unidade e majestade em todas as coisas de uma maneira natural, pois estas verdades já são consubstanciais com seu próprio ser. Neste tipo de identificação com o universo e com o que está além dele, tem um papel extraordinariamente eficiente a meditação sobre a Árvore da Vida Sefirótica, como modelo do universo e instrumento veicular e revelador (como o TARÔ) das energias intermediárias entre a Deidade mais alta e os seres e as coisas manifestadas de forma elemental, ou material.


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TARÔ
 

Tarô - O Sol

XVIIII — O SOL: É o centro ou coração de nosso sistema, ao redor do qual giram os planetas. Os antigos renderam culto ao sol, não em um sentido idolátrico, como se acredita, mas sim porque viam nele o signo da luz interna do espírito, e à fonte de toda vida na terra. Predomina nesta carta a cor amarela, símbolo do brilho e da inteligência criadora. Representa um pai do qual emanam raios de várias cores, retos e flamígeros -luz e calor- cujas energias alimentam e fazem crescer a seus filhos, figurando também a união da família e do casal, assim como toda classe de uniões, sociedades e fraternidades. Em sentido invertido (o soberbo sol de meio-dia, sua queda e seu ocaso) é a vaidade, a falsa aparência e o engano dos sentidos. Também, como vimos, é relacionado com o ouro, e em geral com os metais e a mineração.
DIREITA
INVERTIDA
Luz - Vida - Calor
Inteligência
Arte - Criatividade
Razão - Energia radiante
União - Matrimônio - Casal
Família - Criação
Fraternidades
Sociedades - Associações
Irmandades - Sociedade civil

Escuridão - Deserto – Frieza
Falta de sentido - Engano dos
sentidos - Seca - Tristeza
Falta de espírito criativo
Racionalismo - Vaidade - Sober-
ba - Presunção - Falsa juven-
tude - Decorado brilhante
Brigas - Rixas - Inimizade
Falso artista - Falsa aparência


 
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OS CICLOS E A HISTÓRIA
 

O processo histórico das civilizações e das culturas está assinalado em realidade pelas leis dos ciclos e dos ritmos que, como sabemos, são as mesmas que regem em todas as ordens da manifestação universal. O simples fato de comprovar que uma civilização, como todo ser, nasce, cresce, decai e morre, é um exemplo a mais, e bastante gráfico, de que esta segue e repete a seu nível correspondente a lei quaternária em que se fragmenta todo ciclo.
Servindo-nos uma vez mais das analogias e correspondências simbólicas, podemos comprovar que os ciclos das civilizações estão todos compreendidos dentro de um ciclo maior que abrange o da existência completa da humanidade, que se divide em quatro períodos ou grandes idades, que os hindus chamam um Manvántara, e que compreende a Idade de Ouro, a Idade de Prata, a Idade de Bronze e a Idade de Ferro, segundo termos que tiramos da antigüidade grego-latina. Seguindo com a mesma lei analógica, os ciclos históricos estão inexoravelmente vinculados ao fluxo e vazante do tempo cósmico em sua perpétua recorrência. Neste sentido, as eras astrológicas, nas que um signo zodiacal domina com sua influência um determinado período histórico, verifica o que dizemos.
Considerada globalmente, a história da humanidade nos apresenta como um imenso cenário ou cenário (o teatro do mundo) no qual se pode observar como povos inteiros aparecem e desaparecem obedecendo a uma lei inexorável. Igualmente podemos ver a história como um grande corpo (tal como o próprio cosmos) cujos órgãos, e o indefinido de células que o compõem, têm a missão de fazê-lo funcionar. E assim, como o corpo físico está animado por um coração que lhe insufla a vida, de igual maneira a existência e a própria razão de ser das sociedades humanas foram possíveis por terem albergado em seu interior o depósito sagrado do Conhecimento e da doutrina metafísica, que não é outra que a Ciência Sagrada.
Sem a presença dos símbolos, ritos e mitos reveladores do supra-humano –e mediante os quais se pode escapar da recorrência cíclica dos nascimentos e mortes assinalados pelo Deus Tempo que a tudo abarca– a história careceria de sentido e seria tão somente um absurdo, pois lhe faltaria o mais essencial, que é o Espírito; ou sucederia uma mera formulação de dados e datas enquadrados em compartimentos estanques sem relação entre si, quando na verdade é justamente o contrário: uma poética onde fica impressa a alma de homens e de povos.
Se o cosmos inteiro obedecer a um plano e a uma ordem que respondem aos desígnios divinos e nos quais tudo desempenha uma função e um destino específico, é óbvio que as civilizações e as culturas tradicionais participaram da realização e cumprimento desse plano, perpetuando-o em cada ciclo particular com suas formas e características próprias, avivando e mantendo assim o fogo inextinguível da Sabedoria das origens. Neste sentido existe necessariamente um fio de continuidade sutil e invisível entre todas as civilizações e especialmente entre aquelas que se manifestaram em uma mesma área geográfica ou continente.
Quando uma civilização, ao esgotar suas possibilidades existenciais, está a ponto de perecer, outra, mais jovem e com elementos novos vem substituí-la, produzindo-se com freqüência uma espécie de osmose espiritual ou transferência dos princípios sagrados de uma para a outra.


 
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JANO
 

Janus-Bifrons, deus romano, de origem assírio-babilônica, e que se encontra também em outras tradições muito arcaicas, olhe com seu rosto dual nas direções opostas do espaço e do tempo calendárico. Espacialmente, marca o eixo Norte-Sul; temporalmente, os solstícios de inverno e de verão. É pois um mediador entre céu e terra, enquanto faz corresponder ao céu com o Norte e, inversamente, à terra com o Sul. Igualmente, é a deidade que abre no hemisfério Norte a porta do ano no inverno –movimento ascendente do Sol– e a fecha no solstício de verão, quando o astro começa seu curso descendente. De um ponto de vista iniciático o solstício de verão corresponde à porta dos homens e constitui a entrada aos pequenos mistérios da antigüidade, enquanto que o de inverno se vincula com a porta dos deuses e os chamados grandes mistérios.
Astrologicamente, o verão, associado ao meio dia, corresponde-se com o signo de Câncer, enquanto o inverno o faz com o de Capricórnio. O Natal cristão (urânica) celebra-se em 24 de Dezembro, e em 24 de Junho se festeja a noite de bruxas (ctônica). Nestas mesmas datas, na Maçonaria se recorda aos dois "São João", o que abre a história evangélica e o que recebe a mensagem testamentária.

Jano romano

Toda classe de fatos assombrosos e heróicos atribuíram os romanos a Jano, um dos maiores deuses de seu panteão. Entre outras coisas teria governado Roma em uma idade de ouro, onde tudo era perfeito. Também era o protetor da cidade e em tempo de guerra as portas de seu templo se deixavam abertas para que pudesse ir a ajudar a seus habitantes. Deidade intermediária que com sua dupla face a tudo assinala, símbolo da ambivalência, em particular do homem, seus atributos eram a chave e o barco, herdados pelos pontífices católicos. 
Seu rosto central, invisível, está vinculado com o não-tempo, ou tempo primitivo das origens, e se corresponde no espacial e construtivo com o eixo de simetria, e portanto com uma via ou caminho de união, de permanente conjunção de opostos, o que explica que presidisse nos Collegia fabrorum, os grêmios e iniciações dos artistas e artesãos romanos.


 
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SOBRE A GRAMÁTICA, DIALÉTICA E RETÓRICA:
 

Precedentemente, falamos sobre o tema das sete artes liberais. Então, dizíamos que ao Trivium (a tripla via) corresponde a Gramática, a Dialética e a Retórica, ou seja, as palavras, vozes e nomes das coisas e que no esoterismo cristão se assimilavam respectivamente às esferas da Lua, de Mercúrio e de Vênus. Para o Alfonso X, o sábio, a primeira destas ciências "limpa a língua gaga" para que fale de forma reta; a segunda "lima a ferrugem da falsidade"; a terceira "entalha a obra néscia e a compõe de formosuras". Igualmente, a primeira "dá ao homem o entendimento"; a segunda "induz-lhe na crença das coisas" (ou seja: na verdade); a terceira "admoesta e traz as outras pa acabar os feitos que elas querem" ou despertam. Do mesmo modo: "a primeira nos ensina a falar diretamente; a segunda, a ser úteis e agudos; a terceira a dizer admoestando e ordenadamente".
Com respeito à Gramática, dizia Aristóteles que ela era "escrever o que se enuncia"; em todo caso, isto tem pouco a ver com o que hoje se entende por gramática. E está bem claro que ela existia antes que sua mera codificação, como é óbvio para estabelecer uma similitude que o direito existiu antes que as leis romanas. A pretendida ciência moderna inclui certas rigidezes que é preciso destruir; a gramática castelhana, tal qual a conhecemos, nasce no século XVIII e é contemporânea de Descartes e do racionalismo. Este problema vem de longe: Horácio afirmava que o uso é o árbitro e senhor das línguas e as normas um artifício auxiliar. Esta mesma crítica é válida a respeito da lógica, tomada como ciência, e sua assimilação, ora à dialética, ora à retórica, e pode se pensar com razão que este engano da mania classificatória vem do fundo da filosofia grega, em grande parte iniciado pelo próprio Aristóteles, o que deu lugar aos "sistemas" dos modernos (em especial depois do século "das luzes") e que desgraçadamente hoje se identificam com a "filosofia".


 
96
TARÔ
 

Tarô - O Juízo

XX — O JUÍZO: Este arcano, por seu número, foi associado ao século XX. Vê-se um anjo tocando uma trombeta e sustendo uma bandeira com uma cruz amarela. É o símbolo cristão da ressurreição dos mortos e do juízo final. Os três personagens nus que se levantam da tumba, representam o matrimônio alquímico do enxofre (masculino), do mercúrio (feminino) e do sal (neutro), estando o último de costas, representando o sacerdote que os benze. É a carta dos anúncios e das revelações, dos chamados do espírito, e do despertar da consciência. O esotérico, que por sua própria natureza secreta se manteve oculto, aqui se faz visível e sai à luz, anunciando o advento de um mundo novo no qual a verdade será acessível a todos os seres, como era na origem. Símbolo de ritos e cerimônias, invertida significa a superstição e a idolatria.
DIREITA
INVERTIDA
Revelações - Anúncios
Despertar - Realização
Coisas esperadas que chegam
União - Realidade
Coisas ocultas
O oculto que aflora
Perfeição - Misticismo
Chamados - Sinais
Integridade - Ritos

Falso espiritualismo - Bulha
Ruídos - Propaganda - Escânda-
los - Dificuldade na realização
Impossibilidade de obter a união
Superstição - Fanfarronice
Espiritismo - Satanismo - "Ritos"
Obscurantismo - Idolatria - Fei-
tiçaria - Bruxaria - "Misticismo"
Malefícios - Fantasmas


 
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CABALA
 

A Cabala dá fundamental importância à aparente contradição entre a transcendência infinita de Deus e sua presença imanente na terra. Em sua transcendência, o Supremo não pode ser compreendido nem conhecido; sua imanência, sua criação deste mundo e sua habitação nele, é explicada pela Cabala, como estivemos vendo ao longo deste manual, por uma série de emanações sucessivas que constituem o cosmos e a Árvore da Vida Sefirótica, ou seja, os atributos divinos conformando o Universo.
Mas essas emanações, ensina a Cabala, foram por sua vez originadas pela Tsim Tsum. Para fazer lugar à criação, Deus se retira e deixa um espaço descoberto, no qual brilha um pequeno ponto luminoso, a concentração da luz divina que fará possível a primeira emanação, Kether, e dali no mais, o fluxo permanente das emanações criativas e reveladoras. Esta é a teoria (no sentido etimológico do termo) da Tsim Tsum cabalística. Uma "contração" no espaço interno da deidade, que ao se retirar deixa um resíduo de si (reshimu), que se converte por dilatação em sua força expansiva e criadora, e as emanações que dela se desprendem são as que explicam a criação inteira, o desdobramento do manifestado, e portanto a presença de Deus no Mundo, a imanência divina.


 
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ASTROLOGIA
 

Como já sabemos, há três signos zodiacais atribuídos a cada um dos elementos, ou seja: fogo, terra, ar, água. Assim ao fogo correspondem os signos de Áries, Leão e Sagitário; à terra, Touro, Virgem e Capricórnio; ao ar, Gêmeos, Libra e Aquário; e à água, Câncer, Escorpião e Peixes, como se pode apreciar na preciosa gravura logo abaixo.

Astrologia

Algumas especulações astrológicas e herméticas consideram que os signos zodiacais correspondentes a um elemento se dividem por sua vez em três tipos de energias ou cargas energéticas: positiva, negativa e neutra; assim, por exemplo, dos três signos zodiacais associados ao fogo, Áries seria o positivo, Leão o negativo ou passivo e Sagitário o neutro. Damos a seguir uma tabela dos signos, sua vinculação com o elemento e sua carga energética dentro desse mesmo elemento.

Áries Fogo Ativa Libra Ar Ativa
Touro Terra Passiva Escorpião Água Passiva
Gêmeos Ar Neutra Sagitário Fogo Neutra
Câncer Água Ativa Capricórnio Terra Ativa
Leão Fogo Passiva Aquário Ar Passiva
Virgem Terra Neutra Peixes Água Neutra
 

Ver-se-á então nos signos da terra que Touro é passivo com relação a Capricórnio, que é ativo, enquanto que Virgem aparece como neutro; igualmente nos de ar, Libra é ativo, Aquário é passivo e Gêmeos neutro. O mesmo nos de água aonde Câncer exerce como energia ativa, Escorpião como passiva e Peixes como energia neutra.


 
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A CONFUSÃO ENTRE METAFÍSICA E ASCETISMO:
 

Muitas pessoas sofrem um pecado que é preciso esclarecer, que pode ser a raiz de muitíssimos outros males, e que, inclusive, seja-lhes um impedimento para sua realização. Este equívoco trata-se da tremenda limitação de compreender o sagrado tão só como santidade, e portanto como algo inalcançável do qual só são dignos aqueles poucos escolhidos completamente fora de série, chamados "Santos" (sejam de uma ou de outra tradição, em particular se o demonstraram com fenômenos, milagres ou questões paranormais), com toda a carga devota, piedosa, beata e supersticiosa que essa idéia traz aparelhada. Estes Santos ou santarrões –e melhor seria se fossem ascetas seriam os autênticos "mestres" e não os sábios ou os guerreiros e menos ainda os artistas ou comerciantes, que certamente são apreciados, e até respeitados, mas aos quais não lhes dá uma categoria mais que secundária quase profana pelo fato de que, em última instância, estas pessoas às quais estamos nos referindo associam "espiritualidade" exclusivamente com "santidade", e até com castidade e outras coisas piores, ou seja: com o "religioso" e com o "moral", e não com o metafísico.
Quer-se deixar assentado que as vias de realização espiritual são várias, e distintos os caminhos que a ela levam. E não só são diferentes as formas tradicionais mas também dentro de cada uma delas há caminhos diferentes de iniciação. Este manual nos dá numerosos exemplos disso. O que interessa é a realização do Conhecimento e a obtenção da Sabedoria, o que não exclui o emocional, nem nenhuma outra experiência encaminhada a esse fim, e tampouco se opõe ao "religioso", e menos ainda ao moral, sempre e quando estes conceitos não pretendam usurpar o território do metafísico e tratar de reduzi-lo, no melhor dos casos, a um mero "misticismo" e, no pior, a uma moral baseada em certas normas de conduta convencionais que são julgadas oficialmente como "boas". Normas que dariam sua aprovação hipotética ao que se deve entender por sagrado de acordo a parâmetros que esta fixa, baseada na dissimulação derivada do engano de pretender conhecer o sagrado, quando na realidade ele é suplantado pelo religioso e pelo moral e, por desconhecimento, identificado sempre com a "santidade" ou com o "ascetismo", os quais são apenas alguns dos caminhos, quando o são, na viagem do Conhecimento.

100
TARÔ
 

Tarô - O Mundo

XXI — O MUNDO: Esta é a carta do mundo novo que desce do céu à terra (ver Apocalipse XXI). Todo o ciclo concluiu e a obra criacional foi finalmente coroada. Uma mulher, que faz com suas pernas o sinal da cruz, encontra-se rodeada de uma grinalda e de quatro figuras nas esquinas, que representam aos evangelistas, e dos elementos e signos zodiacais que lhes correspondem. O touro é o elemento terra e o signo astrológico de Touro; o homem -ou anjo- é o ar e o de Aquário; a águia, a água e Escorpião; e finalmente o leão, o fogo e Leão. O umbigo da mulher é o omphalos do mundo, quintessência, centro e síntese de toda a criação. Assim como esta carta direita é extremamente favorável, em sentido invertido é muito adversa, indicando as energias próprias do mundo velho e as forças contrárias que nos impedem a realização.
DIREITA
INVERTIDA
Fim de todo o ciclo – Meta
Coroação da obra
Êxtase - Glória
Segurança - Apoteose
Perfeição
Recompensa - Êxito completo
Sentido - Verticalidade
Outro mundo
Circunstâncias favoráveis
Irredutibilidade - Centro
Síntese - Boas notícias
Chegada a bom termo

Impossibilidade de chegar à
meta - Adversidade - Forças
contrárias - Desorientação
Falta de iniciativa
Impossibilidade fatal
Projetos que nunca se
realizam - Caminho equivocado
Mundo velho
Multiplicidade - Indisposição
Acontecimentos
desagradáveis - Detenção
Trocar-se por ninharias 


 
101
OS CICLOS E OS RITMOS
 

Pusemos ênfase reiteradamente na necessidade de perceber o tempo não em forma linear –que é a ordinária– mas sim de modo circular, ou cíclico, que nos permita ampliar nossa visão. Ainda mais, recomendamos simbolizá-lo em forma de espira, ou como uma dupla espiral, que nos faça perceber seu movimento do centro à periferia, e desta novamente à unidade. As tradições antigas assim conceberam o universo: como o resultado de uma "explosão" (produzida por um som ou verbo) de uma minúscula partícula de energia, que continha dentro de si todas as possibilidades latentes desse universo. A partir desse fato original, o mundo se expande até seus próprios limites, chegando a um ponto em que finalmente "o tempo se detém" para empreender um percurso em sentido inverso, contraindo-se, em busca novamente da origem central, do qual "explode" novamente. Na verdade, da perspectiva desse mesmo centro, que é eterno, esse duplo movimento é simultâneo e sempre presente, e é nesse ponto onde devemos tratar de nos localizar quando fizermos nossas meditações a respeito.
O nascimento e a expansão até chegar ao limite, e seu retorno ou contração na origem, também percebida como uma morte ou novo nascimento, é uma lei natural que regula não só o universo como um todo, mas também qualquer ser ou manifestação particular. A célula, a molécula, cada entidade dos variados gêneros da natureza, o homem, as civilizações, a terra, o sistema solar, a galáxia etc., são uma unidade em perpétua harmonia e ritmo. Cada qual em sua própria dimensão vive ciclos quaternários que se expressam claramente nas fases do dia e da lua, as estações do ano, as etapas da vida do homem, dos animais e das plantas, todos os ritmos da natureza e da história, e, em termos mais amplos, os do cosmos, no qual os antigos puderam conceber –e calcular– as grandes eras.
Os ciclos astronômicos, como sabemos, são enormes; mas dentro desses ciclos estão inseridos outros menores, que por sua vez contêm outros, e assim sucessivamente, até chegar aos menores. Veremos, logo, dois destes períodos que tomaremos como "módulo" para entrar no tema do que a tradição chamou "as quatro idades da humanidade".


 
102
ANGEOLOGIA  I
 

É pela intermediação Angélica que o Absoluto se nos faz visível. "A Deus, ninguém lhe viu jamais" diz o texto sagrado; mas há um rosto que Deus mostra ao homem e esse é o Anjo da Face no qual repousa o Nome Divino Supremo.
Os Anjos são o suporte dos Nomes do Inominável. São Deus e ao mesmo tempo são cognoscíveis; habitam, ou são, as fronteiras entre o visível e o invisível, e é por isso que lhes chama mensageiros (em hebreu Malakh).
O mundo angélico é 'Deus em função'; Deus como sujeito ativo. A criatividade divina se manifesta por seu intermédio, determinando a diversificação dos seres que, sem se separarem de Deus, garantem a presença do Divino na terra (Shekhinah). É por isso que sua função é teofânica.
E assim como a Geometria descreve a 'ordem da terra', a 'ordem celeste' está constituída pelo mundo angélico e sua estrutura invisível governada pelo Metatron.
Proporções geométricas e harmonias musicais novas (equilíbrios e conjuntos de significados) são as primeiras manifestações perceptíveis ao homem que toma contato com seu ser essencial: com seu anjo. Um Anjo é a realidade essencial de qualquer ser, ou seja, seu 'sendo' em seu grau mais elevado; e é por isso que se pode falar do anjo de uma paisagem ou de qualquer obra criativa. "Teu Senhor Divino e pessoal, é teu Anjo pelo qual Deus te fala de boca para ouvido"; é também o nome próprio e o 'aroma', a 'melodia' pessoal.
Os Arcanjos, como arquétipos que são, habitam o mundo beriyáhtico (ou plano da Criação) no qual se desenvolve o primeiro capítulo do Gênesis. A denominação de 'anjo', embora seja genérica, dá-se aos espíritos revestidos de roupagem formal que habitam o plano de Yetsirah (ou Mundo das Formações). 
Os quatro arcanjos que são mencionados costumeiramente (Miguel, Rafael, Gabriel e Uriel) surgem de e são mobilizados pelo Verbo criador, para levar a cabo o desdobramento da palavra nos quatro mundos que fluem das quatro letras do nome de YHVH, e mantêm igualmente guardados os quatro pontos cardeais ou "quatro campos da Shekhinah".


 
103
A TRADIÇÃO UNÂNIME:
 

Muitas vezes o leitor, com o passar do Programa, encontrou-se com a idéia de uma Tradição Unânime e Universal que, manifestando-se por meio das culturas e civilizações, adquire distintos modos e conforma diferentes historias particulares, apesar de que, e além da dissimilitude de seus aspectos e de uma leitura literal e chã dos mesmos, encontra-se uma identidade essencial. Isso se deve a que essa Tradição Universal e Unânime, que se apresenta como algo anterior e horizontal na história, é desde outro ponto de vista algo vertical e arquetípico, que existiu e existirá para sempre, ou seja, como algo a-histórico. Nessa ordem de realidades, a Tradição estará viva perenemente, pois se acha entretecida na própria trama da vida e é consubstancial com o homem, amém das distintas roupagens em que se expressa, de acordo às diferentes coordenadas e variáveis de tempo e lugar.
Um dos exemplos mais nítidos desta "coincidência" é a correlação macro-microcosmo, quer dizer, a inversão (exterior-interior) e conjunção indissolúvel sempre presente entre o homem e o mundo, sustentada por todas as tradições.
Esta perspectiva e convicção, que faz do homem um pequeno todo, um reflexo das energias divinas, manifesta-se também ao longo de seu organismo físico, recipiendário e contentor das emanações cósmicas, que se encontram potencialmente vivas em seu espaço corporal. Entretanto, deverá ter presente que as distintas formas tradicionais, ao nos falarem destas correspondências, não se estarão referindo exclusivamente ao corpo humano em seu nível mais denso e elementar, mas sim aos quatro planos e leituras em que se dividem todos os seres e coisas existentes, dos quais o mero organismo físico, sua saúde e sua musculatura, é a parte mais periférica e superficial e, portanto, quase um objeto de culto da extraviada mentalidade contemporânea.


 
104
TARÔ
 

Tarô - O Louco

O LOUCO: É uma carta que não tem número, mas se lhe atribui o 0 ou o 22, representando o princípio e o fim. Origem do curinga ou Joker, serve de vínculo tanto dos Arcanos Maiores entre si, como entre estes e os Arcanos Menores. Desprendido de todas suas posses, leva unicamente uma pequena mochila com seus instrumentos mágicos, e um bastão ou báculo, que lhe serve de sustento e equilíbrio, assim como de união entre a terra e o céu. Caminha à borda de um abismo, e um cão -que representa os perigos- espreita-o; mas ele vai crédulo no Espírito, como um menino ou um "primitivo" em estado de inocência, mantendo a abertura de sua mente e de seu coração a possibilidades indefinidas, recebendo assim os eflúvios celestes. O louco não tem razão, nem pretende demonstrá-la; embora esteja claro que não se trata de um estado patológico mas sim de uma loucura de amor à Vida e ao Conhecimento.
DIREITA
INVERTIDA
Possibilidades indefinidas
Inocência - Capacidade de
assombro - Caminho
Peregrinação - Aventura
Desprendimento - Desapego
Busca do
conhecimento - Busca
da verdade - Movimento
Abertura da mente
Busca do
milagroso

Eterno retorno
Inconsciência - Multiplicidade
Caminhante sem rumo - Andar
sem sentido - Sensibilidade
adormecida - Anestesia
Sonho - Apegos - Ataduras
Pessoa adormecida
Auto-engano - Infantilidade
Acreditar-se qualquer conto
Viagem sem sentido
e sem meta


 
105
ARITMOSOFIA
 

A aritmética tradicional prestava grande importância aos números "proporcionais", quer dizer, a aquelas cifras que os caracterizavam, sem importar, salvo de forma secundária, o agregado de um ou mais zeros. Assim os números 26.000, 2.600, 260 e 26, sendo o primeiro deles a quantidade "arredondada" correspondente à precessão dos equinócios (ver neste Módulo, N.º 54), cuja metade é 13.000, ou seja, a quantidade de milhares de anos do Grande Ano Caldeu e Grego. Quanto a 260, esta é a cifra do calendário ritual centro-americano; com respeito aos 26, recordaremos que este número é a soma das letras Iod = 10, = 5, Vau = 6, e = 5, componentes do sagrado Tetragramaton hebreu IHVH (o nome do Iahvé, ou Iahveh equivalente ao do Jehová ou Jehovah), nome que por respeito, ou seja por temor de Deus, não se pode pronunciar, a não ser tão somente se escrever, de acordo com a tradição cabalística.
De outro lado, e sempre com referência a estes números "proporcionais", assinalaremos que multiplicar por cinco é o mesmo que dividir por dois. Ex.: O número vinte e cinco mil novecentos e vinte (correspondente aos anos exatos da precessão equinocial) dividido entre dois, resulta doze mil novecentos e sessenta (25.920 ÷ 2 = 12.960); multiplicado por cinco resulta cento e vinte e nove mil e seiscentos (25.920 x 5 = 129.600). Só há um zero de mais. Inversamente, multiplicar por dois é igual a dividir entre cinco: (25.920 x 2 = 51.840); (25.920 ÷ 5 = 5.184). Aqui a diferença é um zero tirado à cifra-raiz numérica.
Queremos dar um exemplo de trabalho numérico, partindo da base de que se entende que os números são sagrados e portanto nada tem que arbitrário neles, nem tampouco nas operações que com eles se efetuam, que produzem às vezes resultados que assombram, os que a mente primitiva ou tradicional vive como mágicos, ou carregados de uma energia especial por algum motivo. Isso se deve a que, de acordo a essa mentalidade, tudo no universo é solidário e está unido por uma série de relações, às vezes invisíveis, pela qual nada tem que "casual" neste mundo.
Exemplo: a prática mais simples a observar referida ao expresso anteriormente é, sem dúvida, uma comprovação geométrica, ou seja: que o raio de um círculo divide à circunferência, sempre, em seis partes iguais. Imagine o que é para a mentalidade tradicional esta comprovação efetuada com uma simples corda com a qual se risca a circunferência, cuja longitude está contida seis vezes exatas no perímetro esboçado. Sem dúvida isto obedece a uma realidade mágica, ou melhor, metafísica, e tem uma razão profunda de ser, e não são simples dados sem nenhum sentido. Este fato é excepcional para o primitivo e esta comprovação assombrosa aparece carregada de significados.
Podemos agora fazer uns exercícios numéricos, só com o ânimo de mostrar alguns aspectos curiosos ou surpreendentes da cábala numérica, aritmosofia ou numerologia: se ao chamado número vinte e cinco mil novecentos e vinte o dividimos entre dois, obtemos o doze mil novecentos e sessenta (25.920 ÷ 2 = 12.960). Se a esse mesmo número o dividimos por cinco obtemos o cinco mil cento e oitenta e quatro (25.920 ÷ 5 = 5.184). E se somarmos este número com o mil duzentos e noventa e seis (proporcional do doze mil novecentos e sessenta) obteremos o seis mil quatrocentos e oitenta (5.184 + 1.296 = 6.480). Se a esse resultado o dividimos por cinco nos dá OH surpresa!, Novamente o mil duzentos e noventa e seis (6.480 ÷ 5 = 1.296). Mas o curioso deste exemplo é que o número seis mil quatrocentos e oitenta é proporcional aos sessenta e quatro mil e oitocentos, que segundo a tradição hindu é o número correspondente ao grande ciclo de um Manvántara, que se subdivide em quatro subciclos relacionados proporcionalmente com as quatro idades da humanidade: a de ouro dura 25.920 anos, ou seja, a cifra da precessão equinocial ou o "ano" da terra; a segunda, ou de prata, dura 19.440 anos; a terceira de bronze, 12.960; e a última, de ferro ou Kali Trampa, 6.480 anos. É interessante observar que esta proporção numérica corresponde à da Tetraktys pitagórica: 4 + 3 + 2 + 1, o que por certo dá 10 de resultado.


 
106
ASTROLOGIA
 

No N.º 84 deste mesmo Módulo, dávamos a correspondência dos signos zodiacais com respeito aos quatro elementos, e ao mesmo tempo a carga energética que cada um deles possui em relação aos outros dois signos com os que compartilha dito elemento.
Queremos agora adicionar uma tabela de origem medieval onde se associam os signos zodiacais com as características de determinadas pedras presentes na inteira natureza. Desejamos destacar assim a assimilação tradicional entre a Astrologia e a Alquimia, e recordar que os metais e as pedras são a maturação das energias dos astros e estrelas sobre a face da terra, e Analogicamente compartilham as mesmas propriedades e características.

Quente e seca 
Fria e seca 
Quente e úmida 
Fria e úmida 
Quente e seca 
Fria e seca 
Quente e úmida 
Fria e úmida 
Quente e seca 
Fria e seca 
Quente e úmida 
Fria e úmida  
pedras de Áries
pedras de Touro
pedras de Gêmeos
pedras de Câncer
pedras de Leão
pedras de Virgem
pedras de Libra
pedras do Escorpião
pedras de Sagitário
pedras de Capricórnio
pedras de Aquário
pedras de Peixes
Assim por exemplo, ao signo de Escorpião correspondem trinta pedras de características frio-úmidas, cada uma em relação com um grau desse signo e com uma estrela especial que tem poder sobre ela. Igualmente é muito importante o planeta que rege o signo, neste caso Marte, como característica energética fundamental de todas as pedras frias e úmidas associadas a Escorpião.

Escorpião
107
TARÔ: INDICAÇÕES PARA SEU USO
 

As cartas se batem, ou se embaralham, sobre a mesa com ambas as mãos, deslocando-as com movimento circular, preferivelmente da direita para a esquerda, como se escreve o alfabeto hebraico (isto deve ser feito assim para que se mesclem umas com as outras, direitas e invertidas).
As cartas devem ser cortadas, sempre, com a mão esquerda, conforme é costume.
As cartas têm que ser tiradas do maço da parte de cima, e colocadas sobre a mesa. Ao abrí-las, dever-se-á ter a precaução de o fazer virando-as verticalmente (pegando-a, para isso, por seu extremo mais afastado) e levando a carta para você. Este ponto é particularmente importante porque, conforme saiam as cartas nas tiragens –quer dizer, direita ou invertida– seus significados variam completamente posto que se acham invertidos entre si. Deve se considerar que a carta está direita ou invertida, de acordo a como se ache com relação ao que lê a tiragem de cartas.
Envolva seu TARÔ em um pano de seda da cor de sua preferência, e dedique uma caixa especial de madeira para guardá-lo nela.
Acreditamos que você já tem a informação necessária para começar a praticar este maravilhoso "jogo". Entretanto, antes de começar a explicar as primeiras tiragens, queremos acrescentar algumas idéias e recomendações que nos serão úteis para sua melhor compreensão, e conseguir dele maior proveito. Em primeiro lugar, recordemos que o TARÔ, como todos os oráculos sagrados, foi desenhado através de símbolos que expressam uma doutrina cosmogônica; por essa razão, recomenda-se utilizá-lo fundamentalmente para realizar consultas doutrinais, e só em modo secundário para fazer perguntas de ordem pessoal, as quais, de todas as maneiras, serão respondidas. Sugerimos também, muito especialmente conseguir uma boa versão do TARÔ. Nós utilizamos, como já se viu, o TARÔ de Marselha, e este é o que recomendamos em primeiro lugar. Ocorre com todos os livros sagrados que, algumas vezes, foram "traduzidos" com graves enganos e sérias tergiversações, que em ocasiões até invertem o sentido original da escritura. O mesmo aconteceu com o TARÔ, e freqüentemente nos encontramos com certas versões que mais bem parecem ter sido realizadas para confundir, muitas das quais levam implícitas "segundas intenções", quando não são o produto de meros fins comerciais.
É muito importante não se afastar em nenhum momento dos Princípios que se encontram implícitos nas lâminas; às vezes, temos a tendência de ficar no sentido preditivo dos oráculos, e nos esquecermos a origem de seus símbolos. Para isto, é recomendável recordar constantemente os significados numéricos, geométricos, cabalísticos, astrológicos, etc., de cada carta, o que nos permitirá ter uma compreensão mais cabal deste "Livro". Todos os símbolos sagrados transmitem também as energias dos sábios e homens de conhecimento que neles meditaram, o que poderemos comprovar com a experiência.
Em muitas escolas que utilizaram o TARÔ como veículo iniciático, costuma-se conhecer primeiro os vinte e dois Arcanos Maiores, antes de começar a jogar com os Menores e as Cartas da Corte. Para começar, jogue só com os vinte e dois Maiores. Não utilize as outras cinqüenta e seis lâminas até que esteja seguro de ser apto para isso.

PREPARAÇÃO
É recomendável guardar o TARÔ –e todos os objetos e livros sagrados– em um lugar escolhido, fora do alcance dos profanos. É ideal, se você tiver, uma mesa especial para lê-lo –redonda ou quadrada– e que possa cobri-la com um pano que lhe facilite o embaralhar as cartas.
É também muito conveniente que você realize um rito –ainda que seja uma simples cerimônia– quando receber pela primeira vez seu TARÔ. Espere para abri-lo em um dia de lua nova, ou de lua cheia, e faça-o preferivelmente em horas da noite. Acenda uma vela (fogo), um incenso (ar) e ponha uma taça com água. O maço de cartas e a mesa simbolizarão a terra. Tire as cartas do pacote em que venham guardadas, e logo siga os seguintes passos:
a) Limpeza das cartas: tome todo o conjunto sustentando-o firmemente entre os dedos polegares e índice da mão direita, e sacuda-o com força por sete vezes seguidas (em forma similar a como se sacode um termômetro para baixá-lo), pronunciando em voz alta os nomes dos sete planetas. Pode seguir a ordem dos dias da semana: Lua, Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus, Saturno e o Sol.
b) Concentração e visualização: uma vez limpa as cartas, passe-as uma a uma, concentrando-se em todas as lâminas por um momento. Cada carta é um mandala e pode servir como suporte para a meditação.
Você já está preparado para realizar sua primeira tiragem. Siga os passos e recomendações que lhe demos, um a um, com atenção. Faça-o lenta e relaxadamente.
Em todas as ocasiões que você vá consultar o TARÔ, procure ter os objetos que lhe indicamos sobre a mesa. Também deve realizar a limpeza das cartas cada vez que vai se fazer uma nova consulta. Como no princípio só se utilizarão os vinte e dois Arcanos Maiores, guarde as restantes cinqüenta e seis lâminas em seu pacote. Nas próximas tiragens, unicamente faça a limpeza e a concentração com as primeiras vinte e duas. Antes de fazer uma nova tiragem, ponha sempre as 21 cartas numeradas em ordem de 1 a 21. A carta sem número, O Louco, coloca-se em primeiro ou em último lugar.
Pergunta: Já limpas as cartas, e depois de se haver concentrado em cada uma delas, junte-as todas e as ponha sobre a mesa. A pergunta feita ao TARÔ é muito importante, pois muitas vezes é ela que determina o nível da resposta. Ponha sua mão direita sobre o maço, procurando tocar as lâminas com as polpas dos dedos. Concentre-se bem e faça a pergunta clara e confidencialmente. Com segurança, o oráculo vai lhe responder –possivelmente, no princípio, a níveis inconscientes–, e esta resposta deverá ser aceita como solução ao que se pergunta. Se nas primeiras tiragens não compreende claramente o que tem o TARÔ para lhe dizer, não se preocupe. Com a prática entenderemos cada vez melhor e retificaremos nossos enganos de interpretação.
Como embaralhar: Uma vez formulada a pergunta, proceda a revolver as cartas em forma circular e da direita para a esquerda (como já lhe indicamos, contra os ponteiros do relógio). Embaralhe-as bem. Saiba que está transmitindo suas energias ao TARÔ, e que na verdade é de você mesmo de quem está saindo a resposta. Havendo-as já revolvido pela primeira vez, junte todas as cartas em um só maço e as ponha com as ilustrações para baixo sobre a mesa. Corte-as em três grupos com a mão esquerda e as junte de novo procurando que fiquem em posição diferente de como estavam antes de cortar. Faça o mesmo um total de três vezes, embaralhando e cortando cada vez. Logo depois de ter cortado e juntado as cartas pela terceira vez, ponha-as no centro da mesa. Você já está preparado para fazer a tiragem.
Tiradas ou tiragens: Até este ponto, a cerimônia é sempre a mesma. Procure repetí-la de igual forma, porque a reiteração do rito lhe outorgará cada vez maior força e vigor. Daqui em diante o que varia é a forma de colocar as cartas, ou seja, as diferentes tiragens ou tiradas. Há muitas maneiras de fazê-lo, e todas elas têm em sua estrutura figuras geométricas. Se dissemos que cada carta é um mandala, devemos mencionar que cada forma de as colocar em uma tiragem também o é.
Indicar-lhe-emos a seguir como fazer algumas tiragens, para que comece a praticar. Recorde que estes trabalhos estimulam a paciência e a perseverança. Estamos aprendendo uma nova linguagem com a qual, pouco a pouco, iremos nos familiarizando. De momento, abramos nosso coração e permitamos que o TARÔ nos transmita sua luz.

A TIRAGEM DA CRUZ
A tiragem da cruz é a mais simples de todas e por sua vez a mais sintética, e possivelmente a mais perfeita. É excelente para começar a aprender o TARÔ, e nos será sempre útil quando quisermos obter uma resposta clara e concisa.
1) Como se realiza a tiragem:
a) Coloque 4 cartas para baixo, fazendo uma cruz, pondo-as na ordem que se mostra, começando pela de cima.
b) Abra-as uma a uma, como lhe indicamos, virando a carta verticalmente e para você.
c) A carta central, ou quintessência, é obtida somando os números das quatro cartas que saíram. Se a soma der 22 ou menos, tire a carta que tenha o número resultante e ponha-a no centro da cruz, como se dirá. Se soma mais de 22, faça a redução numérica, obtendo assim a carta central. Se a soma desse, por exemplo, 68 (20+17+21+10 = 68 = 6+8 = 14), coloca-se a carta número 14 no meio. Se a carta "O Louco" –à que se atribui valor zero ou 22– sair entre as quatro primeiras, tomará por zero, ou seja, não se somará. Mas se a soma das quatro dá 22, deve-se pôr "O Louco" no meio.
d) A carta central se coloca direita ou invertida, segundo a posição das outras quatro cartas. Se a maioria (3 ou 4 cartas) está direita, coloca-se a quinta dessa maneira. Se a maioria sair invertida, assim se colocará a central. Se saírem duas direitas e duas invertidas, deverá colocar a quinta deitada horizontalmente e ler de ambas as maneiras.
Se a soma das quatro cartas desse por resultado o número de alguma que já tenha saído, isto significa que o oráculo se nega a responder. (Exemplo: se saíssem as carta números 7, 13, 11 e 3, a soma nos daria 34, que se reduz 3+4 = 7, e este número 7 já está fora). Neste caso junte as cartas, volte a fazer a pergunta, baralhe e corte uma vez mais, e tente de novo. Se chegar a se negar outra vez, prove uma última oportunidade. Se isto ocorrer por três vezes seguidas, indica que o oráculo se nega a responder definitivamente. Essa negativa já é uma resposta. Guarde seu TARÔ para outra ocasião.

2) Como se interpreta:
a) A carta da esquerda, que colocamos no número 2, indica as energias que se encontram favoráveis ao consulente; aquelas que lhe beneficiam e que lhe convém atrair.
b) A da direita (N° 4), assinala as energias que se acham em oposição e que deve temer e rechaçar. Acontece muito freqüentemente que uma carta invertida sai favorável, ou que uma direita apareça em posição contrária. Este é um dos paradoxos –tão próprios dos oráculos e livros sagrados– que devemos aprender a compreender. Salvar estas contradições é parte importante do trabalho.
c) A carta de cima (N° 1) é uma síntese das duas anteriores –tese e antítese– e se deve compreender relacionada com elas. Por sua vez, as duas primeiras serão mais claras à luz desta terceira.
d) A de baixo (N° 3) é o conselho que dá o TARÔ ao consulente a respeito da pergunta formulada. Também pode se dar o paradoxo de que, no conselho, saia uma carta invertida.
e) A carta do centro (N° 5) é a síntese de toda a resposta. Está influenciada pelas quatro exteriores e, por sua vez, exerce influência sobre elas.
Devemos nos acostumar a ler as cartas relacionando-as umas com outras, e não isoladamente. Também devemos saber que nem todos os significados dados a cada arcano são aplicáveis à totalidade das perguntas. Se assim fizéssemos, estaríamos realizando uma leitura literal que jamais nos permitiria captar o que o TARÔ nos está transmitindo. Embora convenha estudar, e até memorizar, as distintas acepções de cada uma das cartas, o mais importante é despertar pouco a pouco a intuição, para poder reconhecer a que estão se referindo. As significações que demos variam segundo a ocasião, ajustando-se à pergunta formulada, e de acordo às relações das cartas entre si. Pouco a pouco, captaremos o "sentido" dos arcanos, que está além da soma de seus significados. Na leitura do TARÔ nada deve ser considerado como "fixo". Uma carta, que em determinadas circunstância nos diz uma coisa, pode nos dizer algo distinto em diversas situação ou desde outro ponto de vista. O artista do TARÔ não simplifica nem reduz sua perspectiva.
Recordemos além que o TARÔ é tão somente um veículo, ao qual nunca deveremos confundir com a meta a que nos conduz. Também saibamos que as respostas destes oráculos não devem ser tomadas como um predeterminismo, nem devemos entender as indicações que obtenhamos para o futuro como algo que necessariamente ocorrerá. O TARÔ –como acontece também com a Astrologia e com os influxos planetários– dá-nos certas pautas a respeito das influências que as energias invisíveis exercem sobre nós. Possivelmente, o desconhecimento delas –ou sua simples negação, por ignorância– faz com que certamente nos determinem; mas o conhecê-las através do oráculo permite nos liberar daquelas que impedem nossos crescimento e realização espiritual, e aproveitar melhor as que nos beneficiam.

A TIRAGEM DO ARCO
A tiragem da cruz se refere sempre ao presente. Esta outra forma de colocar as cartas nos permite observar, além disso, o passado e o futuro. É chamada também "tiragem do sim e do não", porque as cartas que saem direitas são consideradas afirmativas, e as invertidas, negativas.
l) Como se realiza a tiragem:
Coloque as cartas, sempre para baixo, na ordem que se mostra:
2) Como se interpreta:
As três primeiras cartas se referem ao passado, sendo a N° l o passado mais remoto (a origem da situação pela qual se pergunta), a N° 2 o passado intermédio e a N° 3 o passado imediato, intimamente ligado com o presente. A N° 4 é o presente, síntese de toda a tiragem. E as três últimas se referirão ao futuro, da mesma maneira, isto é, a N° 5 ao imediato, a N° 6 ao intermédio e a N° 7 ao remoto.
Se a tiragem da cruz pode ser vista como uma radiografia ou uma fotografia do presente, esta deve ser lida mais horizontalmente, como se fora um filme cinematográfico em que uma imagem vai se sobrepondo à outra, sucessivamente, a anterior influenciando à seguinte, tal qual acontece com a ritualidade do carma.

A TIRAGEM DO ARCO E DA CRUZ
Você pode fazer as duas tiragens explicadas anteriormente de maneira simultânea, colocando-as na seguinte ordem. São lidas em interação umas com as outras:

TIRAGEM DA ESPIRAL

Esta tiragem leva esse nome pela ordem em que se colocam as cartas, tal como se pode observar no diagrama. Sua estrutura é o quadrado de 4, chamado também "quadrado mágico de Júpiter". Esta é uma forma muito completa de tirar as cartas, pois permite diversos modos de interpretação que podem ser feitos sucessiva ou simultaneamente.
Uma vez realizada a cerimônia, tal como se explicou, coloque as cartas na seguinte ordem:
As 12 primeiras cartas, que ficam colocadas na parte de fora do quadrado, indicam os aspectos mais exteriores da resposta; as cartas colocadas nos locais 13 a 16 se referem aos mais interiores e ocultos. Divida o quadrado geral em 4 pequenos quadrados de 4 cartas cada um, e interprete a resposta da seguinte maneira: a carta situada no posto 13, estará intimamente ligada com a 12, a 1 e a 2; a 14, com as 3, 4 e 5; a 15, com as 6, 7 e 8, e a 16 com as 9, 10 e 11. Isto quer dizer que as energias simbolizadas pelas cartas de dentro, influem nas de fora que, por sua vez, se vêem influenciadas por estas.
As cartas localizadas nas casas de 1 a 4 se referem ao passado, sendo a 1, ao mais remoto; a 2, ao intermédio; a 3, ao passado imediato, e a 4, ao ponto de intercessão com o presente, ao que também se referem as posições 5, 6 e 7. As numerada de 7 a 10 correspondem ao futuro, do mais imediato até o mais remoto. E as 11 e 12 constituem a síntese da tiragem, que freqüentemente é contraditória, pois saem cartas que indicam aspectos opostos e complementares da resposta.
Também soe fazer-se outra interpretação desta mesma tiragem, vendo nas 4 linhas horizontais da mesma aos 4 níveis ou planos do Árvore Sefirótica, assim: as casas 4, 3, 2 e 1 se referem ao Mundo de Atsiluth; as numeradas 5, 14, 13 e 12, a Beriyah; as 6, 15, 16 e 11, a Yetsirah; e, finalmente, as 7, 8, 9 e 10, a Asiyah.
Como vemos, a mesma tiragem nos pode servir para fazer uma interpretação no tempo sucessivo, e também para obter uma resposta do presente em profundidade. A esta tiragem, como as que lhe seguem, podem acrescentar os Arcanos Menores, à medida que se compreendam seus significados.

TIRAGEM ASTROLÓGICA
Esta tiragem tem uma estrutura similar à anterior, mas em forma circular, servindo, neste caso, como base o símbolo do Zodíaco. Soe empregar-se esta forma de colocar as cartas para investigar a respeito de um ciclo completo, seja pequeno, como um ciclo diário, ou maior, como o do ano, ou para observar ciclos históricos ou até ciclos cósmicos.
Alguns recomendam fazê-la no dia do aniversário de uma pessoa, ou no primeiro dia do ano, ou nos dias dos solstícios ou dos equinócios.
Embora neste caso a resposta se referirá às distintas influencias no tempo sucessivo, diz-se que todas as leituras do TARÔ têm que se referir sempre ao presente, vendo pois o passado e o futuro da perspectiva do agora.
Coloque as cartas na ordem que se indica logo a seguir, determinando previamente a magnitude do ciclo que quer investigar e o tempo ao qual se referirá cada uma das cartas:
Como na tiragem anterior, as 12 cartas que ficam colocadas fora se referem a aspectos exteriores, e as 5 de dentro aos mais interiores, estando igualmente a casa 13 ligada às numero 12, 1 e 2; o 14, às 3, 4 e 5; a 15, às 6, 7 e 8; e a 16, às 9, 10 e 11. Neste caso a carta 17 será a síntese da tiragem, e deverá ser lida no direito e no invertido, na mesma proporção em que tenham saído as outras 16 cartas, direitas ou invertidas.
Esta tiragem se presta também para fazer diversas especulações e cálculos referentes aos simbolismos astrológicos, atribuindo-se a cada uma das 12 cartas exteriores, os 12 signos zodiacais; as 4 cartas da cruz interior corresponderão aos solstícios e aos equinócios, e a 17 e última será o centro, síntese e quintessência imóvel da roda cósmica. Recorde-se que a esta tiragem podem ser adicionados Arcanos Menores, uma vez que se compreenda seu sentido.

A TIRAGEM DAS CASAS ASTROLÓGICAS
Assim como o zodíaco, em seu ciclo anual, divide-se em doze signos mensais, se o virmos em um ciclo diário, a roda zodiacal fará também um percurso aparente completo ao girar a Terra ao redor de seu próprio eixo. Alguns astrólogos consideram que, durante as vinte e quatro horas que seguem ao nascimento de uma pessoa, refletir-se-á toda sua vida. Para fazer as observações, dividem a roda do zodíaco em doze Casas e fazem corresponder duas horas a cada uma delas. Isto determinará o signo ascendente e descendente do indivíduo e diversos aspectos de sua personalidade.
Estas doze casas são:
I. Vita: é a casa do nascimento que indica as particularidades, tendências, talentos e potencialidades do indivíduo.
II. Lucrum: refere-se ao plano material, aos bens, riquezas e aquisições, assim como à alimentação e ao mundo físico.
III. Frates: casa dos irmãos, e também da educação, da instrução e da adaptação ao meio. Relaciona-se com viagens menores.
IV. Genitor: é a casa dos pais e das características herdadas do meio familiar e social. Refere-se também ao patriotismo e às sucessões.
V. Filii: esta casa está relacionada com os filhos, e em geral com o que o indivíduo produz, cria e engendra.
VI. Valetudo: casa dos súditos, dos escravos e dos animais domésticos, é também do trabalho, dos deveres e das obrigações.
VII. Uxor: refere-se ao matrimônio, aos afetos e às uniões, e também às alianças e às associações.
VIII. Mors: é a casa da morte e das grandes transformações. É também da decomposição e da putrefação.
IX. Peregrinationes: casa das peregrinações e grandes viagens, está relacionada com a espiritualidade, com a filosofia, a religião e o mistério.
X. Regnum, Honores: relaciona-se com os objetivos, as dignidades e a glória, assim como com a profissão, as ambições e as recompensas.
XI. Amici benefacta: casa dos amigos, benfeitores e admiradores.
XII. Inimici: nesta casa se vêem os inimigos ocultos, a prisão, o exílio, assim como as enfermidades, debilidades e doenças.

Queremos apresentar a seguir uma tiragem diretamente vinculada com estas casas ou mansões astrológicas.
Depois de realizar os ritos próprios de qualquer tiragem já explicados, coloque doze cartas intimamente vinculadas com as casas zodiacais, nos seguintes postos, desta forma:
Deve ler o significado de cada carta que sai relacionado com os sentidos atribuídos a cada casa. Ou seja, que têm que se combinar, para a interpretação, os símbolos das cartas em relação às doze mansões, que permanecem fixas e inalteráveis quanto a seus valores. Podem-se mesclar os arcanos maiores e os menores nesta tiragem, assim como utilizar exclusivamente os maiores.

A TIRAGEM DA ÁRVORE DA VIDA
Esta tiragem é especialmente adequada para estabelecer relações, principalmente se já tivemos práticas com a Árvore Sefirótica e estamos bem familiarizados com ela.
Coloque as cartas na ordem que se indica, que é o mesmo da Árvore da Vida da Cabala:

Observe as diferentes cartas que tenham saído em cada uma das sefiroth, e estabeleça as correspondências. Isto lhe permitirá inter-relacionar umas com as outras, pois cada carta, como vimos, corresponde também a uma delas [N.T. sephirah], e seu simbolismo nos ajudará a compreendê-la melhor.
Costuma-se realizar esta tiragem para fazer uma análise do momento presente e, muito freqüentemente, para nos observar internamente nas diferentes fases de nosso processo. Para esses efeitos, divida a Árvore nos quatro planos –conforme o vimos– e relacione especialmente as cartas que se encontram em cada um deles, o que lhe permitirá conhecer sua realidade oculta nos diversos níveis do ser.
Podem ser tirados, também, dois percursos da Árvore da Vida, um de cima para baixo e o outro de baixo para cima, observando neste caso as energias descendentes e ascendentes.
Também, se a pergunta assim o requerer, pode se corresponder uma destas Árvores ao passado e a outra ao futuro, embora, como sempre, vendo-as da perspectiva do presente.
As cartas do TARÔ podem ser visualizadas, conforme o comprovamos, desde muito diferentes pontos de vista. Como elas expressam, a sua maneira, uma cosmogonia, constituem um pantáculo, ou pequeno todo, capaz de nos fazer compreender o macro e o microcósmico expressando-se em uma perfeita harmonia. O dito sobre o TARÔ, deve ser entendido –como já o terá observado o leitor atento– em relação com toda a informação que demos. Os temas tratados constituem uma unidade, e estão entretecidos de tal maneira, que as mesmas idéias vão sendo expressas através de diversos símbolos, obtendo-se sua compreensão e vivência pela reiteração ritual que com o estudo, a meditação e as práticas que sugerimos, vai realizando no interior da consciência de cada um. As cartas cumprem a função de evocar pensamentos e relações que despertam a inteligência, e também a de nos recordar –graças ao estímulo visual do símbolo– as idéias que estão nelas contidas. Fizemos especial ênfase nas relações dos arcanos com a Árvore da Vida Sefirótica, pois esta constitui sua estrutura essencial e invisível, e nos permite conectar as cartas com os princípios da Numerologia, da Astrologia e da Alquimia, e todas as demais artes e ciências sagradas, gnósticas e herméticas, como uma unidade, em forma global.
Recordemos que o TARÔ é um livro sagrado, e que além disso é um oráculo e, à vez um magnífico conselheiro. É por meio da prática, e sempre tratando de encará-lo no nível mais alto, que descobriremos suas múltiplas virtudes. As idéias e relações expressas a respeito de cada um dos arcanos, são só chaves que o estudante deverá utilizar por si mesmo, abrindo com elas as portas do entendimento. Sendo suas possibilidades virtualmente ilimitadas, aos interessados corresponderá a tarefa de desenvolvê-las e de ampliá-las, o que redundará –estamos seguros– numa melhor compreensão e realização do trabalho interno que toca a cada um, segundo suas possibilidades. "Conhece-te a ti mesmo".


 
108
MEMORANDUM
 

A disciplina fortalece o caráter e preludia a fecundação e a realização espiritual. O abandono do meio e a mais profunda solidão se fazem necessários, até se tornarem imprescindíveis em determinados momentos, onde o silêncio é autêntico refúgio e o isolamento, protetor castelo interior. Para isso, então, já se advertiu a impostura de considerar à solidão como um tabu angustiante, ou como a ausência de uma "felicidade" (tão inexistente como cobiçada); mas, pelo contrário, [deve se considerar a solidão] como a predecessora de um mundo encantado de imagens mágicas, de sombras e luzes da memória do universo, refletidas no cenário da consciência. (Tudo isto é algo novo, ou simplesmente estava aqui e não fomos capazes de vê-lo porque tínhamos uma descrição diferente e equivocada da vida?).
Mas, a par de descobrir estas maravilhas, o aprendiz observará que o meio tratará de marginalizá-lo, talvez em proporção direta com seu interesse em fazer partícipes aos outros, indiscriminadamente, do real conteúdo espiritual de suas novas experiências, achados e conhecimentos. Motivo pelo que o silêncio, não só como disciplina, mas como norma efetiva e prática de comportamento, foi sempre recomendado no trabalho hermético. Isto choca com a necessidade de expressar a doutrina na época em que vivemos, onde se converteu em um algo quase imprescindível dada a ausência de vozes que se elevam para fazer conhecer, difundir e defender a ciência sagrada, virtualmente esquecida pelo homem de hoje, e desconhecida pela maior parte dos contemporâneos.
Por outra parte deve se destacar que às vezes os neófitos, sumidos em seus profundos trabalhos de realização metafísica, mágica e espiritual, esquecem o exilados que estão nesta terra, e podem chegar a acreditar que os demais, que todo mundo, participa da realidade de suas crenças, quando isto obviamente não é assim mas, pelo contrário, muitas das coisas ligadas à Tradição são olhadas pelo mundo moderno com um ódio revulsivo, uma repugnância irracional, ou um desprezo olímpico, tão exatamente invertidas estão as coisas entre o mundo sagrado e o profano, entre o Conhecimento e a ignorância.


 

Fim do Módulo II




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